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O mal-estar e o equilíbrio

Miguel Debiasi

Há um mal-estar em relação à vida pós-moderna. Um mal-estar da civilização como um todo. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman fala de um mal-estar da pós-modernidade. Obviamente, de um mal-estar que reflete em todos. A incerteza e a insegurança são sintomas principais do mal-estar atual. Eis um desafio, o equilíbrio.

O médico neurologista Sigmund Freud (1856-1939), em sua obra “O Mal-Estar na Civilização”, diz que o indivíduo não pode ser feliz em sociedade, mesmo usufruindo do avanço tecnológico e científico, como atualmente ocorre. Freud afirma: “a felicidade humana, por conseguinte, parece não ser a finalidade do universo, e as possibilidades de infelicidades realizam-se mais prontamente”. É preciso concordar com Freud em algo, a felicidade não é o propósito da civilização moderna. Sua batalha é sim o afastamento do desprazer. E a felicidade não passa pelo desprazer. A civilização da pós-modernidade busca a realização pela satisfação do prazer. Nisto, torna-se impossível conseguir felicidade humana. O prazeroso tem em contrapartida a necessidade do trabalho, do sofrimento. E nisto, contrapor Freud por não valorizar o trabalho como meio de felicidade, mas de repressão social, o homem é obrigado a trabalhar.

Para Freud a infelicidade humana está centrada em três fontes: “o sofrimento físico, corporal; perigos advindos do mundo exterior e os distúrbios ocasionados pelas relações com outros seres humanos, talvez a fonte mais penosa de todas”. Para Freud a sexualidade é a manutenção e reprodução da civilização. Tem-se a sociedade justamente por causa dos impulsos sexuais que são canalizados para o trabalho. Mas, a verdadeira causa da infelicidade para Freud está na repressão sexual, provocando muitos distúrbios psíquicos, mal-estar. Sendo assim, para Freud é impossível uma civilização harmonizada.

A situação mudou muito do tempo de Freud para o nosso tempo. A sociedade tem melhorado em muitos aspectos e obtiveram-se avanços no cuidado de bem-estar pessoal, social, na implantação do saneamento básico, no aumento da expectativa de vida e da liberdade, principalmente a sexual. Contudo, as conquistas não foram suficientes para a felicidade da civilização moderna. Atualmente o mal-estar aparece com outras faces, como desemprego, fome, instabilidade e insegurança do indivíduo. São faces que ocasionam as doenças físicas e emocionais como a depressão, a síndrome do pânico, a baixa autoestima, o medo, etc. Na verdade, o ser humano é um ser inacabado. Conflitos e sofrimentos sempre estarão presentes na vida humana. Contudo, cientes da necessidade de mudança, é necessário um processo de equilíbrio, de harmonização, seja pelo conhecimento e sabedoria, seja pela maturidade.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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