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Subsídios Exegéticos Domingo de Ramos

por João Romanini

Liturgia Dominical - Ano B - 28 de março de 2021

Foto: Divulgação

Domingo de Ramos

Dia: 28 de março de 2021

Primeira Leitura: Is 50,4-7

Salmo: 21,8-9.17-18a.19-20.23-24

Segunda Leitura: Fl 2,6-11

Evangelho: Mc 14, 1– 15,47; Mc 11,1-10

 

Mc 14,1—15,47

No domingo que antecede à Páscoa, lemos a história da Paixão de Jesus. Para as histórias da Paixão, nos quatro evangelhos, surpreende o fato que apareça um mesmo decurso dos acontecimentos, que vão da captura de Jesus ao interrogatório judaico, ao processo diante de Pilatos, à crucifixão, à morte em cruz, à sepultura até a descoberta do sepulcro vazio.

A Paixão em Mc está relacionada também temporalmente com o cômputo dos dias e com a passagem da noite para a manhã: dois dias antes da Páscoa, os chefes buscam uma razão para matar Jesus (14,1); no dia da preparação da páscoa são enviados à cidade dois discípulos (14,12); ao cair da tarde, chega Jesus com os Doze (14,17); ao canto do galo, Pedro renega o seu Mestre (14,72); pela manhã Jesus é entregue a Pilatos (15,1). Crucifixão e morte são colocadas cada uma em uma série de três horas (15,25.33s) e, à tarde, Jesus é sepultado (15,42). Ao início e ao final da Paixão aparecem a unção de Jesus da parte de uma mulher (14,3) e, respectivamente, a intenção de algumas mulheres ungirem o cadáver (16,1).

Uma outra característica dos relatos da Paixão é a frequência de precisas indicações de lugar. A cena se desenvolve, sobretudo, em Jerusalém, mas a unção acontece em Betânia, na casa de Simão, o leproso (14,3), a agonia e a captura no Getsêmani (14,32), a crucifixão sobre o Gólgota (15,22). Sabia-se, além  disso, onde era o lugar do sepulcro de Jesus.

À história da Paixão são relacionados diversos personagens. Aparecem, em primeiro plano, os já conhecidos membros do grupo de discípulos. Pensa-se a Pedro, que renega Jesus e Judas Iscariotes que o trai. Os Sumos Sacerdotes e os membros do Sinédrio da parte judaica e Pilatos da parte romana, são os atores principais alinhados contra Jesus. A esses se adicionam o centurião do pelotão de execução e os soldados, como também os servos e servas do sumo sacerdote. A acompanhar Jesus pela estrada do seu sofrimento estão Simão Cirineu (15,21), Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago (15,40), outra mulheres (15,41), talvez, também, José de Arimateia (15,42s).

É característica a influência de citações veterotestamentárias que são tomadas dos Salmos que tratam do Servo Sofredor (em particular o Sl 21). Se, por um lado, desse modo, vem indicada uma precisa diretriz para a interpretação da Paixão de Jesus, por outro, o discurso vem completado na primeira parte da narrativa da Paixão sublinhando seja que Jesus conhecia antecipadamente o sofrimento que o esperava, seja que ele naquela ocasião foi capaz de anunciar as coisas, em vez de ordená-las (14,7.13-15.18.20s.25.27s.30.41s).

Grandeza e humilhação, portanto, se encontram próximas uma da outra. Note-se a interpretação paulina associando o mistério da encarnação com a realidade da crucifixão em Fl 2,6-11.

A poderosa palavra de Jesus se cumpre do mesmo modo (14,72) que a palavra da Escritura que o Crucificado cita com seu grito de morte (15,34). O caminho de Jesus na estrada do sofrimento é um itinerário de solidão que atinge uma intensidade dramática envolvente.

Mc 11,1-10

O evangelho proclamado no início da celebração de Ramos manifesta uma orientação messiânica não somente na aclamação do povo, mas ainda pela deposição das vestes no caminho (2Rs 9,13). Mc apresenta uma história de Cristo, anunciando Jesus como Messias, fazendo referência ao Antigo Testamento.

Jerusalém é citada em primeiro lugar. Das duas grafias recorrentes na Escritura, Hierosolyma e Hierousalēm, Marcos usa sempre a primeira. Enquanto a segunda possui dignidade e tons sacros, a primeira forma (helenizada) é o termo profano usual para designar a cidade. A escolha de Mc não é casual, visto que Jerusalém é para ele a sede dos adversários de Jesus (3,22; 7,1), onde estes o matarão (10,32; 15,41). Tampouco é sem intenção se depois da primeira visita à cidade Jesus se retira (11,11). O relato acena ao fato que a cidade lhe pertence enquanto descendente de Davi, mas a mesma cidade lhe oporá recusa.

De Betfagé pouco sabemos com exatidão. Betânia é expressamente nomeada junto ao Monte das Oliveiras devido ao significado que este monte possui no AT como lugar de oração (Ez 11,23; 2Sm 15,32). Segundo Zc 14,4 no dia do juízo o Senhor se revelará sobre o Monte das Oliveiras e fenderá em dois o monte.

A tarefa misteriosa confiada aos dois discípulos (vers. 2-3) é compreendida a partir de Zc 9,9 e Gn 49,11. Segundo Zc 9,9s o rei messiânico cavalga um jumento e trará paz aos povos. A montaria amarrada é uma reminiscência de Gn 49,11, onde a bênção de Jacó sobre Judá menciona o surgimento daquele que possuirá o cetro de comando. O jumento escolhido para a tarefa de levar o Messias é adequado também porque ninguém ainda o montou. No judaísmo a integridade é o pressuposto para o uso dos animais na esfera religiosa e cultual. Assim, p. ex., segundo 1Sm 6,7 somente vacas de leite sobre as quais não tenha sido colocada canga podem puxar o carro da Arca da Aliança.

Com a tarefa dada aos discípulos, Jesus inicia o cumprimento daquilo que foi dito nas Escrituras a propósito do Messias, e anuncia, assim, que já na entrada da cidade ele se atém totalmente à vontade de Deus.

Mc faz referência ao Kyrios (Senhor) que necessita do jumento. Kyrios é um predicado cristológico que quer fazer conhecer o poder que ele possui. Talvez, o contraste paradoxal, que contemporaneamente se manifesta em relação a este poder, deseje destacar a pobreza deste Senhor.

São colocados sobre o animal vestidos a modo de ornamentos e Jesus o monta. Este gesto e a cena toda a seguir recorda uma entronização do rei em Israel (1Rs 1,38-40; 2Rs 9,13).

Nos vers. 8-10 são mencionadas pessoas que saúdam Jesus. Mc dá a entender (v.9: “iam à frente dele e o seguiam”) que a multidão não vem da cidade para dar-lhe as boas vindas (comparar com Jo 12,13), mas se trata daquelas pessoas que vieram com ele da Galileia.

Estender vestes pelo caminho – para Mc é a estrada que conduz à Paixão – faz uma certa tensão com os ramos apanhados nos campos. A história se conecta com a crucifixão de Jesus como rei dos judeus.

O cortejo que acompanha Jesus lhe grita Hosana e o saúda com as palavras do Sl 117,26. Hosana literalmente significa “salva-nos” que é o sentido próprio do Sl 117,25 (2Sm 14,4; 2Rs 6,26).

O significado do ingresso é esclarecido com o aceno ao “Reino do nosso pai Davi” (v.10) que vem com Jesus. Tal reino era nostalgicamente esperado no judaísmo. O reino de Davi devia ser restaurado. Jesus entra na cidade (de Davi) realizando as promessas messiânicas. No entanto, não vem para satisfazer expectativas políticas. A ausência do título de rei não é um acaso (comparar com Lc 19,38; Jo 12,13), este é reservado ao relato da paixão no qual se manifesta a verdadeira dignidade real de Jesus. Certamente poder real de Davi aguarda a Jesus, mas o modo do seu reino não pode ser compreendido ainda por ninguém. Será o título da cruz a proclamá-lo.

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF:

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui Gonzales – Me. Rita de Cácia Ló

Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

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