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Farol da Solidão

Vanildo Luiz Zugno

 

O nome é estranho. Para alguns, assustador. Quem gostaria de ir passar seu verão num lugar chamado Praia do Farol da Solidão? Poucos, com certeza. Diria mais: quase ninguém. A maioria, ao pensar em praia, busca um lugar de agitação, divertimento, badalação. Mesmo agora, em tempos de pandemia, os gaúchos urbanos e também os pampeanos insistem em ir para Torres, Imbé, Tramandaí, Capão e, correndo todos os riscos, fazer aglomeração. Parece fazer parte da idiossincrasia metropolitana que imita as aves de arribação. Estas passam pelo litoral sulino em maio e setembro. Os bípedes com o telencéfaloaltamente desenvolvido e o dedo polegar opositor, para lá vão entre o Natal e o Carnaval.

Mas a Praia do Farol da Solidão existe. Está a meio caminho entre Palmares do Sul e Mostardas. De Porto Alegre, são 150 quilômetros. Duas horas e meia em carro. Saindo da capital pela RS 040, passando Viamão, segue-se para Capivari do Sul e daí em diante, pela 101 – a Estrada do Inferno já não é tão infernal! – até topar com a Estrada da Solidão, um pouco antes do Vilarejo Doutor EdgardoPereira Velho. São oito quilômetros de areia que se move conforme os ventos de cada época do ano. Se tudo der certo, em meia hora o viajante tem à sua frente o edifício que dá o nome ao lugar: o Farol da Solidão.

Ninguém sabe exatamente quando o sinalizador foi construído. Diz-se que no início do séc. XX. A memória mais antiga é de uma estrutura de ferro. Mais tarde foi substituída pela atual torre em cimento que, do alto de seus 21 metros avermelhados, sinaliza aos navegantes que a costa está próxima.

O povoado são três avenidas com mais ou menos dez ruas transversais. Oitocentas casas, segundo o dono de um dos três mercadinhos que funcionam o ano todo. Armazém de secos, molhados, úmidos e todo tipo de gênero alimentício e não alimentício – da pasta de dente ao herbicida - que funciona ao mesmo tempo como boteco para otimizar a estrutura e garantir o faturamento. De março a dezembro, a vida gira ao redor da pesca que a cada ano se torna mais difícil. O peixe míngua e muitos residentes já se foram e outros pensam em partir. Em janeiro e fevereiro, a economia ganha impulso com os veranistas. As duas pousadas chegam nos fins de semana à lotação máxima: em torno de quarenta pessoas. Também há a opção de alugar – e aí os preços são muito favoráveis – uma das tantas casas de madeira disponíveis no balneário. Vem gente de Capivari do Sul, de Mostardas, Tavares, Viamão, Porto Alegre e, não raro, aqueles que fogem da badalação de Santa Catarina, Torres, Tramandaí, Imbé e Capão. 

Mas o que leva alguém a um lugar tão distante e tão fora do padrão daquilo que se imagina em Porto Alegre como passeio de verão? O nome do local já diz: solidão! Quem vai para lá sabe aonde está indo: um lugar onde se pode estar sozinho. Está escrito por todo lado que o lugar é de solidão: na estrada, no farol e na vila. E também no nome de um dos botecos e de uma das pousadas. Não tem como errar e depois reclamar!

São poucos os cidadãos que fazem esta opção. É muito penoso em nossa civilização do contato superficial e da hiperconexão aleatória estar sozinho e encontrar-se consigo mesmo. O Farol da Solidão fica longe. E a estrada é difícil. Menos, porém, do que o caminho para dentro do interior de si mesmo onde podemos vagar na íntimasolidão. Não custa tentar! Boa viagem...

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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