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Rogério de Mello: as bancas de Porto Alegre como modelo para o próprio negócio

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Este é o terceiro de quatro episódios da série “Jornais, revistas e muitos mais: as vidas por trás das bancas de Caxias”, que conta a trajetória dos proprietários dos espaços na cidade

Foto: Rodrigo Fischer/Divulgação

A história do caxiense Rogério de Mello com as bancas inicia em 1979, em Porto Alegre, como supervisor de vendas em uma empresa. Aos 26 anos, estava cansado de um trabalho que considerava monótono e queria um negócio próprio para ganhar sua liberdade financeira. Um sonho de jovem. O que parecia estar apenas no pensamento tornou-se realidade em uma conversa com seu primo Nelci. A sugestão: abrir uma banca de jornais e revistas.

Pelas ruas da capital, Nelci levava Mello em alguns locais e mostrava como era rentável esse tipo de estabelecimento. De banca em banca, ele viu que dava para ganhar seu sustento com o negócio. Abrir o empreendimento em Porto Alegre não foi uma opção. No mesmo ano preferiu retornar a sua terra natal: Caxias do Sul. De volta, se reuniu com antigo secretário de Urbanismo e teve a autorização para abrir o empreendimento na Praça João Pessoa. Este foi o primeiro passo de 40 anos de um trabalho dedicado para a cultura.

“Essa história começou há 40 anos, quando eu era supervisor de vendas em Porto Alegre. Eu sempre tive vontade de ter meu negócio próprio e ser patrão de mim mesmo. Coisa de jovem. Conversando com meu primo sobre montar alguma coisa, ele me sugeriu ter uma banca. Na época, ele me conduziu, em Porto Alegre, para algumas bancas e vi que financeiramente era possível sustentar uma família. Aí retornei para Caxias no mandato do prefeito Mansueto de Castro Serafini Filho. Meu pai, que era amigo dele, conseguiu  uma audiência com o secretário de Urbanismo e tivemos a licença para montar o negócio.”

A rotina quebrada

Não foi apenas Ivanda Francescatto e Roque Simas que tiveram um começo difícil, Rogério Mello também enfrentou dificuldades. As vendas de seus produtos eram baixas quando iniciou a banca. Nem a movimentação do antigo Cine Real ajudou o negócio na época. Com o tempo, o município aumentou sua expansão urbanística, a diversificação na economia e a população. Junto desse novo contexto, a banca ficou lucrativa. E Mello viu entrar o dinheiro necessário para criar sua família e pagar os estudos das duas filhas: Meri e Robenise. Atualmente, uma trabalha na área da psicologia e a outra é administradora de empresas.

“Começamos a trabalhar nessa época, perto de onde era o Cine Real, depois se transformou nas Lojas Brasileiras e, agora, é o Makro Calçados. O começo foi muito difícil, pois a cidade era pequena. Com o passar do tempo, o município foi crescendo e o negócio melhorando. Pude formar minha família e garantir os estudos das duas filhas. Uma é psicóloga e a outra é administradora de empresas. E assim foi minha vida, durante 40 anos trabalhando de domingo a domingo.”

Ele queria que sua rotina fosse todo dia rumo à banca, de domingo a domingo, para se dirigir ao mesmo lugar que o fez largar a capital e formar a família que se orgulha. A vontade estava ali, fazia 40 anos. Mas, em 2019, mudanças viriam. Mello viu seu negócio ser retirado de suas mãos para ser pintado de cinza e receber produtos coloniais. O que construiu em 1979 foi desmoronado por uma decisão. Para ele, foi como perder um familiar, um sentimento de deixar um dia a dia que tanto gostava. A parte profissional também foi afetada, pois dedicou sua vida inteira ao estabelecimento e não saberia fazer outra coisa.

“O sentimento foi terrível, quase como se tivesse perdido um ente querido, um parente ou alguém próximo, pois foi 40 anos da mesma rotina, adentrando ao mesmo local para trabalhar e nos mesmos horários, isso fica inserido na sua vida. Foi uma perda grande, uma dor, sabe. E com a questão do trabalho, nem se fala, imagina uma pessoa que fica 40 anos trabalhando em uma profissão, ela acaba se tornando profissional apenas daquilo.”

Da adaptação ao novo emprego à banca de volta

Mello precisou se adaptar a nova realidade. A um ano de se aposentar, ele conseguiu alguns empregos temporários com amigos que queriam o ajudar até ficar em um trabalho fixo. Conseguiu um serviço na Garagem Ópera, com o dono do lugar, o qual cultiva uma amizade. Mas não sentia a mesma afeição da que tinha por sua banca. Ele relembra que procuraram a antiga secretária de Urbanismo (SMU) para tentar reverter e entender o motivo da decisão. Antes mesmo de compreender a resposta, recebeu a notificação para sair do espaço. Foi o momento que teve que buscar apoio nos outros proprietários.

“A gente até tentou, eu e mais o presidente do bairro São Pelegrino, falar com a [antiga] secretária [de Urbanismo] Mirangela Rossi para expor qual o motivo disso [da retirada]. Ela não disse nada, simplesmente afirmou que estava fazendo uns estudos sobre as bancas. Então, do nada, chega uma notificação dando um prazo de 30 dias para desocupar o local. Recebi de uma forma inacreditável, sem crer no que estava acontecendo. Teve um momento de depressão que passamos [ele e os outros donos] e tivemos que ter muita força mental para suportar esse pesadelo todo.”

Mello não ficou muito tempo longe das bancas. Em dezembro, a sanção do projeto de lei que as tornaram patrimônio imaterial da cidade deu novamente a rotina que fazia de domingo a domingo. Ele pôde voltar a 1979, em Porto Alegre, para relembrar o quanto valeu a pena mudar de profissão. A sensação foi de alívio por voltar a atuar com o que gosta. Ele agradece a Deus por ter recuperado seu trabalho.

“Em primeiro lugar é uma sensação de alivio por ter nosso trabalho e nosso ganho de volta. E, segundo, uma sensação de justiça feita, porque a forma que nos tiraram de lá foi agressiva e violenta. Fez a gente sofrer muito. Agradeço a Deus mesmo.”

Este foi o terceiro de quatro episódios da série “Jornais, revistas e muitos mais: as vidas por trás das bancas de Caxias”, que conta a trajetória dos proprietários dos espaços na cidade. A última história será de Ana Furlan, dona do lugar localizado na Praça Dante Alighieri.

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