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O Batismo do Senhor

por João Romanini

Subsídios exegéticos Liturgia dominical – Ano B

Foto: Divulgação

Batismo do Senhor

Dia 10 de Janeiro de 2021

Primeira Leitura: Is 42,1-4.6-7

Salmo: 28,1a.2.3ac-43b.9b.-10

Segunda Leitura: At 10,34-38

Evangelho: Mc1,7-11

 

Introdução

O Evangelho da comunidade de Marcos é o pioneiro no gênero literário chamado “evangelho”. Comparado com os outros dois Evangelhos Sinóticos (Mt e Lc) é quase um sumário. É claro que devemos lembrar que os primeiros textos do Novo Testamento foram as Cartas de Paulo, que podem ter influenciado esta primeira narrativa sobre a trajetória ministerial de Jesus Cristo sob o título “Evangelho” (cf. Gl 1,6-9; Rm 1,3s; 1 Cor 9,14;15,3-5). Mas, este termo tinha uma origem anterior nas narrativas do Império Helenista de Alexandre e no Império Romano quando se anunciava o nascimento de um imperador como “deus”. O Batismo de Jesus, por sua vez, faz parte das narrativas confessionais da comunidade que busca descrever a glória única e incomparável de Jesus com auxílio de traços lendários. Elas também sinalizam o Batismo como a necessidade de estabelecer o vínculo de continuidade entre os movimentos proféticos de João Batista e de Jesus de Nazaré (Mc 1,2-11 e 6,14-19).

O texto em si

A narrativa tem duas partes, claramente diferenciadas: 1,7-8 (Pregação de João Batista sobre “aquele que é mais forte do que eu”) e 1,9-11 (Narrativa do Batismo). A primeira parte refere-se à continuidade entre os movimentos proféticos de João Batista e Jesus. Quando João Batista afirma que Jesus é “mais forte” (termo que usará depois em 3,27 para falar da casa de um homem “forte”). A dimensão comparativa entre os dois movimentos usando a expressão geralmente traduzida como “eu não mereço”, mas a palavra grega hikanós não se refere ao “mérito”, mas à “quantidade”, isto é, “não tenho o suficiente para...” ou “não tenho a capacidade de...” (cf. Mc 10.46, “numerosa”; 15,15; “multidão”). Aqui fica claro que João Batista e Jesus simbolizam seus movimentos proféticos!  João Batista declara que seu movimento – cuja marca era o batismo nas águas do rio Jordão, por onde o povo ingressou à Terra Prometida - deve se incorporar ao movimento de Jesus – cuja marca é a ação do Espírito Santo - para completar a missão transformadora. Chegou a hora de aderir a um novo movimento, um novo batismo que incorpora a força divina.

A segunda parte é uma declaração de fé da comunidade de Marcos, aberta pelo título formal “naqueles dias”. Este tipo de introdução aparece neste Evangelho para falar de grandes sinais de Jesus como em 8,1 quando Jesus faz o gesto eucarístico da partilha com multidão, ou ainda em 13,24 quando se anuncia a volta do “Filho do ser humano” após a “grande tribulação”. Jesus, apresentado em relação à Nazaré da Galileia, e não como “Cristo” (cf. Mc 1,1), mostra que o movimento profético do Evangelho emerge do chão da história. Com Jesus, batizar – lavar, desconstruir a relação de pecado - assume o sentido maior da entrega na Cruz (central na teologia de Marcos; cf. 10.38-39).

Relacionando os textos

A alegria que se proclama neste Domingo - Gaudete - está em Jesus, Logos criativo, que é Vida e Luz e chama para um testemunho profético que se vive no chão de nossa história concreta, como foi com João Batista e Jesus, e vai além dos estreitos limites de nossos parâmetros “religiosos”. A leituras proclamam a alegria de anunciar a “boa notícia para as pessoas pobres” (Is 61,1) e, como Maria, se alegrar “em Deus meu/nosso Salvador” (Lc 1,47) pois, Ele “encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1,53). Se alegrar na oração e no discernimento que reside em “não apagar o Espírito”, “não desprezar as profecias” e “reter o que é bom”, se abstendo “de toda forma de mal” (cf. 1 Ts 5.16,19-22). Este alegre movimento da profecia só pode ser realizado quando nossa prática de fé não se fecha em parâmetros estreitos, limitando a revelação ao nosso poder como “autoridade religiosa”, mas se abre o sentido (Logos) da Vida e da Luz, capaz de iluminar as trevas de quem perdeu a capacidade de testemunhar e acolher.

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

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