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Subsídio para o 2º Domingo do Tempo da Páscoa

por João Romanini

Subsídios Exegéticos para a Liturgia Dominical - Ano B

Foto: Divulgação

 

 

2º Domingo do Tempo da Páscoa

Dia: 11 de abril de 2021

Primeira Leitura: At 4,32-35

Salmo: 117,1-2.16ab-18.22-24

Segunda Leitura: 1Jo 5,1-6

Evangelho: Jo 20,19-31

 

Evangelho

O texto deve ser lido dentro do capítulo 20, pois todo ele é perpassado por uma cristologia e eclesiologia joanina: a ressurreição, a comunidade dos discípulos que se reúne no primeiro dia (20,1.19.26) e a missão, para a qual se requer a fé que se obtém ao participar da comunidade.

Pode-se dividir o texto em três partes: 1) a experiência do Ressuscitado (vv.19-23); 2) Tomé: a crise de fé (vv.24-29); epílogo (vv.30-31).

1) A experiência do Ressuscitado (19-23.26). A comunidade se reunia aos domingos (1ºdia) de tarde para a celebração, embora ainda não tivesse uma fé madura, pois por medo, mantinha as portas fechadas. É neste ambiente reunido que o Ressuscitado se manifesta e confirma a fé dos discípulos. Agora a sua presença extrapola as leis da física, pois entra com as portas fechadas, mas ainda é o mesmo e para provar isto, mostra as chagas. O Ressuscitado é o crucificado redivivo. Ele deseja a paz, como prometera antes da paixão (Jo 14.27) e os discípulos se alegram (cf. Jo 15,11;16,20-24;17,13). Uma vez que a fé está confirmada, começa a missão: “como Pai me enviou, eu vos envio”. A igreja continua a obra do Pai que se manifesta em seu Filho. Para tanto, os discípulos são batizados no Espírito (sopro que lembra a criação – Gn 2,7; Sb 15,11; Ez 37). O Espírito vem de Jesus (cf. Jo 7,37-39; 19,34) e recria a comunidade dos apóstolos para a missão. Eles recebem, o poder de perdoar e reter os pecados, que é a continuação da missão do cordeiro que tira o pecado do mundo (Jo 1.29; Jr 31,34). Trata-se de pregar e denunciar, mas também de receber de volta aquelas pessoas que se afastaram de Jesus, o que na concepção joanina é o pecado por excelência. Perdoar os pecados é anunciar Jesus, pois quem nele crê, não é julgado e reter os pecados é declarar que alguém ainda não possui a fé para receber a graça de Jesus através da igreja.

2) Tomé e a crise de fé (24-29). Todos os discípulos tiveram crise de fé (Mt 28,17; Mc 16,14; Lc 24,38). Em Jo 20,24-29, como também nos sinóticos, está um retrato falado das comunidades cristãs do período pós-pascal, que não conheceram o Jesus histórico. Muitos se questionavam: ele de fato está vivo? João centra as dúvidas das comunidades na pessoa de Tomé. Através do relato, mostra que a experiência do Ressuscitado é feita pelo testemunho da comunidade que se reúne no primeiro dia da semana: domingo vv.19.26). Estar em comunidade, no primeiro dia é fundamental para crer na ressurreição. Tomé não estava na comunidade, por isto teve de esperar mais oito dias (v.26), portanto, novamente o primeiro dia e estar com a comunidade, para enfim, fazer a experiência de fé que os demais já haviam feito antes. Aqui convém pensar nos leitores de João, dos anos 90. O texto quer conscientizar que é preciso crer sem ter visto, mas para isto, duas coisas são necessárias: a comunidade que celebra no primeiro dia e o testemunho desta mesma comunidade. É neste ambiente que se encontra o Ressuscitado. É então que Tomé faz a grande profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus”. Na comunidade celebrativa se professa Jesus como o Senhor e Deus (cf. Jo 1,1.18). O título duplo “Senhor e Deus” vem de “Javé Elohim” (2Sm 7,28; 1Rs 18,39). As comunidades cristãs devem passar do ver, para o crer sem ter visto. A verdadeira fé já não mais se baseia nas relações físicas, pois estas, são somente sinais que adquirem sentido, apenas com a fé. Sem a fé, os sinais são vazios.

3) Epílogo (30-31). Provavelmente a conclusão original da obra de João, antes do acréscimo do capítulo 21. Apresenta a ação de Jesus, para que a comunidade creia e receba a vida eterna.

 

Relação com as outras leituras

A fé no Ressuscitado não era apenas uma formulação dogmática. Ela era encarnada e transformava os discípulos que relativizavam tudo para tornar real a obra de Jesus, colocando tudo em comum (At 4,32ss). Esta fé já é a vitória e produz o amor ao próximo. Os neo-convertidos, pela fé em Cristo, amavam a Deus e ao próximo. Portanto, a fé no Ressuscitado transforma as relações humanas (1Jo 5,1-5).

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF

Dr. Bruno Glaab – Me. Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

 

 

 

 

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