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Doença crônica: a divisão

Miguel Debiasi

Nos tempos atuais sofremos de uma doença crônica: a divisão. Basta olhar para a sociedade, para os governos, para os poderes públicos, as instituições e, sem exagero, constata-se isto de forma visível. E porque há tanta divisão? A resposta está nos interesses dos grupos e das pessoas. Os interesses entorpecem grupos, corporações e pessoas. Almejar um interesse de bem coletivo no presente contexto é um desafio. Postar-se contra essa luta demoníaca de interesses pessoais e privados é tarefa de todos os cidadãos.

A sociedade capitalista entorpece os corações e as mentes. A atual e cruel concorrência por capital causa a degradação social e humana. Estreitamente relacionado à concorrência vende-se a ideia de felicidade: quanto mais posses e mais consumo mais feliz poderá ser a pessoa. Em nosso país as divisões estão demasiadamente ao redor desta ideologia do estado atual das coisas na sociedade.

Uma parte da sociedade defende os interesses do mercado, visando favorecimento pessoal. É notório que esta parte se identifica com interesses do mercado, com assegurar seus próprios investimentos em ações na Bolsa de Valores, etc. Outra parte, a minoria, busca colocar interesses de caráter de bem coletivo. Mas estes não têm força suficiente. Consequentemente, em nível nacional, uma guerra se estabelece entre grupos, entre classes sociais.

Em defesa dos interesses da classe social privilegiada, a grande mídia tornou-se menos comunicação e mais negócio. Por abraçar esta causa, criou uma situação de ódio entre as pessoas, condição que está longe de gerar diálogo entre as partes e credibilidade nas instituições. Os detentores das concessões comunicativas se curvaram ao valor do mercado, manipulando informações e sonegando a verdade dos fatos. Contrapor isto, em prol do bem comum, é tarefa para livrar-se desta crônica doença do ódio.

Não bastante, a globalização da economia que tanto se defendia há décadas, tida como tábua de salvação do mundo, na verdade só favorece a poucos. Por conseguinte, a globalização mudou as ideias, as relações e a cultura de solidariedade da nação. Mesmo em tempo de crises, os defensores da economia global pregam com veemência a ideia de que ao salvar o sistema da economia resolvem-se todos os problemas sociais, como a pobreza e a exclusão. Na realidade, a globalização transformou o mundo numa pequena aldeia global, todos obrigados a conviver e intercomunicados aos mais desumanos interesses do mercado e dos poderosos grupos financeiros. Por sua vez, o Brasil é uma nação divida como foi sempre. Há de um lado quem enriquece às custas da miséria do povo e, do outro lado, os que padecem. Ademais, manter uma nação dividida interessa a quem sempre teve seus muitos ganhos econômicos, benesses e privilégios.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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