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Uma reviravolta no processo de globalização?

Miguel Debiasi

Seria possível um mundo sem a globalização da economia em escala planetária? A globalização da economia é um processo planetário que avança por meio de mercado, transporte e comunicação. O vigente modelo de globalização provoca consequências negativas e é merecedor de críticas dos grupos sociais minoritários e de intelectuais. Destacamos algumas consequências negativas da globalização da economia e suas críticas.

A primeira é que a globalização impacta em nosso estilo de vida. Nos países desenvolvimento, mais da metade da população trabalhadora contava com empregos nas indústrias até que a globalização se instalou no processo de automatização da produção. Com as novas tecnologias, reduziu-se o emprego tradicional e aumentou a necessidade de profissionais qualificados em diferentes áreas. Mas a maioria proletária dos países desenvolvidos não possuem essa qualificação técnica, aumentando a taxa de desemprego. O resultado disso foi um aumento na atividade econômica informal e criminosas, como roubo, furto, homicídios e consumo de drogas. À medida que a taxa de desemprego e pobreza continua crescendo, aumenta a desigualdade social.

A segunda consequência reflete na má qualidade da alimentação e doenças. O consumo de alimentos processados que contém elementos químicos e artificiais tem aumentado. Em prol dos benefícios dos negócios agropecuários, os animais como gado, ovelhas, cabritos, porcos e aves são alimentados com produtos químicos que fazem produzir rapidamente o aumento de peso. Essa técnica de alimentação dos animais e aves é realizada em larga produção. Com o consumo desses produtos químicos presentes em alimentos, as doenças crônicas como colesterol alto, pulmonar obstrutiva, hipertensão, osteoporose e outras estão em ascensão. Nos países mais desenvolvidos já é constatado a queda na qualidade de vida, devido ao exacerbado consumo de agrotóxico em alimentos.

Em terceiro lugar, os estudiosos destacam que os investimentos na economia estrangeira são estratégicos e que culminam em beneficiar alguns países que têm potencial de desenvolvimento. Os investidores querem que produtos como matérias-primas e os bens sejam transferidos rapidamente para a indústria e mercado. Bem como, a maior parte dos lucros retorna para os países de origem dos investidores.

Competitividade no mercado econômico é outra consequência. Empresas nacionais competem com empresas estrangeiras em desvantagem. Os grandes grupos econômicos têm escritórios e filiais em todo o mundo, que lhes permite atingir um público maior e estimular o consumo de produtos conforme sua política de produção e de preços.

Outra consequência está relacionada ao consumo e ao meio ambiente. O consumo de recursos naturais vem crescendo rapidamente e de forma que impacta negativamente no meio ambiente. A globalização aumentou o transporte de matérias-primas e de alimentos de um lugar para o outro. Os movimentos ativistas denunciam a décadas que o consumo de bens naturais impactou o ciclo ecológico, desequilibrando o meio ambiente e provocando o aumento dos fenômenos climáticos e aquecimento global. A temperatura global deve chegar a níveis recordes em 2023, o aquecimento pode ter aumento de 1,5 graus.

Outra consequência refere-se a tecnologia e comunicação. Com acesso a internet, banda larga, telefonia celular, dispositivos portáteis sem fio e outras tecnologias de comunicação, permitem as pessoas se conectem com diferentes pontos do mundo com muita facilidade. O mundo fica cada vez menor em tempo e espaço. Mas uma considerada parcela da população não tem acesso a esses recursos, aumentando a desigualdade social e econômica. Isto tem aumentado o grau de exclusão social de regiões periféricas porque as informações chegam distorcidas e controladas.

As críticas, se por um lado, a globalização traz vantagens, por outro, tem desvantagens. Na verdade, a globalização do mundo é uma mundializalização do sistema capitalista e difusão de valores dominantes para toda a sociedade global. Ela se expande em benefício de países e regiões economicamente mais desenvolvidas. Enquanto outros países e regiões quando chega a globalização é um processo atrasado e de forma incompleta.

Outra desvantagem gritante está no campo econômico. A expansão das empresas multinacionais – apesar de conseguirem diminuir os preços dos produtos – é um duro golpe às empresas nacionais, porque os grandes grupos além de controlarem o mercado mundial estabelecem seus preços. Na instalação de fábricas e o deslocamento de empresas de produção de um país para outro tem como primeira finalidade aquisição de matérias-primas e de mão-de-obra mais barata. Esta política econômica reduz salários e contribui para a desregulamentação progressiva das leis trabalhistas.

Outra desvantagem para os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos vem do campo financeiro. Os grandes grupos econômicos conseguem disseminar crises econômicas especulativas. A crise imobiliária dos Estados Unidos de 2008 que rapidamente se espalhou pela Europa e demais continentes, provocou colapso no sistema econômico, ampliando taxas de desemprego e dívidas públicas nos países do terceiro mundo.

Há uma desvantagem na questão ambiental. A globalização intensifica o consumo, exploração dos recursos naturais, aceleração do processo de poluição do ar, das águas e dos meios produtivos, como o solo. O aquecimento global ou a devastação das florestas são fatos incontroversos.

A globalização da economia parecia um processo sem volta, mas com a guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, as análises e estratégias políticas dos países estão mudando. Os fatos mostram que a globalização é um processo que pode mudar do dia para noite, basta explodir uma guerra entre países vizinhos e está criada a situação para uma reviravolta nas estratégias econômicas e políticas dos Estados nacionais. As reviravoltas trazem vantagem aos poderosos e desvantagem aos menores.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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