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Menos chefe, mais líder! (I)

Miguel Debiasi

Vive-se num tempo no qual não existem mais receitas prontas. Se até ontem algo era bom, já não se pode afirmar com tanta segurança que hoje ainda o seja. A própria sabedoria, a cultura e o conhecimento são dinâmicos. Nada mais é estático. Tudo necessita ser repensado e renovado. Na lógica do moderno e do neomoderno é um desafio construir líderes e lideranças.

Com frequência, as pessoas recordam aquele tempo em que o genitor sentava-se à ponta da mesa e bastava uma olhadela para entender suas ordens. Essa experiência paternal era engrossada pela diretora do colégio, a figura do padre, o chefe da empresa e a autoridade política. Bem define aquele tempo um ditado muito conhecido: “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.

A palavra autoridade tem sua origem no latim auctus, particípio passado de augere que significa aumentar, fazer crescer. Ainda do latim auctoritas representa ordem, opinião, influência. Do inglês, leader significa guia, chefe. Do inglês arcaico laedan traduz-se por guiar, chefiar. E do germânico laithjan também quer dizer chefiar. Daí derivam as palavras líder e liderar. No entanto, o exercício da liderança que deriva do latim diz ser primus inter pares, isto é, o primeiro entre iguais.

No sentido bíblico, a liderança é serviço. O líder é um servidor. E com a experiência da democracia e da liberdade abriram-se novas convenções sociais e culturais de líder e liderança. Em qualquer espaço social — seja empresa, grupo, organizações, instituições — a figura do líder como chefe que manda, impõe e dita ordens está por um triz. Então, um novo líder se forma por uma nova relação com as pessoas, não mais vertical, mas horizontal.

Para tanto, a nova configuração do líder passa imprescindivelmente pela capacidade de valorizar as pessoas, de saber ouvi-las e estimulá-las para despertar nelas as mais criativas e positivas motivações humanas. Para ser um líder que constrói liderança é preciso tocar no coração, na alma, no espírito de seus seguidores. Para quem desejar ser líder não lhe pode faltar autenticidade, pois seu modo de agir dá força às suas palavras.

Recorrendo ao sentido bíblico, o verdadeiro líder é a luz e o sal. É a pessoa que faz a diferença. Possui uma visão integrada das coisas e não desagrega. Faz a experiência da águia, busca olhar para o infinito. O líder é capaz de desaparecer no momento oportuno para que seus companheiros cresçam como humanos e profissionais capacitados. Para alcançar isto é preciso superar velhas heranças da experiência familiar, educacional, da tradição religiosa e política.

Neste quesito, Dom Hélder Câmara (1909-1999) alertava: “Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo”. Dom Hélder, arcebispo emérito de Recife e Olinda, teve forte atuação social e política. Atualmente estão sendo reunidos documentos para seu processo de beatificação e canonização. No próximo artigo daremos continuidade à reflexão.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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