Claudio Troian: além do umbigo
Produtor cultural trabalha pela valorização dos artistas da Serra Gaúcha e pelo cumprimento das políticas públicas de incentivo à cultura
– Quando eu morrer, não quero choro nem vela... eu quero que toquem aquela música dos Beatles “all you need is love”.
Claudio Troian (66) improvisa Noel Rosa e Beatles no mesmo verso. E brinca com a morte.
– Vai ser difícil porque aqui está bom – diz ele, rindo.
Troian gosta de estar “aqui”. Talvez por isso não reclame tanto (risos) de ter acordado às 7h da manhã de um sábado para a entrevista com a Tua Rádio São Francisco. Ele diz que é movido por amor. E aí de ter escolhido essa música do quarteto de Liverpool como a preferida.
– Tudo o que você precisa é o amor. Essa música é linda, de uma sensibilidade e de uma mensagem fantásticas.
Jornalista, publicitário, produtor cultural há mais de 40 anos. Irreverente desde sempre. É difícil fazer Troian passar sem ser notado. Talvez porque goste de mostrar que somos diferentes na carcaça, na fachada, e que não há problema nenhum nisso. As diferenças nos unem. O importante, segundo ele, é “ir além do próprio umbigo”.
– É nossa obrigação convivermos com as pessoas da forma mais harmoniosa possível. Não deve ser muito interessante ter uma vida voltada exclusivamente para si, para o seu umbigo, não se preocupar com os outros. Eu acho isso de uma pobreza... Essa pouca preocupação com os outros é perigosa.
Tem mais de 40 anos que Claudio Troian olha além. Na Serra Gaúcha, ele dá apoio ao trabalho de escritores e artistas locais. Produz discos, livros, espetáculos teatrais e musicais, concursos culturais. Nos últimos 22 anos, teve 94 projetos aprovados em leis de incentivo à cultura. E não para. Os amigos o definem como um “incansável” na luta pelas políticas públicas para a cultura. Ele diz que faz porque gosta, mas desabafa:
– O que cansa é ver certas políticas e certos políticos tratarem tão mal a arte e a cultura desprezando o que para eles é intangível, desprezando o que para uma sociedade é fundamental. Porque uma sociedade que não tem história, arte e cultura não tem futuro. Só tem um presente cru, frio, triste.
Troian poderia ter desistido. E não só porque é difícil viver de arte. Na adolescência e juventude, sofreu bullying por causa dos cabelos compridos que copiou da banda inglesa. Fazia pouco tempo que o menino porto-alegrense tinha trocado a capital por Bento Gonçalves.
– Atravessei um cipoal de dificuldades por conta de que “esse negócio de cabelo comprido era coisa de mulher, homem não usa”. Mas os Beatles usavam e eles não eram mulheres. E eu descobri que outros músicos também usavam cabelos compridos. Gostei e comecei a usar – lembra.
Talvez tenha sido aí que desenvolveu outra característica: a persistência.
– E eu vi que tu tens que ter uma definição das coisas. Se tu queres conquistar alguma coisa, tem que ir lá tomar a bandeira pra ti. Tem que arregaçar as mangas e ir lá fazer. Se tu não atuar, alguém vai fazer por ti. E o resultado nem sempre te agrada.
Clique aqui e ouça mais histórias de Claudio Troian, o entrevistado desse sábado (06) no programa Conectado Perfil.
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