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Madrugadas Olímpicas

Vanildo Luiz Zugno

As Olimpíadas de Tóquio terminaram. Jogos estranhos. Em meio à pandemia. Sem público. Sem torcida. Silenciosos. Tão silenciosos que podíamos ouvir o som dos golpes do boxeador no ringue, as passadas do atleta na pista, o suspiro da ginasta antes do salto final, o gemido do corredor de longa distância em seu esforço derradeiro para alcançar o pódio.

O congraçamento esperado, adiado e por fim realizado, se transformou em apreensão, medo, tensão. Os atletas foram testados em seus limites físicos. Deram o máximo de suas possibilidades corporais. E também das mentais. Diferente dos jogos anteriores, o desafio físico foi acompanhado pelo psicológico. Mesmo na elite mundial do esporte, alguns sucumbiram à tensão e desistiram da competição. Atletas não são super-heróis. São pessoas de carne, osso e sentimentos.

Em meio a tudo isso, os jogos de Tóquio foram generosos para o Brasil. Nunca o esporte nacional conquistou tantas medalhas. E em modalidades tão variadas. Coletivas e individuais. Novas e tradicionais. Com atletas fazendo subir ao pódio a imensa diversidade dos muitos brasis que somos. Brilharam atletas de ambos os sexos e de muitos gêneros não mais escondidos. Procedentes de todos os recantos e estratos desta imensa nação de muitas nacionalidades e imensas potencialidades. Nordestinos e sudestinos. Pampeanos e amazônidas. Cabeças chatas, redondas e quadradas. De todas as raças, de todas as cores, de todos os sabores e de todos os humores. Urbanos, suburbanos e interioranos. Sem medo de mostrar e dizer suas diversas identidades de um povo que quer, acima de tudo, a felicidade de brilhar e amar.

As noites insones de Tóquio mostraram que, apesar dos ventos contrários que por aqui sopram, o Brasil quer voltar a ser brasileiro. O Brasil com seus corpos atléticos que, diante do mundo, mantêm o bamboleio e sabem gingar, com suas cabeças livres que sabem pensar, capazes de tirar a mãe preta do cerrado e botar o Rei Congo no congado, o Preto Velho no tablado, nas pistas, quadras, ringues, ondas, piscinas, estádios, diante do mundo, sem medo de ser feliz, com ouro, prata ou bronze ou pelo simples orgulho de competir, de dizer “estamos aqui” e vamos comemorar.

Comemorar de muitos jeitos. Comemoração não tem uniforme. Comemoração tem coração. É coisa do coração. Tem silêncio, tem grito, tem soco no ar, tem choro avassalador, tem o olhar desafiador nascido da dor e dos muitos obstáculos superados até chegar a esse momento tão desejado e muitas vezes adiado. Um comemora sozinho, outro com os colegas, com o treinador e, sublimidade esportiva, festeja com o adversário derrotado ou com aquele que o venceu e passa a ser admirado sem ser invejado.

Alguns atletas já voltaram. Outros logo virão trazendo seus louros de bronze, prata e ouro. Já podemos voltar a dormir mais cedo e mais tarde levantar. E, bem descansados, continuar a pensar o país que somos, a nação que form

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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