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"Gaudete et Exsultate", "Alegrai-vos e exultai”

Miguel Debiasi

Diante do crescente secularismo, pensar o mundo santo seria delírio? Num mundo de tanta pluralidade religiosa e de “n” experiências de sagrado, propor a conversão da humanidade a Cristo seria absurdo? Frente ao sistema global neoliberal que enriquece a poucos em detrimento de multidões, propor a santidade como caminho de felicidade e realização humana seria demasiada pretensão religiosa? As respostas às perguntas estão na nova Exortação Apostólica do papa Francisco.

 

A recente Exortação Apostólica do pontífice, Gaudete et Exsultate, ou “Alegrai-vos e exultai”, lançada em abril, propõe a santificação do mundo. A princípio, ver uma humanidade santa não é sonho somente do papa Francisco, mas a esperança de Deus desde a criação do mundo. A iniciativa à vida santa é de Deus ao chamar Abraão, o povo de Israel e os povos ao seguimento de Cristo. Nestes dois mil anos de aceitação do cristianismo há evidências de que a conversão do mundo é processo que exige um árduo trabalho de evangelização. Mas, nem diante de tantas resistências humanas Deus dispensa o seu projeto: “Muitos são os projetos do coração humano, mas é o desígnio de Deus que permanece firme” (Pr 19,21).

 

No entanto, na Exortação Apostólica o pontífice aponta um caminho para a santidade que passa pela participação da comunidade e pela constante oração. A busca da santidade é fortalecida pelas virtudes “da perseverança, paciência e mansidão”, seguindo o que Jesus indicou nas bem-aventuranças (Mt 5,1-12). No que se refere às bem-aventuranças, são um contraponto ao estilo de vida apresentado pela sociedade consumista, hedonista, individualista.

 

Além do mais, o papa recorda que a Igreja ensinou que a santidade é um chamado universal. Contudo, ele recorda que o chamado à santidade brota do espírito de alegria das pessoas. Precisamente, o título da Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate“, "Alegrai-vos e exultai”, repete justamente as palavras que Jesus dirige aos discípulos: “Bem-aventurados sois quando vos injuriarem e vos perseguirem. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós” (Mt 5,12).

 

A nova exortação do papa Francisco tem cinco capítulos e o primeiro reafirma que o “chamado à santidade” é para todo o ser humano. No segundo, o pontífice alerta para duas heresias, o gnosticismo e o pelagianismo, inimigos da santidade. O gnosticismo como autocelebração de “uma mente sem encarnação incapaz de tocar a carne sofredora de Cristo nos outros”. Precisamente, trata-se de uma “vaidosa superficialidade” que pretende “reduzir o ensinamento de Jesus a uma lógica fria e dura que procura dominar tudo” (n.37-39). Quanto ao pelagianismo (que nega o pecado original e a necessidade da graça divina para a salvação), “sente-se superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser fiel a certo estilo católico” (n. 49), alerta o pontífice.

 

No terceiro capítulo recorda os caminhos para a santidade nas oito Bem-Aventuranças: “bem-aventurados os pobres em espírito, os mansos, os aflitos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que são perseguidos por causa da justiça” (Mt 5,1-10). No quarto, indica que será preciso o estilo de vida de “perseverança, paciência e mansidão”. No último capítulo, convida ao combate do “Maligno que não é um mito, mas um ser pessoal que nos atormenta” (n. 160-161). O papa Francisco conclui a Exortação dizendo que é preciso vigilância fortalecida pela oração, participação na Eucaristia e vivência dos sacramentos com vida permeada pela caridade (n. 162), e o indispensável discernimento das realidades para melhor viver o Batismo (n. 170-174).

 

Em suma, o caminho para a santidade em nosso tempo começa com a coragem de manifestar em vida o caminho apontado por Cristo ressuscitado aos discípulos: “no meu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações” (Lc 24, 47). Enfim, outro mundo é possível, o mundo santo.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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