José Clemente Pozenato: escritor por toda a vida
Escritor gaúcho foi o entrevistado do programa Conectado Perfil desse sábado
Foi na infância que ele deu os primeiros passos na Literatura. O pai era professor municipal e fez questão de apresentar clássicos ao filho. Machado de Assis sempre esteve por perto. Aos cinco anos, o menino José Clemente Pozenato já não queria largar os mais novos grandes amigos. “Minha mãe dizia: ‘Fecha o livro. Tu vai estragar as vistas’”, conta.
Naquele início dos anos de 1940, poucas famílias viviam na localidade de Santa Tereza, em São Francisco de Paula (RS). Energia elétrica não havia. Ler durante o dia estava liberado. “Na realidade, quem me alfabetizou foi ela (a mãe). Eu queria aprender a ler e ela me mostrou as letras”, relembra, saudoso.
Ele, criança, só sabia que gostava de ler. Era o suficiente para ser feliz. Talvez hoje entenda que aquele foi o início de uma carreira promissora e de muito sucesso. Hoje, José Clemente Pozenato é reconhecido como um dos grandes escritores brasileiros.
Dentre os livros publicados, O Quatrilho é o de maior sucesso. Ele mesmo reconhece e brinca com isso. “Até mesmo um colega escritor, Luiz Antônio de Assis Brasil, quando começou o sucesso do livro, me disse: ‘Você vai viver uma maldição. Você pode publicar 20 livros e vai ser conhecido como o autor de O Quatrilho’”, conta, sorrindo. O livro foi parar nas telas de cinema de vários países. Concorreu ao “Oscar de Melhor Filme Estrangeiro”, em 1996.
Falar sobre “as coisas daqui” sempre agradou a Pozenato, mas ele não romantiza o movimento de imigração italiana na Serra Gaúcha. Em O Quatrilho, cutuca as autoridades políticas e religiosas. Revela aspectos até então escondidos da moral (ou falsa moral?!) dos moradores da região. A troca de casais da história do livro (exibida também no filme) deixou muita gente desconcertada.
Por conta disso, o escritor recebeu duras críticas. Pozenato revela que a semana de lançamento do livro, em Caxias do Sul, foi de muita angústia para ele. Na véspera do evento, só conseguiu dormir depois de decidir que mudaria para o Rio de Janeiro se as críticas fossem duras demais. “E, para minha surpresa, as primeiras leitoras – estou dizendo mulheres que leram O Quatrilho – me aplaudiram. Com isso, eu senti que todo um mundo feminino que era reprimido pela cultura local encontrava de alguma forma um espaço para dizer algumas verdades”, lembra ele, também sorrindo.
O sorriso, aliás, é uma das marcas de Pozenato. Daqueles serenos. Fruto da experiência e da satisfação de viver rodeado de carinho. Hoje, aos 80 anos, ele ainda escreve romances e faz traduções. “Para chegar aos 80, tem que ter projetos e afetos. Considero que sou muito cuidadoso com os afetos. Aí então os projetos vão em frente. A coisa mais triste do mundo é se sentir sozinho. Tendo afetos, a gente nunca está sozinho”.
Ouça a entrevista completa no podcast ao lado e conheça mais histórias de José Clemente Pozenato.
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Nota do autor (imprescindível, nesse caso):
Tarefa ingrata: escrever sobre a vida e a obra de um escritor. “Nunca parei para pensar nisso”, disse Pozenato, nos bastidores, no intervalo do programa. Nem eu tinha pensado nisso, até o momento em que fui desafiado a escrever sobre o autor de O Quatrilho.
Aceito. Inspiro, transpiro. Escrevo. E compartilho esse texto com a lucidez e a tranquilidade de reconhecer que ele não dá conta de tudo o que precisa ser dito sobre José Clemente Pozenato. Ele é um dos grandes escritores brasileiros da atualidade. Mantém a lucidez e a serenidade de sempre. Diz que prefere ouvir a falar. Eu também.
Aliás, na manhã desse sábado (30), em que o entrevistei, ouvi com ainda mais atenção que o normal. E só cresci. Aprendi. Convido você a fazer o mesmo.
Jeferson Ageitos
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