Gado no Pampa gaúcho emite menos gás metano
Pesquisas da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, demonstram níveis inferiores aos divulgados por organismos internacionais
Bovinos de corte no bioma Pampa emitem menos metano. Pesquisas da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, demonstram que os níveis são bem inferiores àqueles divulgados por organismos internacionais. Durante um ano, mediu as emissões do gás em novilhos da raça hereford submetidos a diferentes níveis de intensificação em pastagens naturais do bioma. Segundo os resultados preliminares, as emissões de metano foram até 43% menores do que estimativas feitas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) para a pecuária brasileira.
As avaliações fazem parte do projeto inédito de pesquisa que está monitorando o balanço do carbono na pecuária brasileira. A Rede de Pesquisa Pecus, liderada pela Embrapa, está avaliando a dinâmica de emissão dos gases de efeito estufa (GEE) e a retenção do carbono pela pecuária nos seis biomas. Os resultados estão baseados em análises em animais de dez meses a dois anos de idade.
Para a pesquisa, os animais permaneceram em campo nativo com ajuste de carga para 12% PV (12 quilos de pasto seco para cada 100 quilos de peso vivo animal), com três níveis de intensidade de utilização: campo natural, campo natural fertilizado e campo natural fertilizado e sobressemeado com azevém e trevo-vermelho. Nesse último nível é que foram registradas as menores emissões de metano por animal, 31,6 kg/ano. Já no campo natural fertilizado, a emissão foi de 42,8 kg/ano e no campo natural foi de 46,35 kg/ano.
“É importante ressaltar que as estimativas do IPCC são de uma emissão de 56 kg/ano de metano por animal dessa mesma categoria no Brasil. Ou seja, os resultados mostram que a emissão de metano no bioma Pampa é bem inferior por animal”, afirma a pesquisadora Cristina Genro, coordenadora do Projeto Pecus no bioma Pampa. Segundo a cientista, se for multiplicada essa diferença por milhões de cabeças de bovinos criadas no Pampa, o montante de metano emitido pelos animais ficaria extremamente menor que aquele preconizado pelo organismo internacional.
Os animas
No levantamento, foram avaliados 27 animais da raça Hereford que, no início da pesquisa, tinham peso médio de 180 kg. Alimentados somente a pasto, os animais apresentaram um ganho médio diário por cabeça de 0,38 kg naqueles que permaneceram no campo nativo sem tratamento; 0,62 kg no campo natural fertilizado e 0,72 kg no campo natural fertilizado e sobressemeado.
O consumo alimentar médio dos animais foi maior no inverno, quando foram ingeridos 6,13 kg de matéria seca/dia e na primavera com um consumo de 5,25 kg de matéria seca/dia. “Considerando que os animais só se alimentaram de pasto, sem nenhum tipo de suplementação, o ganho médio diário está dentro dos padrões para este tipo sistema. Isso quer dizer que reproduzimos o sistema de produção preponderante na região, com manejo de pasto adequado, o que faz com que a emissão de metano também deva refletir a realidade da pecuária na região”, enfatiza.
Buçais
Para a aferição da emissão de metano, os animais permaneceram durante cinco dias com buçais presos próximos às narinas e à boca, absorvendo a eructação do gás pelos bovinos. As amostragens recolhidas, uma a cada estação do ano, são enviadas para um laboratório da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, que faz a medição do gás emitido.
Bom manejo é essencial
De acordo com a pesquisadora Cristina Genro, o manejo adequado dos rebanhos é imprescindível para que se aumente a produtividade da pecuária com sustentabilidade. A principal recomendação é quanto ao ajuste de carga animal em relação à disponibilidade de alimentos.
O cálculo utilizado no bioma Pampa é de que se disponibilize pelo menos 12 kg de matéria seca de forragem por cada 100 kg de peso vivo de animal na área onde está o rebanho. Uma forma mais fácil para o produtor avaliar a quantidade ideal de alimentos é manter a altura da pastagem entre 11 e 15 centímetros.
Com um manejo adequado, aliado ao melhoramento genético de animais, hoje é possível abater bovinos com até 18 meses de idade. A diminuição do período entre o nascimento e o abate, a partir do aumento na eficiência alimentar, também contribui para a diminuição na emissão dos GEE, uma vez que os animais permanecem menos tempo no campo.
Uma das peculiaridades do Pampa está em ser bioma formado em boa parte por campos, ou seja, com vocação natural para a pecuária. Tanto que, desde a ocupação pelos descendentes europeus na região, a criação de animais sempre esteve presente entre as principais atividades econômicas. Diversos estudos sobre a composição florística dos campos naturais do Pampa já identificaram mais de 400 espécies de gramíneas e 150 de leguminosas, sendo a grande maioria com potencial forrageiro.
Pastos poupam 30 milhões de toneladas de CO2 ano
Pastos melhores significam mais vegetação e animais engordando em menos tempo sobre eles o que se traduz em menos emissões de gás carbônico equivalente. Por isso, a recuperação das pastagens tem potencial para reduzir em um ano a idade de abate dos animais. Um bovino adulto é responsável pela emissão de aproximadamente 1,5 tonelada de equivalente CO2 por ano.
No Brasil são abatidos em torno de 40 milhões de cabeças por ano. Se metade desse rebanho for criado em sistemas mais eficientes, pode-se estimar a redução da emissão de 30 milhões de toneladas de equivalente CO2 por ano. Vale lembrar que o Brasil emite 460 milhões de toneladas por ano apenas com a redução da idade de abate, sem considerar, por exemplo, a fixação de carbono no solo pelo sistema.
Dados da Embrapa apontam que se 12,5 milhões a 18,4 milhões de áreas de pastagens forem recuperadas será possível aumentar a produção de carne bovina de 2,4 milhões a 3,6 milhões de toneladas por ano, o que equivale a um aumento de aproximadamente 33%.
Produtividade
Atualmente, a produtividade média brasileira é em torno de 45 quilos de carne por hectare. Com sistemas recuperados e melhorados, essa produtividade salta facilmente para 120 kg por hectare, em sistemas de cria-recria e engorda (ciclo completo), gerando mais renda para o produtor rural.
A maior parte das terras utilizadas na agropecuária no país está ocupada com pastagens, cerca de 180 milhões de hectares, dos quais estima-se que mais da metade encontra-se em algum estágio de degradação. Apenas 10% das pastagens (18 milhões de hectares) adotam sistemas pastoris menos impactantes, como pousio, rotações e Integração Lavoura Pecuária (ILP). Só no Cerrado são 32 milhões de hectares en qye a qualidade do pasto está abaixo do esperado.
Comentários