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Os pobres servem aos ricos

Miguel Debiasi

 

A globalização da economia tem provocado sofrimentos a povos como os da América Latina, África e Ásia. A política econômica global é responsável pelo aumento do quadro de miséria mundial. Ademais, as autoridades mundiais são afiançadoras deste processo excludente. Em contrapartida, a Igreja Católica Apostólica Romana é a entidade mundial que mais socorre as pessoas vitimadas pela miséria social.

As informações divulgadas no dia 15 de dezembro de 2017 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ajudam na compreensão do quadro de crescimento da miséria e da pobreza no Brasil. Segundo o IBGE, o Brasil encerrou o ano de 2016 com 24,8 milhões de brasileiros vivendo com renda inferior a ¼ do salário mínimo. Se comparado com 2014, o número representa o aumento de 53% da pobreza no Brasil. A situação dos brasileiros em estado de extrema miséria chegou a 12,1% da população. No Nordeste os números chegam a 13,1%. Entre os miseráveis brasileiros 78,5% são negros e pardos. Segundo o IBGE a porcentagem de excluídos cresceu, entre os anos 2016 e 2017, devido à concentração de renda.

Daí se deduz que, como consequência da concentração de renda e capital, os países do terceiro e quarto mundo ficaram mais empobrecidos com o passar dos anos. Os resultados são nefastos, pois o Estado nacional perdeu sua capacidade econômica e sua função política e social. Diante de tal conjuntura econômica mundial a função do Estado nacional é cobrar pesados impostos dos cidadãos. Mas, o absurdo da cobrança é para oferecer a estas forças econômicas as melhores condições possíveis de viabilizar suas políticas. Daí a tarefa de países como os da América Latina é oferecer mão-de-obra barata e preparada, infraestrutura de transportes, aeroportos, portos, energia, combustível e leis de livre comércio e de privatizações. Dessa forma, no dizer do teólogo José Comblin (1923-2011), o Estado brasileiro organiza os pobres a serviço dos ricos.

A situação sub-humana dos 25 milhões de brasileiros se agrava com a perda de credibilidade nas políticas públicas. Como efeito, o Congresso Nacional é a instituição menos confiável. Em atual cenário, como não poderia ser diferente, o governo é sinônimo de corrupção. Diante deste quadro nacional os pobres não acreditam na política e nos seus representantes. Por sua vez, como consequência desta indiferença, o problema da exclusão fica mais sério para ser revolvido.

Em decorrência da indiferença política os pobres são mão-de-obra barata do sistema econômico dominante. Contudo, diante do crescimento de pessoas empobrecidas, aos cristãos cabe a prática da economia da solidariedade, como tem sido demonstrado ao longo da história na assistência aos desfavorecidos do sistema. No dizer do papa Francisco, em carta aos gestores de organizações das igrejas cristãs em 27 de novembro de 2016, “é preciso que o mundo escute o sussurro de Deus e o grito dos pobres, dos pobres de sempre e dos novos pobres”. Pois nisto consiste a postura e viver a fé em Cristo de forma autêntica e cabal. Certos de que quem tem fé neste mundo são os pobres, a tarefa de combate à exclusão social e à miséria humana pode ser fortalecida e revigorada pelos cristãos contemporâneos seguindo os exemplos dos primeiros e fiéis seguidores de Jesus.

 

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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