Dona de casa asilar de Caxias do Sul que registrou surto da Covid-19 conta sobre o período do contágio
Baixar ÁudioEm entrevista à Tua Rádio São Francisco, uma das proprietárias da instituição relata o trabalho da equipe desde os primeiros casos positivos até a disseminação da doença, em junho deste ano
(A pedido da entrevistada e para não gerar represálias à instituição, a reportagem a Tua Rádio São Francisco não divulgou o nome do local e o de uma das proprietárias da casa asilar)
Seis casos positivos de Covid-19 foram registrados em uma casa asilar, no bairro Nossa Senhora de Lourdes, conforme o balanço da Prefeitura de Caxias do Sul na quinta-feira (16/07). Esta foi a segunda Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) que contabilizou infectados na cidade. Para entender a realidade desses locais em meio à pandemia, a Tua Rádio São Francisco entrevistou uma das proprietárias da residência asilar que registrou um dos primeiros surtos do novo coronavírus no município, em junho deste ano. O espaço já foi comunicado pelo governo estadual que está livre da disseminação.
Antes do contágio, ela conta que a instituição tomou os cuidados necessários para evitar que a doença chegasse aos funcionários e residentes. Em março, foram vedadas as visitações para os moradores, que ficaram isolados e apenas tinham contato com os profissionais. Os familiares foram avisados sobre essa proibição e aceitaram a decisão. Outra medida foi disponibilizar meios de prevenção contra a Covid-19 aos colaboradores, como máscaras de proteção e demais Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
“Orientamos os funcionários e fizemos um treinamento com eles sobre a Covid-19 e os cuidados que deveriam ter com os idosos e com si próprio. Exigimos algumas atenções para entrar na casa asilar, como usar os EPIs, higienizar as mãos e trocar a roupa que veio da rua.”, completa.
As medidas não foram necessárias para impedir o surto no mês passado. Conforme dados disponibilizados pela ILPI registrou-se 16 casos positivos de Covid-19, sendo seis colaboradores e 10 idosos. Com a chegada do contágio, a proprietária conta que os primeiros infectados foram funcionários, que apresentaram sintomas do novo coronavírus. Alguns foram afastados imediatamente do local e outros nem foram trabalhar no dia seguinte ao diagnóstico confirmado ou a sintomas apresentados. Os profissionais receberam orientação para ficarem em casa durante os 15 dias de quarentena e procurarem ajuda médica contra a doença.
Os idosos da ILIPI
Em relação aos idosos, a instituição notificava o setor de Vigilância Epidemiológica, da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), quando havia alguém com indícios do vírus, a fim de saber como proceder com a situação. Os contaminados eram separados do restante dos residentes, como parte do plano de ação da casa asilar.
“A gente tentou deixar esse idoso isolado, com quarto, banheiro, televisão e uma poltrona, para que pudesse ficar confortável. Mas tiveram alguns que encaminhamos aos hospitais da cidade, pois apresentaram piora no quadro de saúde.”, destaca.
Dos positivos, foi apontada a morte de três idosos pela ILPI. Até o momento, isso a tornou a única casa asilar a registrar falecimentos em suas dependências por Covid-19 no município. As vítimas vieram a óbito por complicações decorrentes do novo coronavírus. A proprietária do lugar relata que ao avisar as famílias sobre o ocorrido, não houve revolta por possíveis descuidados preventivos, pois estavam cientes das precauções que o asilo tomava para proteger os moradores.
“Fomos sempre muito claros com os familiares desde o início. Os idosos que, infelizmente tiveram esse desfecho, as famílias tinham ciência que algum óbito poderia ocorrer pela doença, uma vez que estamos no meio de uma pandemia. Infelizmente, os idosos tinham problemas de saúde que agravaram com a contaminação.”, detalha.
Experiência pessoal com a doença
A proprietária da ILPI foi uma das infectadas pela Covid-19. Ela conta que assumiu o risco, porque tinha que administrar o espaço. Quando descobriu que estava com o vírus, não ficou preocupada. O foco era que os idosos estivessem em segurança.
“O meu sentimento, vou ser bem sincera, não foi de preocupação comigo, pois eu sou jovem e saudável. E os sintomas que tive foram bem leves, nem tive febre. A nossa maior aflição era pelos moradores, são os mais debilitados. Infelizmente, a gente teve essas perdas de nossos vovôs e nossas vovós que eram muito queridos por todos.”, declara.
Mais testes
A Prefeitura de Caxias do Sul está em andamento com a segunda rodada de testes para diagnóstico da Covid-19 nas ILPIs. Até o momento, foram visitadas seis casas asilares e aplicados 170 testes rápidos.
Na primeira fase, 1.179 testes rápidos foram aplicados em 30 casas asilares do município.
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