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Manada ou ovelhas?

Vanildo Luiz Zugno

 

Aconteceu comigo há alguns meses. Voltava de uma atividade no interior. Parei na tenda em que sabia que havia um bom queijo. Havia uns quatro ou cinco carros estacionados. Desci, entrei na tenda e, para minha surpresa, não havia nenhum cliente. Saudei o rapaz que aí estava e, como era meu conhecido de longa data, perguntei: “Cadê todo o pessoal desses carros aí na frente?”

Do fundo da tenda saiu o pai, me saudou e disse com toda calma: “Os carros são nossos. A gente traz aí de manhã e deixa estacionado. Se não tem nenhum carro na frente, ninguém para. Se tem muito carro, todo mundo para!” Imagino que aquele senhor de quase sessenta anos, nascido na Região das Missões e com seu negócio instalado há dez anos no Vale do Caí, não tenha conhecimentos de sociologia e psicologia social. Mas ele, com seu saber prático, descreveu um dos fenômenos mais típicos de nossa época: o comportamento de manada.

A sociologia descreve o fenômeno como a atitude de indivíduos em grupo que, em uma situação de dúvida ou tensão, reagem todos da mesma forma, mesmo sem saber para onde suas ações conduzem. É o clássico “João vai com os outros”. Só que não é um só João. São muitos Joões e todos vão para o mesmo lado sem saber o que os encontrará pela frente!

Duas são as bases para este comportamento. A insegurança e a ignorância. Quanto mais fragilizado e menos informado um grupo, mais fácil de ser conduzido. E com isto já aponto para o outro lado da questão. Hoje, o comportamento de manada, é conhecido, estudado e aplicado de forma científica em muitos setores da sociedade.

Não é só o seu Helmuth que deixa os carros na frente da tenda para que todos vejam que a loja é bem frequentada. Nas propagandas, os supermercados estão cheios de gente feliz. Duplas sertanejas inflam seus shows para dizer que são mais populares. Pastores e padres reúnem multidões para mostrar que são eficientes intermediadores da graça de Deus. Políticos pagam robôs para multiplicar “likes”, comentários e compartilhamentos em redes sociais. E todos somos convidados a ser rebanho que caminha alegremente em direção ao matadouro.

Se queremos mudar o país e o mundo, precisamos deixar o comportamento de rebanho e voltar a ser ovelhas. A diferença é simples. Jesus já a assinalou. A ovelha conhece o pastor pela voz. E ele conhece cada ovelha e a chama pelo nome. O ladrão, esse foge de toda conversa e desvia o olhar das ovelhas, porque sua intenção não é cuidar, mas matar e roubar.

Ah! Seu Helmuth, da tenda de produtos coloniais do Vale do Caí, quando chego, sempre me chama pelo nome. É um bom pastor de compradores de queijo colonial. Abraços, seu Helmuth!

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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