Hamilton Primaz: sempre uma boa história para contar
O comunicador das manhãs da Rádio Maisnova FM contou suas histórias de vida no programa Conectado Perfil, na manhã do último sábado. Hamilton foi o primeiro comunicador da emissora, que no domingo, dia 10, comemorou seus 20 anos no ar
A história de vida do comunicador Hamilton Primaz se confunde com a história da Rádio Maisnova FM, emissora dos Freis Capuchinhos. Afinal, foi ele quem deu o primeiro “bom dia” na programação da emissora, no dia de estreia, em 10 de março de 1999. Há 20 anos, Hamilton é considerado o ‘mensageiro das manhãs’, uma referência à tradicional Mensagem do Dia, transmitida diariamente às 10h.
Hamilton Primaz contou suas histórias de vida e carreira no programa Conectado Perfil da Tua Rádio São Francisco na manhã deste sábado (09/03).
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O rádio desde berço
Hamilton Primaz nasceu em Bento Gonçalves, no dia 05 de janeiro de 1963. Os pais do futuro comunicador se conheceram em uma empresa que fabricava acordeons, chamada ‘Scala’. O pai de Hamilton era afinador de gaitas, e a mãe colocava as teclas nos instrumentos.
Após o namoro, veio o casamento. E a lua de mel do casal foi em Caxias do Sul, em um hotel próximo ao Parque dos Macaquinhos. “Na época havia macaquinhos ali”, diverte-se Hamilton. A natureza e os animais sempre despertaram a atenção dos pais de Hamilton, tanto que a mãe, dona Iracema, foi protetora dos animais de Bento Gonçalves durante 30 anos. “Ela chegou a ter 60 cachorros, 35 gatos, e até um carneiro, que ela recuperou e cuidava”, lembra.
Os pais de Hamilton deixaram a fábrica e seguiram outros caminhos profissionais. O pai abriu uma relojoaria, e mãe foi ser operadora de áudio na Rádio Difusora, de Bento. “Quando eu nasci, parece que o destino já havia escrito que eu deveria seguir na área de comunicação. Meu pai gostava muito de música e, inclusive trabalhou em São Paulo, onde foi afinador de pianos, antes de eu nascer”.
Com apenas dois meses de idade, Hamilton ficava no colo de dona Iracema, enquanto ela trabalhava na operação da mesa de som da rádio. “Tá bem no meu sangue. Até antes do berço, já era rádio. Ali já começou o gosto”.
Os primeiros passos
Hamilton é filho único e cresceu em meio à muitas dificuldades. “Os salários eram muito baixos na época e nos anos 60 e 70 havia muita dificuldade na economia brasileira. Era uma economia muito pobre, muito fraca. E aí nós sofríamos com muita dificuldade. Mesmo assim, meus pais me deram com grande esforço, a melhor escola da cidade para estudar. Fui um aluno relapso no primeiro grau”, conta.
A partir do segundo grau, Hamilton começou a desenvolver algumas técnicas de leitura. Um dos grandes incentivadores foi o padrinho, Zeno Soares. Durante quatro horas por dia, ele ensinava Hamilton a ler e escrever. “Continuo lendo muito, até hoje. Atualmente, leio três livros ao mesmo tempo”, conta.
Ainda na infância, o gosto pelo rádio foi ficando cada vez maior. Juntamente com os vizinhos e amigos, Hamilton formou uma rádio de brincadeira na própria casa. “Ná época, havia gravadores de fita cassete e a gente fazia milagres. Nós fazíamos toda uma programação de rádio. Um era o locutor, o outro o operador, o outro era o repórter. Eu lembro que um deles foi entrevistar a vizinha que estava fazendo marmelada e perguntou pra ela ‘como se faz marmelada? E essa era a programação da rádio”, diverte-se.
Por ter facilidade com a leitura, afinal, Hamilton foi estimulado desde cedo a ler muito, na escola ele sempre era escolhido para ser o orador. Além disso, acreditem se quiser, Hamilton Primaz tentou ser cantor. “É uma grande frustração na vida, porque não canto absolutamente nada. Só cantei no coral da escola e o Hino Nacional. E olhe lá!”, lembra Hamilton, com bom humor.
A primeira oportunidade em rádio foi presente de aniversário
O ano era 1975. No dia do seu aniversário, Hamilton ganhou um presente pelo qual colhe os frutos até hoje: a primeira oportunidade em rádio. A emissora era a mesma na qual a sua mãe trabalhou, porém já não era Rádio Difusora, e sim Rádio Bento Gonçalves, que era gerenciada por Luiz Matheus Bassotto. “A mãe, em casa, me disse ‘vem comigo, vamos lá pra rádio que o Seu Bassotto quer falar contigo. Chegando lá, ele me deu de presente de aniversário um emprego na rádio. Foi um dia maravilhoso”, lembra.
No mesmo dia de contratação, Hamilton já começou a aprender a operar a mesa de som da rádio. No dia seguinte, já começou a trabalhar sozinho. “Na época, a programação musical era muito interessante. Era época do disco de vinil. Os comerciais eram em discos de ferro, chamados jingles. E você trabalhava com toca disco. A nossa mesa de som não tinha uma pré escuta pra você colocar no ponto a música ou comercial. Então, você tinha que se abaixar e colocar o ouvido perto da agulha sobre o disco, e tentar ouvir o ruído pra saber que estava no ponto, então você imagina o trabalho que era”. Era o início da carreira de Hamilton Primaz em rádio, nesse primeiro período como operador, na qual permaneceu por três anos. Ele faz questão de evidenciar as pessoas que lhe ajudaram no início dessa trajetória: Ricardo Poscoetti (já falecido) e Oscar Bassotto.
O Exército, a farmácia e a volta para a rádio
Como todo jovem, aos 18 anos é chegada a hora do alistamento militar. Com Hamilton não foi diferente. Em 1982, ele se alista no 6º Bcom (Batalhão de Comunicações) de Bento Gonçalves. Ele até tentou de todas as formas escapar, mas como havia trabalhado em rádio e o batalhão era de comunicações, o serviço militar foi inevitável. “Servi com muito orgulho. Foi uma experiência enriquecedora, algo maravilhoso. Algumas daquelas lições que aprendi lá, eu trago até hoje”.
Após sair do Exército, Hamilton foi em busca de trabalho. Um amigo lhe convidou para trabalhar em uma farmácia, chamada Drogaria Americana, que ficava no mesmo prédio da rádio. “Comecei aprender a ler bula e prescrições médicas com aquela letra do médico”, diverte-se.
A emissora de rádio agora era comandada por Carlos Piccoli. Em um determinado dia, o irmão de Carlos, Antônio Piccoli passou pela farmácia e viu Hamilton. “Eleera um cara muito avançado, cheio de ideias, e me perguntou ‘Magrão, o que tu tá fazendo aí?’ e eu disse que estava trabalhando. Ele me disse que ia abrir uma rádio FM em Bento Gonçalves e queria que eu fosse trabalhar lá”, conta. O sangue de comunicador falou mais alto e Hamilton pediu demissão da farmácia. No dia seguinte, começaram os preparativos para lançar a Rádio Serrana FM.
Foi na Rádio Serrana que Hamilton começou a trajetória como locutor de rádio. Como curiosidade, foi nessa mesma emissora que ele começou a trabalhar com um amigo de longa data, Omair Trindade, cuja parceria perdura até os dias de hoje, na Rede Maisnova FM. “Ele apresentava um programa gaúcho, bem cedo, das 5h às 7h, e eu era o operador de mesa de som dele, e depois seguia como DJ, locutor e apresentador, até o meio-dia”, lembra Hamilton.
Do rádio para a TV
Durante um dia normal de trabalho, Hamilton recebeu um telefonema inesperado. Era Ademir Gondran, gerente da RBS TV de Caxias do Sul à época. “Ele me disse que estava me ouvindo na estrada e me convidou pra trabalhar como repórter na RBS TV, e acabei aceitando”. Hamilton veio à Caxias e depois para Porto Alegre, onde fez 36 cursos sobre televisão. “Uma faculdade completa sobre televisão, e todos os aspectos ligados à ela. Uma coisa que eu sou agradecido até hoje”, diz.
Quando retornou à Serra, Hamilton passou a trabalhar na sucursal da RBS TV em Bento Gonçalves, em 1985. Ele era o responsável pela cobertura jornalística de toda a região, o que equivalia a aproximadamente a 50 municípios. “Nós pegávamos a estrada toda a semana. Produzíamos cerca de quatro a cinco matérias por dia”. Hamilton permaneceu na RBS TV até 1989, quando pediu demissão.
De assessor à volta para a rádio
Após o período na TV, Hamilton foi convidado para ser assessor de imprensa do Prefeito de Bento à época, Aido Bertuol. Hamilton foi assessor de Bertuol por três anos. “Quando você se identifica com um partido político trabalhando na área de comunicação, é um erro gravíssimo. Após sair, fiquei quase um ano desempregado, apesar de bater na porta de todos os empresários que eu conhecia na cidade. E foi passando o tempo e parei de ser exigente e tava topando qualquer parada, mas não tinha jeito”.
Em certo dia, Hamilton estava sentado na praça central, desanimado pela falta de emprego, eis que chega Carlos Piccoli, dono da Rádio Serrana. “Ele me chamou de volta e no dia seguinte comecei a trabalhar de novo. Ali permaneci durante um curtíssimo período novamente. Parece que com o Carlos Piccoli sempre foi assim, eu entro e saio (risos), mas ele sempre foi uma figura espetacular”.
Maisnova FM: uma história de sucesso
Hamilton Primaz foi convidado para trabalhar na Rede Maisnova FM por Inaro Cruz, um dos criadores da emissora, que à época estava em Garibaldi. O comunicador pediu demissão da Rádio Serrana e acertou a vinda para a Maisnova.
A Maisnova entrou no ar no dia 10 de março de 1999, substituindo a Rádio São Francisco FM, com uma programação popular. Hamilton abriu a programação, às 7h. “A Rádio São Francisco FM fazia um som ambiente, até com orquestra. Quando eu comecei a falar, choveu de telefonemas na emissora, principalmente de médicos, dando um pau em mim (risos). Foram três meses de críticas duríssimas. Eles usavam a Rádio São Francisco como som ambiente em seus consultórios. Essa experiência eu não estava preparado (risos)”.
Juntamente com Hamilton, vieram trabalhar na nova emissora outros nomes conhecidos da comunicação caxiense como Frank Almeida, Oberdan Pires e Marco Sena. Na gerência estava Pedro Fatore, e na diretoria comercial, Ivan Casagrande. Frei Jaime Bettega era o Superintendente da emissora.
Passado o período de críticas, os ouvintes já haviam se acostumado com a nova emissora. E, em certo dia, os comunicadores começaram a divulgar o telefone da rádio. “O telefone tocou e eu achei que era mais um médico (risos), mas era uma ouvinte questionando se podia pedir música. Eu disse ‘olha, acho que pode’, e aí começou e não parou mais até hoje”, relembra.
Hamilton lembra que alguns produtores artísticos começaram a prestar atenção na emissora. “A primeira promoção que a rádio fez foi com o produtor da dupla Zezé Di Camargo e Luciano, e ia ser escolhido um casal que ia ganhar um fim de semana em um dos hotéis mais luxuosos de Gramado. Chegamos ao primeiro lugar no ibope”, recorda.
Hamilton lembra de um dos momentos mais emocionantes que marcou sua carreira. “Entre 2000 e 20001 houve uma tragédia em Bom Jesus. Até hoje não se sabe se foi um tufão ou um furacão e destruiu uma casa, matando uma garota de 15 anos. Ligaram pra mim e disseram que ela havia sido escolhida a ‘Garota Maisnova’ de Bom Jesus, e eu nem sabia que existia esse concurso, que levava o nome da nossa rádio. Eu pedi para o Darlan Nunes, coordenador da emissora e lançamos uma campanha pra ajudar o pessoal. Grande parte de Caxias do Sul participou e enchemos sete carretas de materiais de construção. Foi outro momento fantástico, e marcou por ter sido algo de uma iniciativa muito boa”.
Mensagem do Dia
Um dos momentos de maior audiência da Maisnova é a tradicional Mensagem do Dia, transmitida diariamente às 10h, na voz inconfundível de Hamilton Primaz. A história do início desse quadro começou de forma inusitada. “E um dia comum de trabalho, uma ouvinte me envia um texto e pediu se eu podia ler no ar. Cheguei no coordenador e pedi pra ler esse texto. Nós pensamos e ele topou. O texto tratava de um soldado que foi para a Guerra do Vietnã, onde ele perdeu o braço e a perna. Antes de voltar pra casa ele ligou para os pais e disse que tinha um amigo sem o braço e uma perna e pediu se ele podia levar o amigo para casa. Os pais não deixaram e depois souberam que o filho tinha se suicidado e viram que era ele que tinha perdido o braço e a perna. Isso mostra como a gente enxerga diferente quando o problema é dos outros e quando o problema é nosso. Isso pede uma harmonia maior entre as pessoas”, lembra.
A partir da leitura desse texto, a emissora começou a receber muitos telefonemas de pessoas pedindo qual seria o próximo texto. “E foi sem querer”, recorda Hamilton. Foi através da sugestão de uma ouvinte, que começou a Mensagem do Dia. “Hoje em dia está faltando gente para contar história, porque as pessoas adoram ouvir uma boa história. Hoje nós temos apenas discussões que, muitas vezes, não levam a nada, porque quem tem a sua opinião formada, não vai mudar de opinião, e nós vemos apenas embates. As pessoas gostam de ouvir uma boa história e, talvez por aí, quando essa história traz algo que possa colaborar, de alguma forma, com o seu dia, com a sua vida, faz toda a diferença”, finaliza.
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