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Historiador fala da polêmica de que o hino gaúcho tem trecho racista

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Além disso, recebemos uma nota do MTG - Movimento Tradicionalista Gaúcho, apresentando sua visão sobre esses questionamentos

Foto: Reprodução/Internet

Desde que um grupo de vereadores eleitos em Porto Alegre se recusaram a cantar o hino rio-grandense sob alegação de que possui trecho racista, os gaúchos começaram a se perguntar se de fato isso é verdade. Nossa reportagem consultou um professor de história para contextualizar os versos do hino com o momento em que ele foi criado. Além disso, recebemos uma nota do MTG - Movimento Tradicionalista Gaúcho, apresentando sua visão sobre esses questionamentos.

O hino rio-grandense foi oficializado pelo governo estadual, em 1966. E o trecho que desencadeou essa polêmica é “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. Segundo o historiador Matheus Fiorentin, formado em História pela Universidade de São Paulo – USP, que leciona a matéria atualmente em Passo Fundo – a discussão dessa estrofe é antiga entre os profissionais da área.

Segundo Matheus, o hino tem como inspiração as ideias positivistas, corrente filosófica criada pelo francês, Augusto Conte. Nela é apresentado os conceitos de que os povos com virtudes devem liderar e escravizar os outros que não a tem, como o caso de africanos e indígenas. A ideia de Conte ganhou espaço no estado. “No Rio Grande do sul essas ideias tiveram muito êxito. Os lanceiros negros – escravos africanos que lutaram a revolução farroupilha, portanto, não eram virtuosos por ser escravos. Então, o questionamento que o movimento negro faz a esse trecho do hino vem por causa da influência desse pensamento”, concluiu Fiorentin.

O vereador Matheus Gomes (PSOL), um dos que se recusaram a cantar hino na câmara municipal de Porto Alegre, explicou os motivos de não o ter cantado, indo na linha apresentada pelo historiador. “Não temos obrigação nenhuma de cantar um verso que diz que o nosso povo não tem virtudes, por isso foi escravizado. O hino foi elaborado em um contexto de guerra, no qual a única forma de escravização era sobre a população negra, que lutou na guerra sob promessa de liberdade, que não tiveram", disse Gomes. 

Julia Graziela Azambuja dos Santos Dutra, que se coloca na posição de fala como negra e diretora de Manifestações Individuais e Espontâneas do MTG, defende o hino assinando a nota emitida pela entidade. “O MTG reconhece a importância dos negros e dos próprios Lanceiros Negros na revolução e na construção de nossa identidade regional. Desviar o foco dessa luta desvia o foco daquilo que deve realmente ser discutido. Enquanto a comunidade negra, na qual integrantes do próprio movimento se inserem, se prende a este tipo de polêmica, perde um precioso tempo de ser protagonista de uma nova história”.

A entrevista completa feita com o historiador você confere clicando em ouvir notícia, player de áudio, localizado acima da foto.

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