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Quarto domingo da quaresma

por João Carlos Romanini

Subsídios exegéticos para a liturgia dominical - ano A 22/03/2020

Foto: Divulgação

Subsídios exegéticos para a liturgia dominical - ano A 22/03/2020

Quarto domingo da quaresma

Evangelho:  Jo 9,1-41

Primeira Leitura:  1Sm 16,1b.6-7.10-13a

Segunda  Leitura:  Ef 5,8-14

Salmo:  23,1-6

 

O Evangelho

Já no prólogo do quarto evangelho, Jesus é apresentado como luz do mundo (Jo 1,4-9). Agora este tema é ilustrado de forma concreta. Mais do que pensar em cegueira biológica, deve-se ver no relato o confronto entre a luz (Jesus) e as trevas (adversários de Jesus: autoridades religiosas). No primeiro dia da criação, Deus criou a luz (Gn 1,3s). Mas esta luz foi ofuscada pelo pecado. A própria religião do AT era uma petrificação casuísta da Lei, da Profecia e da Sabedoria. Tudo isto deixava as pessoas na cegueira. Jesus, o logos de Deus é a luz definitiva que agora plenifica a luz iniciada no primeiro dia da criação. Em Jesus toda obra de Deus chega a sua realização total.

De acordo com Ex 20,2ss Deus castigava os pais nos filhos e netos. Os discípulos veem a deficiência física do cego como castigo de pecados, talvez praticados por antepassados deste homem. Esta visão, no entanto, é falsa. Jesus, a verdadeira luz, vem iluminar esta situação. A prática de Jesus se choca com a visão do AT. Ou seja, a Lei e a Sabedoria eram vistas como a luz dos israelitas. Mas no relato de hoje, a Lei (sábado) e a sabedoria (interpretação como castigo) são justamente o empecilho da verdade. Na realidade, são trevas e opressão. Jesus assume o lugar da Lei e da Sabedoria com sua luz e muda o cenário. Agora os representantes do AT entram em conflito com Jesus. A verdadeira luz ilumina os que a aceitam (Jo 1,11-12). A luta travada pelos representantes da Lei (sábado) com Jesus mostra a caducidade da compreensão empedernida de uma prática religiosa que já não pode iluminar as pessoas. Isto só acontece na pessoa e na prática de Jesus.

A liturgia do quarto domingo da quaresma coloca este relato, não para realçar um milagre no estrito sentido do termo, mas para preparar os catecúmenos que iriam ingressar na comunidade de fé. Todo candidato ao batismo deveria ver no relato a sua própria história. Antes da conversão era um cego condicionado por uma teologia ultrapassada (Ex 20,2ss – um Deus que castiga pais nos filhos), mas agora, mediante a palavra de Jesus, simbolizada na saliva, era recriado. A saliva de Jesus fez barro (cf. Gn 2,7), cria o homem novo e através da água do batismo (piscina de Siloé) leva o batizado a enxergar a verdade de Deus. Os novos membros da Igreja eram iluminados. Já não podiam mais estar nas trevas como antes do batismo. O evangelho os transformava em novas criaturas.

Mas agora inicia um novo capítulo: o iluminado já não é mais reconhecido e entra em choque com os valores tradicionais (sábado). Os batizados viviam novas maneiras que deixavam os de fora perplexos. Prova de que a evangelização e o batismo transformavam as pessoas. Agora, vivendo na luz de Cristo, a incompreensão se torna evidente. Os cristãos vivem na contracorrente da história. Os representantes do sábado (religião petrificada, mantenedora da cegueira) não suportam a vida nova em Cristo e perseguem os convertidos.

Relação com 1Sm 16,1b.6-7.10-13a

A lógica de Deus não é a lógica humana. Samuel tinha a missão de ungir um rei para Israel. Pensou no primogênito de Jessé, o mais forte, o mais astuto, o mais belo. Mas o escolhido foi o último, um adolescente, quase uma criança. A cegueira humana vê as aparências, julga a partir de critérios diferentes de Deus. Pedro pensava as coisas dos homens e não de Deus (Mc 8,32-33), os coríntios pensavam em milagres e belos discursos (1Cor 1,18ss), mas em todos estes acontecimentos, entra em cena a lógica de Deus que escolheu a humilde serva, menina virgem, como mãe de seu filho (Lc 1,26ss). Quem recebeu a luz de Cristo, como Samuel, como Pedro, como Paulo deve enxergar o mundo com outra luz. As pessoas verdadeiramente evangelizadas se baseiam em valores que a lógica meramente humana não consegue abarcar. Fica um apelo: o olhar cristão, iluminado pelo evangelho, pode se conformar com os valores que norteiam as relações comerciais e ideológicas deste mundo?

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da

Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE FRANCISCNA

Rua Tomas Edson, 212 – Bairro Santo Antônio – Porto Alegre RS

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Fone: 51-32 17 45 67     Whats: 51-991 07 26 40

 

Este texto pode ser compartilhado e reproduzido com a devida indicação dos autores.

 

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