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Ordenação de mulheres?

Miguel Debiasi

 

            Foi publicada pelo site da BBC News, de Roma, em 14 de janeiro deste ano, a matéria “Maria Madalena poder abrir caminho para que mulheres sejam ordenadas na Igreja”? Para valorizar o texto foram publicados ícones que retratavam Maria Madalena junto a Jesus. A matéria repercutiu nas redes sociais, por isso merece alguns comentários.

            Inicialmente é preciso recordar que os textos do Evangelho mostram Maria Madalena como uma pessoa próxima de Jesus e dos discípulos. Seu nome é citado doze vezes, sendo uma das personagens mais conhecidas do Novo Testamento. Porém, para muitos a razão que faz Maria Madalena famosa é a interpretação que ela teria sido uma prostituta que foi convertida pelo encontro com Cristo. Antes de tudo é bom saber que nenhuma passagem da Bíblia e até mesmo dos evangelhos apócrifos afirma que Maria Madalena foi prostituta ou a mulher apanhada em adultério no capítulo de João (Jo 8,1-11). Com toda certeza o livro de Dan Brown, O Código Da Vinci, baseado no evangelho apócrifo de Felipe, polemizou sobre sua prostituição. Contudo, a versão não se sustenta pelos textos do Evangelho. É sim Maria, chamada de Madalena por ser de Magdala, aldeia de pescadores que ficava no oeste do mar da Galileia, próxima à cidade de Tiberíades.

            Mediante isto é credível o que relata o Novo Testamento: Cristo expulsou de Maria sete demônios (Mc 16,9; Lc 8,2); tornou-se seguidora de Jesus (Lc 8,2-3); permaneceu aos pés da cruz (Mc 15,40; Mt 27,56; Lc 23,49; Jo 19,25); assistiu ao sepultamento do Mestre (Mt 27,59-69; Mc 15,46-47; Lc 23,55-56); foi a primeira testemunha da ressurreição de Cristo (Mt 28,1-8; Mc 15,1-19; Lc 24,1-10; Jo 20,1-18). Em suma, a Bíblia nada relata sobre a vida de Maria Madalena antes de sua conversão. Quanto à citação da mulher adúltera do capítulo oitavo de João, provavelmente não cabe à Maria Madalena.

            A seguir, algumas explicações. Primeira, as mulheres livres não adulteram, nem as solteiras, mas somente as casadas e as noivas. Segunda, Maria Madalena não era casada, prova do seu livre seguimento a Cristo. Sendo casada, seria impossível seu seguimento a Cristo naquele tempo. Terceira, embora o texto de João narre o fato da mulher adúltera nele não consta nome algum, nem o de Maria Madalena. Quarta, a identificação da mulher adúltera com Madalena veio muito posteriormente, sendo uma errônea interpretação.

            Certamente não haverá dúvida de que Maria Madalena foi seguidora de Jesus. A comunidade cristã primitiva manifesta muita estima e respeito a ela, prova disto é seu papel no anúncio da ressurreição de Cristo. Para os biblistas, na comunidade primitiva Maria Madalena passou a ser modelo de seguimento a Cristo, apóstola dos apóstolos. Muito os biblistas poderiam dizer da importância de Maria Madalena para a comunidade cristã primitiva e para Igreja de hoje.

            Após essas pinceladas sobre a identidade de Maria Madalena, voltando ao tema da matéria da BBC sobre a possibilidade da ordenação de mulheres pela Igreja Católica, não creio que o ministério sacerdotal feminino seria aprovado por esse paradigma. Mas, não deixa dúvida que Maria Madalena viveu um rico ministério, serviu ao Cristo com muita fé e amor. Talvez seja isto o que hoje precisa a Igreja.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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