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Refundação, reinvenção, reindustrialização, re-...

Miguel Debiasi

 

Por forças dos contextos socioeconômicos dos séculos XIX ao XXI palavras fortes são empregadas para influenciar o rumo da sociedade e do mundo. Nesse discurso, parece-nos que a sociedade como um todo pode trilhar um outro caminho, o mais perfeito. Nas imperfeições sociais e nas situações econômicas insatisfatórias algo diz ser possível construir algo melhor para bem comum e coletivo. Acomodar-se a situação seria um fracasso, o melhor da vida nunca chegaria.

A história e a sociedade estão postas na trilha da “renovação”. Na filosofia a cada corrente que surge renova-se as ideias através da construção de outras ideias. A tarefa de pensar é um procedimento progressivo, possível de ser demonstrado através de uma série de “passagens”, em que cada qual é evidente os avanços, escreve o filósofo inglês John Locke. O filósofo francês Descartes escreve que nada pode ser mais evidente para nós do que a própria existência que se renova pelo pensamento.

No campo político as ideias e os projetos estão em constante superação, portanto, em refundação. O filósofo social e teórico político suíço Jean-Jacques Rousseau, concebe a sociedade sociopolítica constituída por homens que se “reeducam” a partir de uma ação em prol do bem público ou coletivo. No processo de reeducação sociopolítica os homens e os povos perseveram para uma sociedade tida como virtuosa.

No campo social para o filósofo francês Paul Ricoeur é possível acontecer um processo de “reconciliação” de todos com todos, superando os desacordos, as divisões, intolerâncias, ódios, discriminação, mediante a concepção da ideia de tolerância. Para tanto, é necessário não consentir com nenhuma tolerância com os intolerantes ao bem comum e coletivo. A “reconciliação” entre todos é uma vitória da natureza humana, da superação da tentação do poder de imposição sobre os outros.

Na teologia, “refundar” os valores éticos é imprescindível para responder aos desafios de cada contexto e momento histórico. O teólogo Leonardo Boff diz ser urgente a “refundação” da ética cristã. Hoje é impossível impor a toda a humanidade a ética do Ocidente, elaborada na esteira dos grandes mestres como Aristóteles, Santo Tomás de Aquino, Kant e Habermas. No encontro das culturas pela globalização somos confrontados com outros paradigmas de ética. A saída é buscar na própria essência humana, da qual todos somos portadores, o seu fundamento: como nós devemos nos relacionar entre nós seres pessoais e sociais, com a natureza e com a Mãe Terra. A partir do consenso mínimo “refundar” a ética para evitar conflitos socioculturais mundiais e catástrofes socioambientais. A ética se rege pelo cuidado, do mundo, do outro, da outra, da responsabilidade que promove a vida.

Historicamente a Europa sempre foi palco das guerras de religião, na tentativa de proibir o diferente. Como diz o filósofo estadunidense John Rawls, a Europa na pior das hipóteses fez a política da “a aceitação de desacordos razoáveis”. É preciso admitir que há algo irredutível na aceitação dos desacordos razoáveis. Todos os países e continentes têm um projeto próprio, em última análise, que se mantém por políticas violentas.  Para sair desse gueto histórico é preciso “reinventar” as relações diplomáticas para assegurar vida digna e virtuosa para a humanidade.

Em tudo há a necessidade de “reinvenção”. A nova política industrial do governo federal tem alguns focos de reinvenção na: saúde, defesa, infraestrutura, mobilidade, descarbonização, transformação social e agroindústria. José Luis Gordon, Diretor de Desenvolvimento Produtivo, Comércio Exterior e Inovação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e social (BNDES), diz que o setor industrial é um dos que mais pagam impostos no país, e a redução dessa carga tributária é essencial para impulsionar o setor e atrair investimentos.

Com a pandemia houve uma desindustrialização no país e no mundo. No Brasil, houve uma redução de 45% dos recursos que eram destinados ao setor industrial. Para “reverter” a situação os economistas enfatizam a importância de uma “neoindustrialização”, ou seja, a construção de uma indústria baseada em novos fundamentos e tecnologias, diferente da indústria do passado. Atuando nessa dimensão, a Petrobras busca fortalecer toda a cadeia produtiva do setor de óleo e gás. Uma “redescoberta”, uma “reinvenção” em qualquer setor da indústria têm hoje uma significativa participação global.

Muitas agências como Fitch Ratings e o FMI têm elevado nota de crédito do Brasil com o desempenho econômico e fiscal melhor que o esperado, que projeta crescimento do PIB real em 2,3% em 2023, antes o esperava 0,7%. Essa perspectiva tem haver com atuação do governo que busca construir políticas de “reindustrialização” do setor industrial e outros.

Também, segundo as agências, a aprovação do novo arcabouço fiscal e a reforma tributária tem melhorado a posição de confiança do país e demonstrado a capacidade robusta de gestão da dívida pública e posição de credor, são fatores de “reinvenção” do Brasil. Obviamente, que o decisivo desse resultado, ocorre pela real melhoria das condições de vida dos brasileiros.

A “refundação” de uma nação, ocorre quando criadas as condições para ampliação dos investimentos públicos e privados e a geração de empregos, aumento da renda e maior eficiência econômica, elementos essenciais para o desenvolvimento econômico e social do país, acredita os economistas.  Enfim, se as situações dos contextos pedem “re-...” que a “re-...” sejam para o bem de todos, natureza, sociedade, mundo.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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