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Sonhar

Miguel Debiasi

“A vida é feita de sonhos”. “A vida termina quando se deixa de sonhar”. Muitas vezes ouvimos estas afirmações. Na vida é preciso projetar algo melhor para o futuro. Para tanto, empenham-se energias e esforços. O ser humano está sempre em busca de algo, é quase um insaciável desejo. Nessa esperança, busca dar um salto para a transcendência de modo a atingir um estágio mais elevado para sua felicidade. Sendo assim, sonhar fecunda de esperança uma humanidade mais perfeita.

No que se refere ao sonho, não é o noturno ou o do repouso, mas o de ideias que aperfeiçoem a natureza humana e espiritual da pessoa. Claramente, não é uma situação de sacralizado e de endeusado, mas preferir, na condição humana, dar mais sentido aos dias e à própria vida. Almejar tal condição pressupõe buscar ensinamento e fundamento para que o sonho seja seguro e realizado. Quer dizer, sonhar tem muito a ver com o que a pessoa pensa. O lugar, o contexto, a situação social em que vive influenciam as possibilidades. Cada dia se veria a pessoa, sem dúvida, em maior necessidade de aperfeiçoar o próprio cotidiano e legitimar verdades e normas para sua felicidade inquestionável.

Para muitos em estado de exclusão humana não se oferecem todas as condições e motivações para sonhar com dias melhores. Nestas condições, a vida está condicionada e profundamente limitada à possibilidade de sua plena felicidade. Então, sonhar tem relação com o contexto da vida. Sem dúvida alguma, o desejo de conquistar algo sempre mais valioso está submetido ao imperativo do contexto social. Isto significa que o sonho se organiza de forma consciente e enaltece chegar a elevados níveis de dignidade humana. Antes de tudo, sonhar é um sinal evidente do desejo de construção de melhor qualidade de vida, sendo livre de qualquer dominação e da condição de marginalidade.

Então, sonhar potencializa o ser humano, embora seja mais complexo do que imaginamos conquistar sua plena felicidade. É lógico que aqui não se aposta no sonho advindo do inconsciente durante o período de sono. Este tipo de sonho, para a ciência, é uma experiência da imaginação do inconsciente. Para Freud, tais sonhos são gerados na tentativa de realização de um desejo reprimido.

Aqui se compreende o sonho como capacidade do ser humano pensar e buscar motivações e fazer projetos em busca de melhor realização e felicidade. Porém, a realização de tais sonhos também depende de razoáveis ambientes da sociedade e de contextos favoráveis ou suficientes para superar problemas e dificuldades. Nesse sentido fica difícil para um pobre fundir sonho e realidade. Neste caso, a realização do sonho inviabiliza-se quando faltam solidariedade e políticas públicas de combate à pobreza. Derrotar a pobreza e a exclusão humana seria um verdadeiro sonho. Um ótimo legado deixariam as políticas públicas e a humanidade para as gerações futuras.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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