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13º Mississippi Delta Blues Festival reuniu mais de 10 mil pessoas neste final de semana em Caxias do Sul

por Clayton Camargo

Novo local escolhido para sediar o maior festival de Blues da América Latina teve grande aprovação dos presentes

Foto: Lucas Rech

No final de semana dos dias 17, 18, 19 e 20 de novembro, Caxias do Sul (RS) respirou Blues. A 13ª edição do Mississipi Delta Blues Festival (MDBF) – Clarksdale Edition foi realizada nos Pavilhões da Festa da Uva, sendo que esta é a primeira vez que o local recebe este projeto. Outra novidade é que o MDBF agora faz parte do calendário oficial de eventos da Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. O MDBF teve financiamento pela LIC Municipal e apoio cultural de Racon Consórcios e Empresas Randon.

O maior festival de Blues da América Latina reuniu mais de 10 mil pessoas em seus três primeiros dias de música e celebração, sendo 4 mil delas somente no sábado, dia 19. Além disso, também foi incluído um quarto dia de shows, gratuitos, na tarde de domingo, dia 20. Uma homenagem ao Dia da Consciência Negra, contou com apresentações do Grupo de Trompetes da Orquestra Municipal de Sopros, Lucian Satan, Alamo Leal e teve como encerramento uma jam session entre os artistas que participaram do evento.

Para Toyo Bagoso, idealizador do festival, o retorno do público foi especial, com a grande novidade de fazer a transição da Estação Férrea para os Pavilhões da Festa da Uva, mais comumente ligado a eventos corporativos. “Como mudamos a instalações do nosso bar, o Mississippi, para a Casa 15 das Réplicas, tivemos a ideia de aproveitar a área verde desse local tão tradicional e tão bonito, como também da maior cancha coberta de rodeio do Rio Grande do Sul e da estrutura já existente do espetáculo Som e Luz. Claro que há a nostalgia dos trilhos do trem, mas a resposta a esta mudança foi muito boa e procuramos não interferir demais no local por si só”, explica.

Entre as atrações, diversos shows internacionais com talentos do Blues norte-americano, como D'Kieran “D.K.” Harrel, Dr. Alphonso Sanders, Jaxx Nassar e Jesse Cotton Stone, e nomes brasileiros consagrados, como Alamo Leal, Décio Caetano, Ale Ravanello Blues Combo e Andy Serrano, entre outros. Além disso, o público pode acompanhar apresentações diárias da performance “I see the light”, com participação da Cia. Municipal de Dança, banda Cotton Pickers e coro de Fran Duarte, Luiza Zambiasi e Gabriela Canali. A concepção do espetáculo, inspirada no filme “Blues Brothers”, reconhecido como clássico pelos fãs do ritmo, foi de Paula Giusto, que também assinou a direção cênica, e Toyo Bagoso. Ainda, contou com participação especial do músico Pedro Strasser como Reverendo Strasser.

A noite de sábado, dia 19, foi encerrada com a aguardada e até emocionante reunião da caxiense Lucille Band no palco principal, com participação especial do saxofonista, compositor e produtor musical Beto Saroldi, o guitarrista Jesse Cotton Stone, a guitarrista Karina Comin e Débora de Oliveira na harmônica. 

Sobre os músicos internacionais convidados, Bagoso conta que conheceu vários deles e foi montando seu line up a partir de uma viagem à Clarksdale em abril deste ano. “Lá, eles mantêm essa herança musical viva. Também visitamos a cidade vizinha, Cleveland, com o Museu do B. B. King, que proporcionou nos aproximarmos do D.K. Harrel, considerado um dos melhores shows que trouxemos ao festival.” O que também chamou a atenção destes convidados norte-americanos, que tocaram todas as noites e puderam acompanhar os shows uns dos outros, foi a oportunidade de divulgar e fortalecer o blues para o público presente, de faixa etária ampla, mantendo esse ritmo vivo e pulsante.

Clarksdale Edition

Em 2022, o evento homenageia a cidade norte-americana Clarksdale, no Mississippi, considerada um dos berços do Blues. O município e Caxias do Sul foram consideradas Sister Cities (cidades-irmãs) através de assinatura formal de reconhecimento entre os prefeitos de ambas. Para tanto, diversas das principais atrações do festival estão vinculadas com o município, como o saxofonista Stan Street. Morador há 20 anos de Clarksdale, Street considera um local que concentra os melhores músicos, sendo lar da origem e da história do Blues. Foi lá que ele escolheu para ser sua base, onde comanda o Hambone Art Gallery, que reúne bar, palco e galeria de arte, onde expõe suas próprias obras. Inclusive, a arte de cartazes e camisetas desta edição do MDBF foi criada por Street.

Outro nome é o baterista Lee Williams, nascido em Clarksdale e que, além de levar o Blues pelo mundo, também considera essencial devolver à comunidade os benefícios que a música lhe proporcionou. Ele também atua no Delta Blues Education Program, dando aulas de bateria, sendo que é um dos egressos do projeto. Com destaque nacional, o programa tem o objetivo de dar continuidade à tradição do Blues do Delta do Mississippi por meio do ensino de música a crianças, sendo berço de diversos outros músicos talentosos e que estão fazendo sucesso mundo afora, como Jaxx Nassar, outra das principais atrações do MDBF 2022.

Um dos motivos que os fazem se sentir em casa no festival é a menção dos principais bares da cidade homenageada, que nomeiam os palcos da atração. “Locais como Teatro New Roxy e Red’s Juke Joint, por exemplo, são onde tocamos e frequentamos, então essa familiaridade foi muito feliz e bem-vinda”, apontam Street e Williams. Uma das principais características de Clarksdale é afirmada por ambos os músicos: a cidade é um imã de talentos e de apaixonados pelo Blues. 

Uma atração muito aguardada foi o jovem D.K. Harrel, embaixador do Blues pelo B. B. King Museum e Delta Interpretive Center, que com apenas 24 anos já é destaque no mundo do Blues. Recentemente, recebeu o prêmio B. B. King King of Blues, da Jus’ Blues Foundation, um reconhecimento para jovens músicos que mantêm viva a música tradicional. Ele esteve acompanhado pelo saxofonista Dr. Alphonso Sanders, diretor do B. B. King Recording Studio e professor universitário há mais de 25 anos, além de ter trabalhado junto ao próprio B. B. King por 16 anos. 

Ambos no Brasil pela primeira vez, sendo até a primeira viagem internacional de Harrel, os músicos estavam animados com a sua estadia em terras gaúchas e, principalmente, pela oportunidade de trazer ao público o som que está sendo feito no Mississippi. Tendo como principal inspiração B. B. King, a quem considera seu ídolo principal, Harrel é constantemente comparado com o rei do Blues, o que o deixa muito feliz e considera um grande elogio. “Minha missão é manter esse legado vivo, mas adicionando minha personalidade aos shows. Costumo dizer que sou um ‘B. B. King com esteroides’, pela minha performance mais agitada, interagindo com o público e sendo uma grande diversão”, brinca. Dr. Sanders complementa, dizendo que o grande diferencial de Harris é o amor pela música, que o faz desenvolver e criar um som próprio, único e inconfundível.

A banda escolhida para acompanhar os dois músicos americanos foi a porto-alegrense Ale Ravanello Blues Combo, que participou de todas edições do MDBF, inclusive as realizadas no Rio de Janeiro (RJ) e em Gramado (RS). Segundo o frontman, Ale Ravanello, o passar dos anos o permitiu observar não somente uma evolução do festival, mas também um grande poder de adaptação, que se mostrou operante neste novo desafio que é a mudança de local que sedia o evento. “Percebemos uma filosofia de que não importa o lugar ou o seu tamanho, sempre tudo acaba funcionando. Já temos uma relação de familiaridade com o MDBF, depois de tantas edições juntos, e que nos proporcionaram tantas oportunidades, como tocar em um palco junto aos trilhos do trem, remetendo a apresentações históricas, como da Sister Rosetta Tharpe, ou na própria casinha, que agora saiu da Estação Férrea e virou palco nos Pavilhões”, conta Ravanello. 

A parceria foi firmada por conversas por redes sociais, com a resolução do set list a ser apresentado, até o encontro presencial, no hotel onde todos se hospedaram. Não houve ensaio, mas sim um breve encontro para os detalhes finais e, principalmente, muita confiança no talento de todos. “O Blues é uma arte onde o improviso é muito presente, então não é nenhuma novidade essa dinâmica. Também contamos com a participação da nossa amiga Mari Kerber tocando teclado, e todos vamos nos complementando durante as apresentações. Blues é preencher espaços.”

Público do evento

O novo espaço escolhido para a realização do MDBF, os Pavilhões da Festa da Uva, passou pelo aval do público presente, sendo a primeira experiência de muitos, como também uma novidade para os fiéis participantes do evento anual. A maioria dos comentários foi com olhar positivo, tendo expectativas não somente cumpridas como superadas. Foram elogiados os espaços mais amplos, a distribuição dos palcos e, principalmente, a escolha das atrações musicais, não somente divulgando músicos internacionais como valorizando talentos locais.

 

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