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Subsídios Exegéticos para o 11º domingo do tempo comum Ano B

por João Romanini

Liturgia Dominical 11º Domingo Do Tempo Comum Dia: 13 de junho de 2021

Foto: Divulgação

Primeira Leitura: Ez 17, 22-24

Salmo: 91, 2-3.13-14.15-16

Segunda Leitura: 2 Cor 5, 6-l0

Evangelho: Mc 4, 26-34

 

O Evangelho de hoje conta duas parábolas. A parábola, no mundo judaico, era a forma para ensinar o povo simples. Mas a parábola ao mesmo tempo que revela, esconde, porque é sempre uma comparação com imagens. Só entende a parábola quem conhece as imagens. Quem conta a parábola parte de uma realidade conhecida pelos ouvintes e os leva a tirar uma conclusão, por vezes julgando os fatos e os personagens da história contada.

As parábolas do evangelho deste domingo apresentam dois aspectos do Reino de Deus. Na primeira parábola, um aspecto individual (Mc 4,26-29); na segunda parábola, um aspecto comunitário (Mc 4,30-34). As duas parábolas de hoje falam do ambiente rural, pois a maior parte da população da Judeia nos tempos de Jesus morava e trabalhava no campo. Para compreendê-las melhor, é necessário ter algumas informações.

As duas parábolas falam de um solo fértil. Nos tempos de Jesus, os terrenos mais férteis e produtivos encontravam-se na Galileia. Aliás, é onde Jesus reúne uma multidão para ensinar em parábolas (Mc 4,1).  Mas já havia naquele tempo uma concentração de propriedades rurais, em modo semelhante ao que hoje chamamos de “latifúndios”. Em alguns casos, os donos viviam longe (na Judeia ou até mesmo em Roma) e quem trabalhava a terra eram os diaristas, que recebiam baixos salários: uma dacma grega ou um denário romano. Ambas as moedas tinham valor equivalente: cerca de 4 gramas de prata (menos de R$ 20,00!). Este dinheiro era suficiente apenas para alimentar quatro pessoas por um dia.

A primeira parábola (4,26-29) é exclusiva de Marcos, isto é, não é encontrada nos outros evangelhos. Nela, o Reino de Deus é como o homem “que joga a semente na terra”. Devemos notar: é como o agricultor, e não como a semente. Não obstante, o desenvolvimento do Reino é um mistério: não depende do agricultor, e sim da força da terra: “Quer ele durma, quer desperte, noite e dia, a semente germina e cresce” (v.27). Isso não significa que a parábola estimule a acomodação e a preguiça; ao contrário, convoca à esperança: a semente semeada produzirá frutos e haverá colheita, pois o Reino tem sua própria dinâmica e sua própria força, independente dos conhecimentos e da vontade de quem trabalha por ele.

Para os hebreus, desde a germinação até o amadurecimento das plantas, o sucesso da lavoura dependia de uma intervenção direta de Deus. A colheita, portanto, era um dom divino. Por meio desta parábola, Jesus expressa sua certeza de que o Reino de Deus chegará, porque é obra do próprio Deus. A ação de quem se compromete com o Reino não substitui a ação de Deus: o discípulo planta, rega, mas quem dá o crescimento é Deus (mesma imagem usada por Paulo, em 1Cor 3,6). Por outro lado, Deus também não dispensa a colaboração das mulheres e dos homens comprometidos com a transformação da história e da sociedade.

A primeira parábola termina com a afirmação de que, “quando o fruto está pronto, imediatamente passa‑se a foice, porque chegou a colheita” (v. 29). O símbolo da colheita tem grande significado na tradição bíblica: é o tempo da festa e da alegria, é o tempo em que Deus presenteia seu povo com os frutos (Is 9,2; 17,5-7).

A segunda parábola (vv. 30-32) não fala da semente em geral, mas fala especificamente do grão de mostarda. Também não fala do crescimento misterioso do Reino, mas do contraste entre a situação inicial e o resultado. O ponto de comparação não é o sabor da mostarda, mas a força escondida no grão. A interpretação usualmente feita refere-se à menor semente que se torna a maior das hortaliças. De fato, as plantas de mostarda encontradas ao redor do lago da Galileia são arbustos que podem chegar a três metros de altura. Mas talvez haja outra possibilidade de ler esta parábola.

O escritor romano Plínio, o velho, (23-79 d.C.) escreveu que a mostarda, com seu sabor extremamente picante, era uma planta silvestre que se propagava e fugia rapidamente do controle, principalmente nas terras férteis da Galileia. O grão minúsculo era levado pelos ventos e os pés de mostarda se multiplicavam a ponto de ocupar as terras em que não era desejada e impedir o crescimento de outras plantas.

A mostarda, portanto, tem ao menos três características – o sabor marcante, o crescimento acima do aparente e a expansão além do terreno semeado – que ajudam a compreender a força do Reino de Deus: embora a ação dos cristãos seja modesta e aparentemente inútil, o Reino se realizará com toda a sua grandeza. Para quem espera um reino que chega em modo triunfal e com cataclismos cósmicos, Jesus afirma que a ação de Deus já está acontecendo, no ministério humilde e pouco espetacular dos discípulos.

Os vv. 33-34 são a conclusão do discurso parabólico do capítulo 4 do evangelho de Marcos. Devemos notar a diferença entre “multidão” e “discípulos”. A multidão é o povo em geral, que seguia Jesus e que, apesar de ouvir seus ensinamentos, não se comprometia com ele. Os discípulos são os que pertencem a um grupo mais próximo, que acompanha Jesus e recebe uma instrução mais aprofundada.  O texto não diz que Jesus fala o que o povo quer ouvir, nem o que o povo tem a capacidade de aceitar. Ao contrário, Jesus usa a linguagem que o povo entende até mesmo para repreender o povo. Mesmo assim, para a multidão, as parábolas permanecem um certo enigma, porque ao mesmo tempo em que revelam, escondem. Aos discípulos, porém, Jesus reserva um ensinamento mais explícito: desde o início, ele os prepara para a missão.

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

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