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Cultura e seus alicerces

Miguel Debiasi

As coisas se relacionam umas com as outras. Assim é com todas as coisas. A fé cristã significa ter profunda relação com o Deus crucificado. A aprovação de uma ideia é assegurada por ter boas intenções. A esperança, por acreditar em algo que é positivo. A honestidade, por ter muito de verdade. O mesmo acontece à cultura. Ela tem seus alicerces. Na atualidade, a cultura secular se relaciona pelos princípios da produtividade e do prazer. Pois bem, participar desta cultura é no mínimo desafiador para quem deseja ser diferente e manter importantes valores da tradição.

A partir do exposto, estudiosos da cultura atual afirmam que a cada quatro anos renovam-se os conhecimentos adquiridos. Tal fato e afirmação são no mínimo impactantes. Sem dúvida, ainda que não precise em grau e velocidade a mudança cultural, esta tende a identificar-se como a produtividade e o prazer. A princípio, a cultura da produtividade caracteriza-se pela mudança total. Espera-se sempre pela próxima novidade.

Para uns a veloz mudança de cultura é positiva e construtiva e para outros pode ser destrutiva. A grande força da mudança de era é o avanço tecnológico. Isso, no entanto, pode facilitar e harmonizar as pessoas, ambientes, ocupações, trabalhos. Para isto, basta ter condições de acesso e domínio da tecnologia. Considerando isto, na falta de acesso à cultura da produtividade vive-se em contradição com os novos ambientes. Como é lógico, para alguns a cultura da produtividade socializa, harmoniza, e a outros traz distanciamento e estranhamento. Às vezes a mudança cultural resulta em sofrimento por não assimilação. Sobretudo nesses casos não assegura condições e esperanças.

Falemos da cultura do prazer que incide sobre os valores normativos. Como se sabe, no seio familiar as mudanças de hábitos, costumes e tradições para alguns são sinônimo de sofrimento, algo inaceitável e causador de escândalo, enquanto para outros significam libertação da dor e do sofrimento. Como ficou dito, toda cultura tem seus alicerces, a secular no princípio da produtividade e do prazer. Como pano de fundo a cultura secular tem o desejo de afastar o sofrimento para que ninguém precise vivenciar o mundo como obstáculo. No campo normativo e religioso nada é mais rejeitado do que algo que ainda causa pecado, amarras e dor. Na dor experimentamos uma realidade fora de nós, uma realidade que não criamos ou imaginamos. No pecado experimentamos a dor da não conversão, da mudança total. Nas amarras experimentamos a dor da alienação, da não liberdade.

A pretensão da cultura secular é libertar as pessoas de suas ilusões culturais, soltá-las dos seus contextos ofuscantes, confrontá-las com a verdade de sua existência. Porque fica evidente seu estranhamento ao habitar em sociedade acostumada a manter tradições, costumes, ritos sólidos. A cultura da produtividade e do prazer identifica-se com os anseios e interesses do mundo. Contrapor-se a este movimento impõe limites, disciplinas e normas mais perenes.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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