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Extraterrestres e astronautas

Vanildo Luiz Zugno

Existe vida fora da Terra? É uma pergunta que todos nós, mais cedo ou mais tarde, rara ou frequentemente, nos fazemos ou nos foi feita. Alguns se interessam mais pela questão, outros menos.

Eu sou dos que pouco ou quase nada se preocupam com ela. E não por não acreditar na possibilidade. Pelo contrário. Racionalmente pensando, é muito provável – quase certo eu diria – que em algum planeta ou satélite dos muitos que giram em torno a uma das bilhões de estrelas que compõem o universo, haja as condições necessárias para a existência de vida. Na forma em que a conhecemos ou em outras que sequer imaginamos. Incluso vida inteligente. Sim! É de todo possível que outros seres, talvez nada semelhantes a nós, tenham desenvolvido a habilidade de raciocinar de forma semelhante à nossa ou em outra totalmente diferente e incompreensível para os humanos que somos. Afinal, em um universo tão amplo e variado, tudo é possível.

Meu desinteresse pelo assunto se sente incômodo quando surgem nos noticiários reportagens sobre supostas tentativas de contato de seres de outras paragens siderais com nós os humanos. O que me deixa desconfiado é que estas “matérias de gaveta”, como se diz no jargão jornalística, sempre são publicadas em momentos de crise política, econômica, militar. Não por coincidência, na crise do fim do governo Trump, o Pentágono liberou imagens e arquivos de OVNIs caçados pela Força América estadunidense. Para quem pensa fria e racionalmente, é claro que o objetivo é distrair a opinião pública e tirar o foco dos problemas do momento.

Essas eram minhas convicções até poucas semanas faz. Um fato veio abalar minha inabalável confiança na desimportância da preocupação pela existência ou não de vida fora da Terra. Um fato de conhecimento público. No curto espaço de uma semana, dois multimilionários – Richard Branson e Jeff Bezos – deram-se ao luxo de uma viagem espacial. Alguns dizem que não foi bem espacial. Apenas teriam chegado à beira do espaço. E durou poucos minutos. A “passagem” numa nave de Richard Branson – diversão já disponível ao público – custa a bagatela de 1,3 milhões de reais. Para acompanhar Jeff Bezos em seus quatro minutos de viagem suborbital, houve quem estivesse disposto a pagar 28 milhões de dólares, ou seja, cento e oitenta milhões de reais. E a fila de espera para os novos voos já programados é longa. Até o ano de 2030, o mercado do turismo espacial espera movimentar a soma de 8 bilhões de dólares.

Mas quem são essas pessoas dispostas a pagar essa soma exorbitante para ter o deleite de tão curta viagem? Muitos devem estar a se perguntar isso também. Eu tenho a resposta, fruto da nova convicção elaborada no choque de ver na TV as naves indo e voltando do espaço com seus turistas sorridentes. Na verdade, esses viajantes não são “pessoas”. São extraterrestres que, por acidente, acaso ou opção, vieram parar no Planeta Terra. Aqui eles vivem disfarçados esperando as condições para voltar ao seu lugar de origem. E, enquanto elas não chegam, aproveitam para subir e, lá de cima, dar uma espiadinha em direção ao lugar para onde desejam voltar.

Afinal, se fossem humanos, com certeza estariam se preocupando com os cinco ou mais milhões de mortos pela Covid19, os milhões de mortos pela fome e pelas guerras, os 70 milhões de deslocados e refugiados, as cidades caóticas em que vivemos, a Amazônia e o Pantanal em chamas, os oceanos inundados por plásticos, os lunáticos que governam tantos países. Quem não se interessa por esses problemas e se dá ao luxo de uma viagem de turismo espacial, só pode ser extraterrestre. Com certeza, humano não é.

Ah! E outra descoberta que fiz: aqueles extraterrestres que nos visitam em seus reluzentes OVNIs, são super-ricos de outros planetas que vieram dar uma voltinha por aqui, só prá se distrair. Oxalá não percam suas naves e possam voltar logo ao seu lugar de origem. Já temos extraterrestres demais por aqui!

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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