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Não basta ser doutor...

Vanildo Luiz Zugno

Ter um doutorado é importante. Tão importante que até quem não tem faz questão de dizer que tem. E alguns, infelizmente, até mentem e inventam falsos diplomas para dizer que são doutores.

Deixando de lado estes casos bizarros, no mundo real e normal, o doutorado é importante por ser o ponto culminante do processo de educação. Ser doutor é demonstrar a capacidade de produzir conhecimento em benefício da sociedade. E, hoje, mais do que nunca, está provado que as nações só passam da pobreza ao bem estar através da produção de conhecimento. A China, o país que mais progrediu economicamente nas últimas décadas e lidera a economia mundial, ultrapassou os Estados Unidos e a União Europeia em número de doutores formados e pesquisadores em atividade.

Basear a atividade econômica na exportação de matérias primas, manufaturados e produtos agrícolas é aceitar um posto subalterno na economia mundial. Nenhum país saiu da situação de pobreza sem um maciço investimento em educação. Processo que abarca desde a pré-escola até o ensino superior. Alfabetizar com qualidade é importante. É a base. Mas não basta. É preciso mais.

A miséria da educação no Brasil tem uma razão muito simples: falta de investimento público. Dentre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), somos o que menos investe, per capita, no sistema educativo. Três dados mostram as consequências desta opção: o número de alunos em tempo integral nas escolas públicas baixou de 18 para 10% entre 2014 e 2018; o salário das professoras do Ensino Básico brasileiro está entre os mais baixos do mundo (em média, 10% do que ganha um professor europeu!); o ingresso no Ensino Superior continua estagnado em 18% dos jovens entre 18 e 24 anos, e só se mantém neste nível graças ao ensino à distância, de duvidosa qualidade.

Por que tanta desatenção com a educação? A resposta é simples: falta de sabedoria. No Brasil, acesso à educação é visto como luxo para poucos. É uma reserva para as elites que se auto reproduzem em seus guetos sociais e educacionais. Nos poucos momentos em que se ensaiou uma ruptura deste ciclo através de programas de inclusão educacional como o PROUNI, o FIES e o sistema de cotas, a reação da minoria privilegiado foi violenta e levou à ruptura e destruição dos processos educacionais em andamento e do próprio sistema democrático. Uma triste opção da qual toda a nação pagará as consequências no longo prazo.

Conhecimento é importante. Mas ele só é possível quando nos rendemos à sabedoria de Jesus. Em sua oração, ele louva o Pai que revela o seu saber aos pobres e pequeninos e o ocultou aos ricos e poderosos. Esta é a sabedoria de Jesus. Se não nos rendermos a ela, nunca haverá conhecimento, nunca haverá educação e nunca, como nação, sairemos da situação de pobreza econômica e miséria moral da qual a ostentação de títulos nunca alcançados é apenas uma deprimente manifestação.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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