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O cidadão mundial

Miguel Debiasi

Ninguém poderia viver fora do planeta Terra por um tempo prolongado. A razão da impossibilidade deve-se à Terra ser o único planeta com vida. Apropriar-se da Terra como algo meu ou nosso soa estranho já que nenhum ser humano foi o seu criador. Estabelecer fronteiras, divisas e territórios é algo da cultura humana. Diante de milhões de pessoas que cruzam as fronteiras é desafio pensar a existência do ser humano como um cidadão mundial, menos imigrante ou estrangeiro, mais pertencente à humanidade, com direitos e deveres não apenas em seu país de origem.

O planeta Terra, segundo estudos da ciência da astronomia, é o único que possui água na forma líquida e tem o ar rico em nitrogênio e oxigênio. Isto é, possui os elementos suficientes para constituir e garantir vida. Os demais planetas não possuem essas substâncias ou elementos vitais. Quanto à astronomia como ciência natural, tem como foco estudar os corpos celestes como estrelas, planetas, cometas, galáxias, sua formação, o desenvolvimento do Universo e os fenômenos cósmicos.

Considerada como ramo da astronomia, a cosmologia estuda as estruturas e dinâmicas do Universo a partir de métodos científicos. Em boa parte da história da humanidade a cosmologia foi um ramo da metafísica e da religião. Passou a ser considerada como ciência a partir do princípio copernicano, do monge Nicolau Copérnico que em 1514 defendeu a ideia de que a Terra não era o centro do Universo, mas sim o Sol. O grande salto da cosmologia deu-se com o físico Albert Einstein, no século XX, com o desenvolvimento da sua Teoria da Relatividade.

Ainda que as ciências da astronomia e da cosmologia permitam conhecimento do Universo com mais exatidão, para o ser humano torna-se impossível gerar e manter vida fora do planeta Terra. Então, por não ter sido criado pela ação humana, o planeta pertence a todos. Sendo assim, este mundo deveria ser a casa comum e de responsabilidade de todos como propõe a reflexão do Papa Francisco na Encíclica Laudato Si' (2015). Já bem antes do atual papa propor este debate, o jovem Francisco de Assis experimentou a utopia de viver neste mundo sem nada de próprio. Muitos séculos antes de Francisco, Jesus Cristo dizia que não tinha lugar para repousar a cabeça de tão desapegado das coisas deste mundo. Os primeiros cristãos, enamorados de tal projeto, vendiam tudo e colocavam em comum como forma de vida nova.

Atualmente, muitos jovens missionários das igrejas cristãs vão a outros continentes levando fé, paz e solidariedade sem nada de posses. Outros jovens, cansados do consumismo, abandonam as coisas materiais em busca de um estilo de vida que traga mais felicidade. Nessas pessoas e experiências é possível ver que o mundo pode ser a casa de todos. Elas superaram as barreiras culturais e construíram um mundo sem fronteiras e divisas. Nas últimas décadas a economia tomou a iniciativa de globalizar sua prática. Por conseguinte, o mercado luta pela queda das barreiras internacionais. Assim, como a economia e o mercado neoliberal querem livremente ir além-fronteiras, é necessário conceber um cidadão mundial. Ademais, conforme o direito humano de ir e vir ninguém deveria ser impedido de entrar e sair de uma nação. O cidadão mundial é da paz!

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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