Morre o empresário e político Ovídio Deitos
Fundador da Empresa Urbanizadora Rodobrás, Ovídio foi vereador de Caxias do Sul e ex-presidente da Festa da Uva
O empresário, político e ex-jornalista Ovídio Deitos morreu, na manhã desta segunda-feira (08), em Caxias do Sul, por causas ainda desconhecidas. O empresário de 80 anos faleceu em casa. Informações sobre velório e sepultamento ainda não foram divulgadas. Ovídio deixa mulher Glaci Dolores, com quem foi casado por 55 anos, as filhas, Luciane e Eliane, e três netos, Priscila, Luíza e Pedro.
Em 23 de fevereiro de 2019, Ovídio Deitos foi o entrevistado do programa Conectado Perfil da Tua Rádio São Francisco e contou suas histórias de vida.
Ovidio Deitos foi vereador de Caxias do Sul e ex-presidente da Festa da Uva. Além disso, é o fundador da Empresa Urbanizadora Rodobrás.
Nascido em Carlos Barbosa, no dia 20 de outubro de 1940, Ovídio veio para Caxias aos dois anos de idade, juntamente com seus pais, Celestino e Letícia, que buscavam melhores oportunidades de trabalho. “Já naquela época, Caxias era um polo de atração de mão-de-obra e atividades”, conta. Os bairros São Pelegrino, Centro e Lurdes marcaram a juventude de Ovídio, e dos irmãos Odiva, Olides, Olavo. “Minha mãe tinha uma queda pela letra ‘O’”, diverte-se Ovídio.
O então menino Ovídio estudou no Colégio Madre Imilda até o terceiro ano primário. À época, o local era chamado de Orfanato Santa Terezinha. Após, passou pelo Colégio do Carmo. “Até hoje, essa turma que se formou em 1961, se reúne todos anos. Éramos 61 e hoje devemos ter uns 40. É uma das poucas turmas que se reúnem todos os anos”, conta.
A religiosidade sempre esteve presente na vida de Ovídio Deitos, tanto que ele fez a Primeira Comunhão aos seis anos de idade, na Catedral Diocesana. “Na época, nossa atividade religiosa era bem antecipada. A Primeira Comunhão foi um dia bem marcante. Foi uma coisa espiritualmente muito importante na minha vida”.
Os rumos profissionais
Após a formatura no Colégio do Carmo, Ovídio entrou no Curso de Economia. “Desde aquela época, e hoje continua, o país estava sempre com problemas econômicos. Na época, havia uma inflação muito alta”, lembra. Porém, Ovídio não chegou a concluir o curso.
Durante uma prova de história, o professor Mário Gardelin foi um dos incentivadores para que Ovídio seguisse outro caminho, o do jornalismo. “Ele me passou uma questão complicada e eu escrevi tudo o que eu achava. Ele me disse ‘Tu não sabe nada de história, mas escreve bem, então quero te convidar pra trabalhar comigo na rádio’”, recorda.
Ovídio se enveredou para o lado do jornalismo. Trabalhou como comentarista da Rádio Difusora. Após, foi para a sucursal da Companhia Jornalística Caldas Júnior, em Caxias. A empresa era proprietária dos jornais Correio do Povo, Folha da Tarde e Folha da Manhã, além da Rádio Guaíba. Durante sete anos, Ovídio era o repórter de Polícia do Correio do Povo, além de outros trabalhos especiais. “O jornalismo te leva para um caminho chamado propaganda. E a propaganda é um passo para ser empresário. Eu enveredei para o lado da propaganda e acabei tendo uma empresa”.
Empresário
Após a passagem pelo jornalismo, Ovídio Deitor tornou-se empresário, fundando, em 6 de agosto de 1974, a Empresa Urbanizadora Rodobrás. Operando exclusivamente em Caxias do Sul, a empresa urbanizou cerca de 20 mil terrenos sendo responsável pela criação de aproximadamente 20% da malha urbana da cidade, entre uma série de outras ações para o município.
No ramo da propaganda, Ovídio assessorou diversas empresas de Caxias do Sul. A antiga Mecânica Rodoviária o chamou para prestar assessoramento. “Eles queriam se desfazer de uma área das proximidades onde hoje é a Randon. Nós fizemos um projeto e foi uma coisa nova, e sentimos que tinha um filão muito grande nessa área”.
Festa da Uva
Ovídio Deitos foi presidente da 25ª edição da Festa Nacional da Uva, em 2004. Pela primeira vez, o presidente da empresa Festa da Uva Turismo e Empreendimentos SA e o presidente da Comissão Comunitária eram a mesma pessoa: Ovídio, que acumulou as duas funções.
Um marco daquele momento foi a inauguração do Monumento Jesus Terceiro Milênio, em 06 de fevereiro de 2004. O monumento é um dos pontos turísticos mais visitados de Caxias do Sul, com seus 27 metros de altura, 10 metros de largura, e 1,5 mil toneladas. Foi construído pelas mãos do escultor caxiense Bruno Segalla. “Eu fui funcionário da Metalúrgica Abramo Eberle e o Bruno era meu supervisor. Ele me conhecia dali. Ele foi na Festa da Uva e me trouxe a imagem de Jesus, que ele queria que fosse construído nos Pavilhões. Eui falei com o Bispo Dom Paulo Moretto e com o prefeito Pepe Vargas, e eles gostaram da ideia. Aí começamos um movimento para a construção do monumento, sem dinheiro público. Foi tudo construído pela iniciativa privada”, conta. Segundo o ex-prefeito Pepe Vargas, Ovídio só aceitou ser presidente da festa com a condição de não receber remuneração.
Naquela edição, o tema central da festa era a terra e os produtos do trabalho do homem no seu cultivo. Através das palavras "Terra, Pão e Vinho", a Festa prestou uma homenagem aos imigrantes de todas as origens – em especial aos italianos, que chegaram ao Estado no século XIX em busca de terra – e ao fruto do trabalho do cultivo do solo.
A escolha da Rainha da Festa da Uva de 2004 foi um marco na história da Festa da Uva. Pela primeira vez, o trio de Soberanas tinha uma representante do interior do município. A Rainha Priscila Caroline Tomazzoni era da Linha 40 e, por isso, acabou conquistando ainda mais a simpatia dos caxienses. As Princesas da 25ª Festa da Uva foram Greice Demoliner Tedesco e Victória Titton de Carli.
Além do Monumento Jesus Terceiro Milênio, Ovídio Deitos também contribuiu para a concepção de outro monumento importante na história de Caxias: a estátua do Padre Giordani, em 1994.
Política
Ovídio Deitos é empresário, ex-jornalista, ex-presidente da Festa da Uva, mas também teve forte atuação na política de Caxias do Sul. Ele foi vereador de 1972 a 1982, pela Arena, e Presidente do Legislativo Caxiense entre 1973 e 1974.
O empresário ingressou no Partido dos Trabalhadores (PT) em 1998. Ele deixou o partido em 2015, rumo ao Partido Progressista (PP). “Aos 17 anos eu já militava no Partido Democrata Cristão (PDC), criado pelo padre Eugênio Giordani. Eu sempre lembro que um deputado federal vinha fazer palestras e dizia “Política é para político, não é para curioso”, lembra.
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