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Resultados e peso do golpe

Miguel Debiasi

Em abril completa-se um ano do golpe parlamentar. Na véspera deste marco histórico da ruptura da democracia brasileira é preciso ver seus resultados. Historicamente nenhum golpe em sistema democrático trouxe benefícios aos cidadãos, apenas aumentou conflitos e rupturas políticas e sociais. No Brasil, os resultados por ora confirmam esta premissa. 

Todos os indicadores econômicos encerram o ano de 2016 com resultados catastróficos, conforme pesquisa da Confederação Nacional das Indústrias (CNI). O setor de faturamento retrocedeu 12,1%. Os indicadores de produção tiveram uma queda de 7,6%. A produção industrial acumulou uma queda de 6,6%. Nas indústrias extrativas as quedas foram de 9,4%. Nos produtos derivados do petróleo e biocombustível o recuo chegou a 8,5%. Nos veículos automotores, reboques e carrocerias, foi de 11,4%. No setor de arrecadação de impostos bateu recordes negativos com déficit primário de 139 bilhões e redução de 2% do Produto Interno Bruto. O mercado aéreo do Brasil foi o único a registrar queda de 5,5%, enquanto a média mundial foi de crescimento de 5,7%. Na política salarial a diferença entre o setor público e o privado nunca foi tão grande como agora, a diferença passou para 63,8%. O desemprego atingiu números assustadores 12%, 23 milhões de desempregados. Os investimentos concedidos pelos bancos encolheram 88,3% bilhões. As consultas de empresas a empréstimos recuaram em 11%, equivalente de 110,39 bilhões. Estes são alguns dos indicadores recolhidos pela pesquisa da Confederação Nacional das Indústrias ao fechar o ano de 2016.

Diante dos resultados negativos da economia há que se fazer uma reflexão serena e desprovida de interesses políticos do golpe de Estado. Na origem do golpe estão os senhores parlamentares – deputados e senadores. Destes, 60% estão envolvidos com a corrupção. Os nobres parlamentares instituíram um processo de cassação da presidente pelas “pedaladas fiscais”, uma prática corriqueira feita pelos governos anteriores e governadores para cobrir o déficit nas contas públicas. Nas vésperas de completar um ano, cientistas políticos dizem que o golpe financiado pelas oligarquias, semelhante ao acontecido em Honduras e no Paraguai, transformou o país na “República da Banana”. Isto é, um país politicamente instável, corrompido e economicamente falido como mostram alguns Estados da federação.

Além de um país em situação de recessão econômica, o presidente Michel Temer, entronizado por seus acólitos, a maioria envolvidos em corrupção, é alvo de investigação pela operação da Polícia Federal. Conforme pergunta ao povo brasileiro sobre intenção de voto para presidente, nem 2% da população votaria nele. Como se não bastasse o catastrófico resultado do golpe, a população brasileira tem assistido o corte do orçamento para saúde, educação, segurança, saneamento básico, transporte, alimentação, etc. A face mais cruel do golpe é a PEC do congelamento deste orçamento que já era pífio anteriormente por vinte anos. Mas, o mais perverso do golpe, para manter-se no poder o governo já gastou cinco vezes mais em publicidade do que os recursos destinados para estes setores básicos da população.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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