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Será que nem desenhando?

Vanildo Luiz Zugno

 

Uma das figuras mais usadas na literatura, principalmente na oriental, é a parábola. Ela é leve, deliciosa, facilmente memorizável e altamente instrutiva. A estrutura da parábola é simples. Uma alegoria que, inserida numa rápida narrativa com poucos personagens, apresenta um ensinamento útil.

A maioria de nós, ao ouvir falar em parábolas, logo as associamos a Jesus. Como outros pregadores, ele a utilizou com maestria. Tomava situações do quotidiano e, a partir delas, procurava transmitir seu ensinamento.

A utilização de tal método por parte de Jesus muitas vezes funcionou. Podemos percebê-lo pelas reações dos ouvintes. Alguns vibravam com o que Jesus dizia. Outros entendiam tão bem que partiam para cima de Jesus para prendê-lo e matá-lo. É o caso, por exemplo, dos fariseus e sacerdotes que entendem muito bem o que Jesus quer dizer com a parábola dos vinhateiros assassinos.

Mas a parábola, ainda segundo Jesus, pode ter uma outra finalidade. Ela pode ser usada para confundir os ouvintes e fazer com que eles não entendam o que está acontecendo. É estranho, mas é isso mesmo. Tal intencionalidade está presente numa das narrativas mais conhecidas de Jesus, a dita Parábola do Semeador. Todos já a conhecem. Mas nem todo mundo presta atenção naquele trecho entre a parábola propriamente dita e a explicação dada por Jesus.

Ao findar a parábola, os discípulos perguntam: “Por que falas ao povo em parábolas?” Jesus responde citando o profeta Isaías: “Eles olharão e olharão, mas não conseguirão ver; eles escutarão e ouvirão, mas não conseguirão entender. Isto acontecerá para que eles não venham a arrepender-se e a ser perdoados de seus pecados.”

A constatação de Jesus é desoladora. Para ele e para os discípulos. E para o seu projeto de levar a cura a todas as pessoas. Como diz Jesus, há pessoas que “nem desenhando” entendem aquilo que pareceria óbvio. Assim como Jesus, às vezes nos perguntamos: se é tão óbvio o que se diz, por que tem gente que não entende de jeito nenhum?

Não sãos os ouvidos o problema. Nem os olhos. O problema está no coração que não permite entender o que os olhos veem e os ouvidos ouvem. Há cegos da vista. Há surdos dos ouvidos. E há cegos e surdos do coração. Para estes, a parábola, por mais clara que seja, é confusão, é ocultamento, é perdição.

Felizmente, como diz o próprio Jesus, há também os corações que acolhem com alegria a semente e produzem trinta, sessenta e cem por um! Esses são a real parábola do futuro que esperamos para toda a humanidade.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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