Nanetto motiva homenagem na Festa da Uva
Carro do desfile cênico-musical lembrará expoentes da cultura, como Frei Aquiles Bernadi
Foto: Luciane Modena/Divulgação
Assistir aos desfiles cênico-musicais da Festa Nacional da Uva, em Caxias do Sul, é reviver o passado e exaltar conquistas. Neste ano, obras marcantes da cultura da imigração italiana ganharão destaque em um dos carros alegóricos. Frei Aquiles Bernardi (1891-1973), conhecido como frei Paulino, será homenageado pela criação do personagem Nanetto Pipetta, junto a outros escritores e artistas.
Conforme Nivaldo Pereira, roteirista do desfile cênico-musical da Festa da Uva, o carro será uma homenagem aos intérpretes da cultura local: autores e artistas que criaram, traduziram e interpretaram a história da imigração italiana. “Tive essa ideia porque quero celebrar aqueles que contribuíram para a construção de uma cultura que se mantém até hoje”, destaca.
Segundo Pereira, os homenageados serão lembrados por suas obras. Frei Aquiles Bernardi é lembrado pelo livro “Vita e Stòria de Nanetto Pipetta – Nassuo in Itàlia e vegnudo in Mèrica per catare la cucagna”, no qual apresenta o personagem Nanetto Pipetta e conta suas primeiras histórias.
Também serão homenageados o poeta Ítalo João Balen, por sua obra “Pesos e Medidas”; o historiador João Spadari Adami, com “História de Caxias do Sul, 1864-1962” e o antropólogo Thales de Azevedo, com o livro “Italianos e gaúchos: os anos pioneiros da colonização italiana no Rio Grande do Sul”. Outros três autores contemporâneos integrarão a homenagem: a antropóloga e historiadora Cleodes Maria Piazza Julio Ribeiro, por meio da obra “Festa & Identidade: Como se fez a Festa da Uva”; Carlos Henrique Iotti, por meio do “Gibizon do Radicci” e José Clemente Pozenatto, com a trilogia “O Quatrilho”, “A Cocanha” e “A Babilônia”.
Os desfiles ocorrerão nos dias 18, 20, 21, 26, 27 e 28 de fevereiro e 5 e 6 de março, às 20h, na Rua Plácido de Castro, em Caxias do Sul. A entrada é gratuita. Arquibancadas custam R$ 30 (pessoas acima de 60 anos e estudantes pagam R$ 15).
Nanetto completa 92 anos
Em 23 de janeiro de 1924, frei Aquiles Bernardi publicava a primeira história de Nanetto Pipetta, no então Stafetta Riograndense. O jovem que deixou a Itália em busca da sonhada cucagna trouxe em suas histórias os costumes e anseios de um povo que lutou por uma vida melhor. A publicação seguiu até 18 de fevereiro de 1925, quando frei Bernardo de Puigros, então diretor do jornal, resolveu publicar, em italiano, aventuras de Robinson Crusoé. Frei Aquiles terminou o seriado com Nanetto se afogando no Rio das Antas, para desespero dos leitores. As histórias foram publicadas em livro, em várias edições.
O personagem retorna ao jornal por iniciativa do escritor e advogado Pedro Parenti (1951-2000), que interpretou Nanetto no teatro. Apoiado pelo então diretor do CR, frei Moacir Molon, Parenti iniciou o seriado El Ritorno de Nanetto Pipetta em 19 de fevereiro de 1999. Desde seu falecimento, diversos autores escreveram novas aventuras do personagem, em talian: Silvino Santin, Antonio Martelini, Valter Baggio, Eduardo Grígolo, Rafael Baldissera, Antônio Baggio, Sergio Angelo Grando, Ivo Dal Moro, Luiz Bavaresco, Mário Gardelin e Marcelino Dezen.
Onde encontrar: Quem visitar os Pavilhões da Festa da Uva poderá tirar uma foto com Nanetto. Há uma estátua no local, obra do escultor Roberto Mugnol, que ilustra o ator Pedro Parenti na pele do personagem.
Onde ler as histórias: nas edições do Correio Riograndense, no site www.correioriograndense.com.br e nos livros Vita e Stòria de Nanetto Pipetta, do frei Aquiles Bernardi; El Ritorno de Nanetto Pipetta, de Pedro Parenti; Nanetto in Val Veneta, de Rafael Baldissera; Nanetto in Strada, de Eduardo Grígolo; Nanetto in Meso e Bùlgari, de Antonio Baggio e Nanetto nel Mondo, de Mário Gardelin.
Rumo aos 500
Ler as instruções, imaginar a cena, rascunhar e finalizar. Duas horas depois, está pronta a ilustração de mais um episódio do El Ritorno de Nanetto Pipetta. Assim é o trabalho de Derli Dutra, 64 anos, de São José do Ouro/RS, que pouco entende talian. Ele espera chegar aos 500 desenhos neste ano. “Como tenho o recorte de todas as publicações, observo a evolução da imagem que criei. O trabalho hoje é mais cuidadoso. O Nanetto que desenho tem um pouco de meus amigos de origem italiana, sem ter a aparência de nenhum deles. É uma síntese dos colonos que conheço”, define.
Três escritores mantém Nanetto vivo no CR
Atualmente, três escritores mantêm Nanetto Pipetta vivo. O CR conversou com Eduardo Grígolo, 66 anos, Marcelino Carlos Dezen, 61 anos, e Sergio Angelo Grando, 68 anos, sobre suas inspirações e ideias. A entrevista completa você confere na edição impressa, de 20 de janeiro de 2016. Confira um trecho:
CR: Na sua ótica, quem é Nanetto Pipetta e o que ele representa?
Eduardo: O Nanetto é uma pessoa que não envelhece nunca! Está sempre de bem com a sua vida e pouco se importa com a vida dos outros. Não tem maldade em seu coração! Enfim, o Nanetto representa, na minha visão, o tipo de pessoa que todos deveríamos ser: simples, persistente, voluntarioso, honesto e feliz.
Marcelino: Para mim, Nanetto Pipetta é todo aquele sonhador que está em busca da sua sorte grande (cucagna), que quer ser alguém na vida, que pensa em construir seu pequeno patrimônio, ter seus confortos, seu pedacinho de terra, sua Gelina, sua família. Mas acima de tudo, Nanetto representa cada um de nossos antepassados, que deixaram a Itália, pobres, desiludidos, praticamente expulsos de seus país de origem, e foram em busca de seus sonhos, com coragem, determinação, luta. E venceram.
Sergio: Nanetto Pipetta é o colono italiano despojado, amigo, trabalhador, sincero, mas com um veio andarilho. Um ser simples na sua maneira de ser e ao mesmo tempo, complexo no seu olhar do porvir. Ele representa nossos pais, avós e nos representa, à medida em que colocamos em prática os ensinamentos inerentes à condição de descendentes orgulhosos daqueles que fizeram La Mèrica.
Comentários