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Subsídios exegéticos para o 6º Domingo da Pascoa - ano B

por João Romanini

Roteiro para uma refelxão do Domingo 09 de maio 2021

Foto: Divulgação

Subsídios exegéticos para o 6º Domingo da Pascoa - ano B

 

6º Domingo da Páscoa

Dia: 09 de Maio, de 2021

Primeira Leitura: At 10,25-26.34-35

Salmo: 97,1.2-3ab.3cd-4

Segunda Leitura: 1Jo 4,710

Evangelho: Jo 15, 9-17

 

Evangelho

O texto deve ser lido dentro do discurso de despedida de Jesus (Jo 13-17) e, portanto, tem valor de testamento. Alguns biblistas creem que estes capítulos receberam influência das celebrações eucarísticas narradas nos evangelhos sinóticos (Mc 14,22-25; Mt 26,26-29; Lc 22,15-20), onde se renova a Aliança. Ora, a Antiga Aliança era a observância das leis. Jo 15,9-17 ilustra esta observância a partir na perspectiva de Jesus, onde há apenas uma lei: o amor.

A presente perícope é o desdobramento da alegoria da videira verdadeira (Jo 15,1-8). A palavra chave que perpassa a perícope, pode ser definida como “permanecer”: no amor de Jesus, no amor do Pai e no amor da comunidade. O amor, síntese de toda Lei, é o elo  deste “permanecer”. Assim sendo:

  1. Vv 9-10 – o amor entre o Pai e o Filho se expressa na comunidade através dos discípulos que amam. O amor do Pai no Filho produz a comunidade, portanto, nela se faz a experiência do amor de Deus através de Jesus, que é a imagem (Cl 1,15) e o resplendor do Pai (Hb 1,3). Este amor requer da comunidade, frutos. O membro da comunidade que não se deixa atingir pelo amor do Pai no Filho, se exclui a si mesmo como o ramo decepado que não recebe a seiva do tronco;
  2. V 11 – O amor traduzido em compromisso, gera a felicidade, tema muito presente no evangelho de João (Jo 3,29; 14,28) e chega à culminância durante a experiência da ressurreição, quando os amedrontados discípulos se enchem de alegria (Jo 20,20);
  3. Vv. 12-13 – Já no AT existe o mandamento do amor (Lv 19,18). Porém, aqui se substituiu “o amar como a si mesmo” por “amar como eu vos amei”. Este preceito remete à experiência da cruz.  Amor que levou Jesus a assumir a doação total deve ser a máxima para os seguidores. A cruz é a marca maior do amor de Jesus: doar a vida pelos amigos;
  4. Vv.14-17 – O amor de Cristo vivido na comunidade muda as relações de servos em amigos, isto é, comunidade sem distinção com comunhão total. Amigos diferem de servos nas relações. Esta novidade é iniciativa de Jesus, pois foi ele que escolheu os amigos. A estes cabe responder na gratuidade, dando frutos que são a consequência do amor.

Na concepção do AT, havia 623 leis com comentários explicativos que tornavam a prática religiosa um peso insuportável (Mt 11,28) que nem Pedro conseguiu suportar (Gl 2,14). Observando todas estas leis, o fiel estaria cumprindo com fidelidade a vontade de Deus. Jesus, em Mc 12,29-31 resume todas estas leis em dois mandamentos: amor a Deus e amor ao próximo. Já no quarto evangelho ele reduz tudo a um único mandamento: o amor ao próximo, como também em se lê em Gl 5,15. João, porém, acrescenta “como eu vos amei”. Portanto, na nova aliança, não é preciso conhecer 613 leis, nem seus comentários detalhados. Basta apenas permanecer no amor de Jesus, pois assim, sintoniza com o Pai e se produz frutos na comunidade e se cumpre tudo o que a velha Lei nunca conseguiu.

No amor do discípulo, manifesta-se o amor de Deus revelado em seu Filho na doação da vida e aí os frutos serão a lógica do caminho da cruz. Como o ramo produz frutos ao receber a seiva do tronco (Jesus), cultivado pelo agricultor (Pai), a pessoa de fé produz frutos oriundos do amor de Jesus que tem sua origem no amor do Pai. Aqui as boas obras não são méritos humanos para agradar a Deus, mas antes, são as consequências de quem mergulhou no amor de Deus que perpassa toda a vida da comunidade.

Relação com as outras leituras

O amor de Deus manifestado em Jesus (1Jo 4,10) chega a todas as pessoas indistintamente, o que não era assim entendido pelos primeiros discípulos de origem judaica, pois achavam que a salvação era só para os circuncisos. Ora, se este amor gratuito chega a todos, Pedro (At 10,25-26.34-35) é o primeiro a fazer a passagem de uma visão exclusivista e racial para uma nova realidade: o pagão Cornélio, um oficial romano, é admitido na comunidade. É o amor de Deus revelado em Jesus que produz frutos entre os discípulos que agora acolhem a todos.

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF

Dr. Bruno Glaab – Me. Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

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