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“Só descanso quando escuto a porta bater!”

Miguel Debiasi

 

O tempo presente pode ser considerado a época da juventude. Atualmente usam-se os máximos recursos científicos e estéticos para permanecer jovem. Passam-se os anos sem considerar-se idoso. Em razão disto, cresce o marketing em torno da juventude. Em tudo isto se apresentam muitos desafios às famílias, à sociedade, em especial às Igrejas.

            Em conversações ouve-se a expressão “vivemos na época do triunfo da juventude”. A constatação não deixa de ter certa verdade. Percebem-se em geral tentativas de parecer mais jovem do que os anos de idade. As iniciativas vão desde o jovem não querer perder a juventude. Por vontade, esforços ou outros mecanismos, até de intervenção cirúrgica, os adultos lutam contra a perda da juventude. Muitos idosos ainda se reconhecem como jovens. Até mesmo as crianças e adolescentes almejam passar logo para a fase da juventude. O desejo é ser jovem. A moda é manter-se eternamente jovem. Em tudo isto algo positivo é as pessoas se manterem ativas e com elevada autoestima. Cresce o cuidado com a saúde, beleza física, leveza da vida por ora imune das preocupações, compromissos e sofrimentos. Porém, a vida transcende ao período definido como juventude. 

            No dizer da ONU a juventude compreende a faixa de idade entre 15 e 24 anos. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) define a juventude dos 12 aos 18 anos. Na PEC da Juventude aprovada pelo Congresso Nacional em setembro de 2010, a faixa etária da juventude é de 16 a 29 anos.

            Depositar suprema importância à fase da juventude leva a crer que acabou o período da gerontocracia. O termo é derivado do grego, em que geroné é ancião e cracia representa o poder. Em outras palavras acabou o poder dos idosos. Percebe-se este sinal de mudança nas relações familiares, sociais, empresariais, governamentais e em qualquer organização. Os idosos são substituídos pelos mais jovens. E, sem dúvidas, por mais despercebido que passe, em presente contexto os chefes das nações procuram aparecer em momentos e ações identificadas como pessoas jovens, vigorosos, esbeltos, atraentes, características da juventude. A mídia e o mercado promovem seus produtos para atrair os jovens. Neste comportamento manifesta-se uma compreensão extremamente fundamentalista do comportamento social, antropológico e do mercado: é reduzir a ideia de felicidade humana à época da juventude. 

            Na visão cristã o ser humano foi criado para desfrutar da felicidade desde seu nascimento até o gozo da última estação da vida, a eternidade. Contudo, no decorrer das etapas da vida será preciso o enfrentamento dos conflitos, tensões e limitações com sabedoria espiritual para gozar da maior realização e felicidade. Em contrário, o ser humano estaria enclausurado numa falsa ideia de gozo eterno da juventude.

 

            De modo geral, os jovens de todas as épocas e culturas possuem em comum características e diferenças. Contudo, há uma particularidade consensual manifestada nas queixas dos pais, tangente à vida noturna dos filhos. A problemática que os pais enfrentam atualmente não é tanto rebeldia, críticas, paixões, sonhos, intolerância dos jovens, mas as consequências dos atos dos filhos. Em casos concretos os filhos ferem o contrato social e moral por comportamentos e atitudes que não condizem com a tradição e com os costumes dos genitores. Propriamente dito, sobre seu temor quanto às baladas de final de semana, os pais desabafam: “Só descanso quando escuto a porta bater”.

 

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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