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“Ponte para o Futuro” virou desalento

Miguel Debiasi

Num domingo de abril o povo brasileiro foi impactado pela mídia em conluio com a elite, com deputados mais retrógrados da história da República e com seus representantes nas ruas usando as cores dos símbolos nacionais. O domingo foi batizado por aqueles protagonistas como “Ponte para o Futuro”. Passados quase três anos a “Ponte para o Futuro” gerou o maior desalento da história da República do Brasil, com desemprego, pobreza, descrédito político, jurídico, midiático, estagnação econômica, desmoralização internacional, etc.

A cassação da presidente eleita tinha apenas uma razão: tirar o PT do poder visto que este partido poderia governar o Brasil pelos próximos cinquenta anos para o fortalecimento de políticas públicas e sociais e haveria consequentemente a redução dos quadros políticos conservadores. Dessa forma, de acordo com muitas publicações em livros e revistas, a cassação da presidente da república entra para a história do país como ato anti-democrático, anti-PT, anti-desenvolvimento, logicamente com seus nomeados protagonistas. Na sessão de cassação, de deputados mais corruptos ouvia-se: “em nome do bem de minha família, da ética, da moral, de construir uma Ponte para o Futuro”, voto pelo fim do governo do PT. A maioria daqueles deputados está sendo investigada por corrupção.

No saber popular há um provérbio que diz: “tudo que começa mal termina mal”. O ditado é confirmado na pessoa do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes, ex-deputado do PP pelo Rio Grande do Sul, gaúcho apresentado como sendo de bons valores. O ministro é denunciado pelo ex-secretário de Transportes do Rio, Luiz Carlos Veloso, de que lhe repassava uma quantia de 100 mil reais mensais e pagava auxílio escolar, nada menos de dois milhões de reais. O ministro do TCU, Augusto Nardes, foi o responsável pela análise das contas da presidente Dilma do PT em 2015. Ela foi cassada pelas chamadas “pedaladas fiscais”, em que usou dinheiro público para pagar gastos com assistência e projetos sociais. Uma prática de vários governantes, desde o tempo da Proclamação da República. Em suma, a presidente aplicou o dinheiro público para o bem do povo. O ministro Augusto Nardes pegou dinheiro público e o colocou no seu próprio bolso. Aliás, Augusto Nardes, relator da farsa das pedaladas fiscais contra Dilma, está sendo investigado por outros atos de corrupção como declaração de bens e transações financeiras.

“Tudo que começa mal termina mal” foi a “Ponte para o Futuro”, pois iniciou numa Brasília que ruiu e trouxe sofrimento à população pobre e honesta desta nação. Os números do desastre político, econômico, social e cultural a que a nação foi submetida são exorbitantes, e um levantamento do IBGE constata que antes de 2016 nunca houve no país tantas pessoas “em condição de desalento”. O IBGE apresenta os números: são 65,6 milhões de brasileiros e brasileiras nesta situação, um número nunca visto; 40% dos trabalhadores do país (37 milhões) estão no mercado informal com empregos precários; 50% dos trabalhadores não têm carteira assinada; a precariedade das condições de trabalho aumentou em 60% após a Reforma Trabalhista promovida pelo governo Temer.

 

A “Ponte para o Futuro” promoveu o desmonte do sistema democrático, colocou a população as mínguas com o congelamento de recursos públicos por 20 anos. Isto significa que por duas décadas faltarão recursos públicos para a saúde, hospitais, remédios, educação, cultura, moradia, segurança, estradas, saneamento básico, etc. Ademais, em nome da “Ponte para Futuro” colocaram novamente o país na dependência do Fundo Monetário Internacional (FMI); aumentou-se a dívida interna e externa, estagnou a economia, há sucateamento de muitos órgãos de prestação de serviços públicos, privatização, entrega do pré-sal e áreas da Amazônia. No dizer do jornalista Ricardo Kotscho, que de 2003 a 2004, durante o governo Lula, foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República, "se um inimigo do Brasil tivesse preparado um plano maquiavélico para destruir o país, não poderia ter feito nada mais cruel do que os golpistas da 'Ponte para o Futuro', que em dois anos fizeram o país voltar décadas para os tempos mais sombrios do passado". O IBGE define o período após o impeachment de Dilma como o Brasil do “desalento”.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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