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A parceira do rombo público

Miguel Debiasi

A jornalista Miriam Leitão, em sua coluna do jornal O Globo, escreve: “O país está acumulando um buraco de R$ 825 bilhões de 2015 a 2020”. A Globo, voz decisiva do golpe parlamentar de 2016, tem cobrado do governo sua contrapartida, pois a baixíssima popularidade do governo é desgaste para ela.

Há um ditado popular que diz: “promessa é dívida”. O ditado se aplica à relação Rede Globo e Michel Temer. Este, Vice-Presidente da República, teve várias reuniões de articulações políticas com os proprietários da Rede Globo em prol do impeachment da presidente Dilma. Em suas articulações a política econômica, social e de comunicação do governo PT confrontava os interesses da Rede Globo, como cobrar os impostos da empresa e pagamento da dívida ativa com a União.

Na época, com o faturamento em queda devido ao corte de verbas do governo para a comunicação, a citada empresa e grupos de políticos como o vice-presidente e empresários da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) traçaram o plano de desgaste do governo petista e a formação de opinião pública pela cassação da presidente. Tal plano exigia contrapartida do governo Michel Temer em fazer reformas como a trabalhista, com a flexibilização das leis do trabalho; a da previdência na pretensão da privatização da seguridade social; da política com a volta da elite ao comando do país. Parte do plano maquiavélico deu certo com a cassação da presidente; de outra parte, as reformas estão pela metade com a economia em recessão.  

Agora, em cenário de total descrédito do governo, devido à corrupção, inviabilidade das reformas, da recessão econômica e de aumento do rombo público, o grupo Rede Globo toma distância da Era Temer. Se não bastasse, saldo negativo em seu faturamento e queda de audiência, a Rede Globo vê seu logotipo em cartazes espalhados pelos estádios do país como os dizeres: Rede golpe. Acresce às manifestações o desgaste nas redes sociais e seus repórteres escrachados pelas ruas, aviões, locais públicos. Enquanto isto, o governo temendo a perda do apoio da Rede Globo contra-ataca com projetos antipopulares, condição exigida para o sustento politico.

Dessa forma, uma das medidas tomadas pelo governo, a própria jornalista Miriam Leitão indica “sair de um buraco desse tamanho, o governo prevê privatizações das empresas estatais”. Em outras palavras, os empresários e Rede Globo insatisfeitos com Temer, veem como única saída privatizar, entregar o capital nacional aos grupos econômicos. O governo aguado pelos padrinhos políticos e pela madrinha e sem votos para as reformas, lança o pacote de bondade aos grandes empresários, privatizar 57 empresas estatais e os ativos públicos. Nestas medidas os bancos tiveram suas dívidas perdoadas, atendidos os interesses do capital financeiro.

Na verdade, o estado brasileiro está sendo destruído, a economia desnacionalizada, os trabalhadores sacrificados com a perda dos direitos e a sociedade fragmentada em ódio político. O colapso político é tudo o que sistema deseja de uma nação, fácil fica a manipulação dos cidadãos. Na realidade, um governo sem interlocução com a sociedade e refém da base política que cobra “promessa é dívida”. Nesta situação “promessa é dívida”, nada tendo com honra, moral, pagamento justo, mas com o governo entregar o cofre público para manter-se no cargo. Por fim, na antevéspera de nova eleição e vendo seu fracasso nas urnas, o governo propõe a troca do sistema político, do presidencialismo para o parlamentarismo. A razão é óbvia os depostos do comando injustamente, tornam-se novamente a única esperança do povo. 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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