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O genocídio do povo palestino

Miguel Debiasi

Quando um sentimento étnico e religioso é atacado vira motivo para guerra. O apego à coletividade étnica e a religião, desperta facilmente a violência, ódio, intolerância e guerra. Alimentados por estes sentimentos doentios mata-se seres humanos como um ato heroico. Somos movidos por essa irracionalidade, alimentada de sangue e de mortes inocentes. O fim dessa situação parece estar muito longe, infelizmente.

A história da civilização está marcada por esses fatos, já se passaram treze séculos de guerra dos cristãos com o islamismo. São seis séculos de guerra entre os próprios cristãos, católicos x protestantes e outros. Dois séculos de guerra entre os continentes cristãos e os comunistas. Sobre a religião paira a vontade de guerrear e de eliminar o outro. Jesus de Nazaré denunciou a hipocrisia das autoridades religiosas de seu tempo (Mateus 23,13-32). Ao desmascarar a hipocrisia religiosa, Jesus sabia que se tornaria vítima sem remorso de seus algozes. A religião é hoje o melhor motivo para fazer guerra.

Lichtenberg (1742-1799), filósofo e cientista alemão ao perceber a incoerência religiosa no final da Idade Média, declarou: “dou graças a Deus por ser ateu”, fascinado muitos seguidores como Goethe e Nietzsche. O escritor alemão do Sacro Império Romano-Germânico, Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), declarava que era possível ser um cristão sem seguir uma religião ou Igreja. Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, influenciado por Lichtenberg fez a seguinte observação: “Deus está morto”.

O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), fez a seguinte reflexão: “a religião é o coração do mundo sem coração, o espírito de uma situação, carente de espírito”. O filósofo e sacerdote italiano Battista Mondin 1926-2015), constatou: “a religião foi objeto de crítica em todas as épocas da história e em todas as civilizações”. E conclui: “as críticas dirigidas à religião em si mesma, é pelas suas deformações e abusos”. A religião carrega consigo todas as limitações e sentimentos doentios da humanidade.

A crítica da religião de Lichtenberg, Goethe e Nietzsche está sustentada na realidade em que estes pensadores estavam vivenciando, a qual, não fazia a diferença positiva. Nietzsche vê na prática da religião que Deus está morto, ainda que acredite que Ele seja uma verdade eterna, um Ser que conduz o mundo, um pai bondoso. Culpa a prática religiosa que desviada do seu sentido acaba matando a Deus. A crítica de Nietzsche e de outros teóricos está dizendo que Deus é o sentido último da existência, que todos crendo n’Ele podem desenvolver uma postura ética e uma vida coerente à vontade de Deus.   

Karl Marx ao afirmar que “a religião se opõe a voz da justiça e da revolução”, está dizendo que ela adia a solução dos problemas deste mundo, remetendo-os para outro mundo. Pela sua ineficácia é preciso suprimir a religião. A derrota total da religião é quando à sociedade toma consciência que ela impede a transformação da sociedade, alienando e criando uma consciência invertida do mundo e de Deus. A religião virou uma ideologia, sustentando absolutismo, fascismos e violências sociais e humanas.

Ação militar do Hamas de sete de outubro é uma resposta aos assassinatos, desmandos e humilhações de homens, mulheres e crianças nos territórios ocupados pelo Estado de Israel. Hamas em árabe significa “zelo”, “força” ou “bravura”, conhecido mundialmente como Movimento de Resistência Islâmica. Israel é um dos Estados mais armados e tendo um dos melhores Exércitos do mundo reagiu com ataque bombardeando o densamente povoado território da Faixa de Gaza, matando milhares de palestinos inocentes.

A questão de fundo da atual escalada do conflito entre palestinos e israelenses deve-se ao desrespeito aos acordos estabelecidos sobre a criação de um estado nacional palestino soberano, com territórios e fronteiras definidas e viabilidade econômica. Há uma série de acordos assinados na cidade Oslo, na Noruega, em 1993, entre o governo de Israel e o Presidente da Organização para a Libertação da Palestina, Yasser Arafat, mediados pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, completam 30 anos e não foram violados pelos palestinos. Nesse período Israel intensificou o processo de ocupação do território na Cisjordânia, terra dos palestinos.

Pela escalada do conflito e pelos sucessivos governos israelenses que abandonaram a negociação com as autoridades palestinas e que continuam ocupando seus territórios com novos assentamentos, parece não ser possível à solução da problemática do Oriente Médio. Atualmente cerca de 3 milhões de pessoas vivem na pequena área territorial da Cisjordânia, sendo 86% delas palestinos e 14% ou cerca de 427,8 mil pessoas israelenses. Os israelenses vivem em comunidade e assentamentos separados.

Na região de maior conflito está a Faixa de Gaza, criada em 1949, um ano após a criação do Estado de Israel que aconteceu no dia 14 de maio de 1948, por intermédio da Organização das Nações Unidas (ONU), como parte da divisão da Palestina. A Faixa de Gaza é um território palestino, composto por uma estreita faixa de terra localizada na costa oriental do Mar Mediterrâneo, no Oriente Médio, faz fronteira com o Egito no Sudoeste e com Israel no Leste e no Norte. Nesta faixa de terra vivem 2,048 milhões de pessoas, há mais de 230 assentamentos de israelense tomando à força a terra dos palestinos.

Tudo indica que em nome da etnia e da religião, a Faixa de Gaza será transformada em pó, milhares de inocentes serão mortos, feridos e mutilados, como resultado da política genocida do governo de Netanyahu, apoiado política, econômica e militarmente pelo imperialismo norte-americano. O terrorismo do estado sionista e a política de neocolonização da Palestina é o primeiro responsável pela escalada do conflito. A etnia e a religião transformaram-se numa ideologia de extermínio, os palestinos serão reduzidos ao pó.

Numa guerra, a história já nos diz quem morre o mais fraco. O mais forte, em nome da legítima defesa, nesse caso, mesmo ter passado sete décadas invadindo e tomando terras e território, abusando e violentando as pessoas, em nome da legítima defesa, faz reinar o genocídio do desprotegido povo palestino.

Impotentes diante do conflito entre palestinos e o Estado de Israel, resta-nos implorar para que se crie o Estado da Palestina e denunciar os genocidas Benjamin Netanyahu e seu governo, ajuntar-se a população israelense que se manifesta contra essa política de extermínio dos vizinhos.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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