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Mulher forte

Miguel Debiasi

Mulher forte

“Por detrás de um grande homem existe uma grande mulher”. Inúmeras vezes ouve-se esse jargão que não passa de manifestação sexista e de misoginia, preconceituoso e pejorativo. Por natureza homens e mulheres são iguais em capacidades e condições humanas. Nos primórdios do século XXI é preciso combater essa cultura de superioridades e inferioridades.

“A história é escrita pelo olhar masculino”. Esta observação feminista é correta. No entanto, o feminismo não é um movimento contrário ao machismo. Entende-se por cultura machista a da superioridade do homem em relação à mulher. Entretanto, o feminismo é o movimento que surgiu no século XIX como objetivo da conquista de iguais direitos entre homens e mulheres. Também não está associado às ideias do humanismo, o movimento intelectual que coloca no centro do mundo o ser humano. O humanismo teve ampla difusão na Europa com a Renascença, que valorizava o saber crítico e o conhecimento humano. Em razão desta aspiração da racionalidade foi confundido com um movimento anticlerical. Mas, as mulheres têm razão ao refazer a leitura da civilização sobre o equilíbrio dos gêneros.

Porém, insistir em uma nova leitura da história é reconhecer que a civilização foi conduzida por um sistema político e social de patriarcado. O patriarcado é definido como sistema político-social em que poder, liderança, autoridade e controle são exercidos pelos homens. Nisto promove-se a figura e linhagem masculina de domínio sobre as mulheres e as crianças. Em qualquer sistema político, social e econômico de diferentes culturas a exclusividade do comando era atribuída ao homem. Historicamente não foi diferente no Brasil, somente em 2010 elegeu-se a primeira presidente do país. A eleição de 31 de outubro de 2010 quebra um tabu e um mito da cultura política do Brasil. Em 26 de outubro de 2014, após quatro meses de campanha sob forte ataque de adversários, Dilma Rousseff foi reeleita Presidente da República. 

Porém, em 2 de dezembro de 2015 inicia-se o processo de cassação da presidente e por motivo da “pedalada fiscal” foi deposta em meados de 2016. Ironicamente, passado o golpe as contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas da União. Isto significa que pedalada fiscal não é crime. Aliás, prática de todos os governos. Então, a presidente foi deposta por outros motivos: por cortar verbas de publicidade com a Rede Globo que a leva à falência, por regularizar o marco exploratório do Pré-Sal, por investir nas empresas estatais como a Petrobras, por negar apoio ao Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, prestes a ser denunciado por corrupção na Comissão de Ética, por contrariar o senador Aécio Neves em Furnas, por demitir vários diretores da Petrobras, BNDES, Caixa Econômica Federal, por negar 70% de aumento salarial aos ministros do Supremo Tribunal Federal, por traição do Vice-Presidente da República Michel Temer, etc.

Pouca gente sabe, mas em seu primeiro mandato a presidente Dilma Rousseff produziu fartos superávits fiscais, com 2,94% do PIB em 2011; 2,18% em 2012, e 1,72% em 2013. Apenas em 2014, com a retração da economia global, em especial dos preços do petróleo, houve um déficit de R$ 17,2 bilhões, equivalente a 0,57% do PIB. Em contrapartida, o Brasil é governado por um presidente incapaz de combater a crise política, ética e econômica que aprofundou o déficit público e a recessão econômica. Lamentavelmente, agora quem paga a conta é o povo brasileiro com os tarifaços dos combustíveis, alimentos, etc. Neste cenário de vergonha nacional e internacional fica o ditado popular “há males que vêm para bem”.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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