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Aos magistrados regalias, aos trabalhadores sacrifícios

Miguel Debiasi

Você já se deu aumento de salário alguma vez? A pergunta não é um deboche, mas indignação com a forma nada ética de promover a desigualdade salarial no Brasil. A política do governo federal privilegia quem vive de regalias e sacrifica quem recebe míseros R$ 954,00 mensais. Dessa forma, governo e justiça promovem injustiças, desigualdade social, desemprego, fome, miséria, ódio, intolerâncias, etc.

Um país considerado sério estabelece uma política salarial que garanta o justo aos cidadãos indistintamente. Este país não é o Brasil. Ao considerar que o presidente da República chegou ao cargo por um golpe parlamentar e que em três anos promoveu o maior desmonte em políticas públicas, como privatização, sucateamento do ensino, postos de atendimento públicos, universidade, etc. Como se não bastasse, usurpou da democracia como mentor do golpe parlamentar através de articulação de senadores e deputados corruptos em parceria com os grandes meios de comunicação que prestam desserviço de desinformação à população.

Com isso, aos trabalhadores pesados sacrifícios como eles referem a situação: “sem eira nem beira”. Isto é, não possuem coisa alguma. Exatamente pobre, sem direitos. Logicamente, não poderia ser diferente. O salário mínimo teve um aumento de 1,81% em 2018, é insuficiente para qualquer cidadão adquirir o pão diário para sua família. Em contrapartida, o presidente da República aprovou um aumento de 16,38% para os ministros do Supremo Tribunal Federal e extensivo ao judiciário, magistraturas. O salário mensal de um trabalhador é de R$ 954,00 e dos ministros STF passou de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil, sem contar os auxílios.

Na política toma lá da cá, após o governo ter concedido aumento aos magistrados, o STF aprovou o projeto de terceirização irrestrita, agravando a situação dos trabalhadores. Em meio à maior crise econômica do país com aumento de 53% da pobreza nos últimos dois anos, o desemprego atinge 26 milhões de brasileiros mais pobres. Conceder aumento de salários aos magistrados é promover um Brasil desigual. Enquanto o governo diz não haver recursos públicos para os trabalhadores, aumenta a despesa em R$ 137,15 milhões com os membros do Judiciário, Legislativo e Tribunal de Contas, com aumento de salários de 16,38%. Isto somado aos penduricalhos como auxílios—moradia, educação, cultura, alimentação, embora vivendo em mansões.

O governo promove a maior desigualdade social da história do país. Como avisa o jornalista Laurez Cerqueira “a pobreza extrema nas periferias um dia irá aos centros, onde se acumulam a riqueza no capitalismo, buscar o que lhe é de direito". Acrescenta: "o cerco às castas dominantes de privilegiados que se formaram na sociedade brasileira pode ser tão grande que o país corre o risco de mergulhar num mar de sangue". O jornalista João Filho escreve “quando o assunto é dinheiro público, o tratamento dado é um para o trabalhador e outro para o judiciário”. Acrescenta: "o governo de Michel Temer segue sua sanha em cortar gastos públicos direcionados aos mais pobres. A última tesourada veio na forma de um decreto que irá dificultar o pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), um salário mínimo mensal pago a pessoas com deficiência ou com mais de 65 anos em situação de miséria".

O jornalista Kennedy Alencar diz "a decisão do STF de propor um aumento de 16,38% para os salários de ministros é um retrato da elite brasileira. Mostra falta de compromisso da elite e do STF com os mais pobres e com o próprio país". Acrescenta "só o egoísmo social e o encastelamento num mundo de privilégios explicam propor um reajuste numa hora de grave crise fiscal, com a volta de doenças do século 20, com cortes na saúde e na educação e com desemprego na Lua". Por conseguinte, a pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas mostra que a renda da população brasileira caiu 3,4% nos últimos três anos e, a concentração de renda aumentou em 3,2%. Isto representa um recorde nacional de desigualdade social. Lamentavelmente, promove-se regalias a poucos à custa do sacrifício da multidão.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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