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I Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe

Miguel Debiasi

Em toda sua história a Igreja precisou recorrer aos Concílios e Assembleias. Quando a fé em Cristo chegou aos povos de culturas diferentes da judaica, os apóstolos convocaram o primeiro Concílio de Jerusalém, para discernir os rumos da Igreja e de sua missão (Atos dos Apóstolos 15). A Igreja presente há quinhentos anos na América Latina, o Papa Francisco convocou em 2019 a I Assembleia Eclesial do continente. Este evento merece uma reflexão da parte dos cristãos. Sobre isto apresentamos quatro artigos. Este primeiro, descreve como foi a Assembleia e os três próximos discorrerem sobre as três palavras fortes da Assembleia: comunhão, participação e missão.

A I Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe aconteceu durante a pandemia da Covid-19, entre os dias 21 a 28 de novembro de 2021, em Guadalupe, México. Participaram de forma presencial 100 pessoas e mais de 900 pelas plataformas digitais. O processo de preparação da Assembleia ocorreu entre março e agosto de 2021 chamado – período de escuta – contou com a participação de 70 mil pessoas, por meio de grupos organizados pelas comunidades paroquiais e de forma individual. O número de participantes ficou abaixo do Sínodo da Amazônia de 2019, que contou com cerca de 80 mil pessoas. A etapa de preparação ou da escuta - ofereceu muitas dinâmicas para a participação do Povo de Deus, ao redor do tema: Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão. Métodos, dinâmicas, formas de participação, temáticas, tudo previa avançar no processo sinodal, ou do caminhar junto, como diz a palavra – sinodalidade.

A metodologia de preparação e de realização da I Assembleia Eclesial no continente é inovadora em todos os sentidos da sinodalidade. Pode-se dizer que a preparação e a Assembleia foram um evento aberto e ilimitado. Isto permitiu que a vivência da sinodalidade fosse muito além do que normalmente acontece num sínodo e conferências dos bispos. Nos sínodos dos bispos e nas Conferências Episcopais Gerais da América Latina, a participação é majoritariamente dos bispos. A etapa de preparação ou do período de escuta - contou com o critério de participação na seguinte proporcionalidade: 40% eram leigos e leigas; 20% eram bispos; 20% religiosos e religiosas; 20% presbíteros e diáconos. A proporcionalidade conferiu mais sinodalidade.

A metodologia aplicada e uso das tecnologias digitais, por regimes remotos ou online permitiu maior participação de representantes das comunidades eclesiais, movimentos, pastorais de lugares mais distantes e periféricos. Os limites do recurso tecnológicos ainda que fossem muitos, apontaram que são novos instrumentos e meios de assegurar uma maior presença do conjunto do povo de Deus na Assembleia. Por ser esta uma aplicação metodológica nova na Igreja, o processo de preparação e execução da Assembleia não envolveu um maior conjunto do povo católico. Os motivos da pouca participação dos católicos está na dificuldade de acesso aos recursos tecnológicos, a pouca motivação dos fiéis nas dioceses e nas paróquias.  

A Igreja em sua história ao recorrer aos Concílios e Assembleias, fez desses momentos forte de reflexão maior animação do povo de Deus e avançou no processo de evangelização. Por meio de debates sua história fica rica em fé, doutrina, tradição, de experiência de comunidade eclesial e cultural que são referências ao mundo de cada época histórica. Ao atravessar os milênios a Igreja, como instituição e comunidade de fé, deparou-se com suas limitações e foi desafiada a renovar-se à luz do Evangelho. Nas primeiras décadas do terceiro milênio a Igreja da América Latina, inserida num contexto social de grande pobreza, desigualdade social e de pluralidade religiosa sente-se impelida à luz do Evangelho a dar um passo mais significativo: construir uma comunidade cristã com práxis sinodal libertadora e transformadora.

O horizonte eclesial e pastoral que a I Assembleia Eclesial Latino-americana e caribenha abre a necessidade de atualizar a Igreja, aquela indicada pelo Concílio Vaticano II com força profética, alicerçada na mística evangélica. Sua atualização estaria alicerçada na tríplice experiência sinodal: comunhão, participação e missão. Na experiência e na força sinodal superar limitações humanas e indicar outros caminhos de evangelização, fazer dos velhos novos e suscitar vigor eclesial e pastoral na Igreja povo de Deus. Essa foi a interpelação profética do Papa Francisco ao convocar a I Assembleia Eclesial do continente, situando a Igreja da América Latina e do Caribe em sua natureza e dinâmica sinodal.

É cedo para emitir um juízo de valores sobre os resultados da iniciativa do Papa Francisco em fazer uma Assembleia Eclesial do continente latino-americano. Mas, obviamente, sua inspiração sinodal iluminará os futuros passos da Igreja, isto fica comprovado que a XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos de 2023, vai refletir sobre a sinodalidade. O tema da I Assembleia Eclesial: por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão, certamente, por décadas será tema em debate e em ação.

Comunhão, participação e missão não são termos novos na Igreja, mas desafiadores enquanto práxis, muito além da reflexão, tem-se a necessidade de fazer essa experiência no cotidiano na Igreja local, nas suas comunidades paroquiais, movimentos e grupos eclesiais. A sinodalidade só existe na prática. O espírito sinodal é uma experiência concreta. Cristo usou de toda sinodalidade para anunciar o Reino de Deus ao mundo ao convocar uma comunidade de discípulos e discípulas para ajudar nessa missão (Lucas 10,1-9).

O futuro melhor da Igreja imprescindivelmente passará pela experiência da sinodalidade. No cenário eclesial e pastoral atual, a sinodalidade vai implicar uma grande mudança da Igreja, por parte de todos, bispos, sacerdotes, diáconos e de leigos e leigas. Inspirados pela iniciativa profética do Papa Francisco em realizar de forma sinodal a I Assembleia Eclesial do continente latino-americano, abordaremos algumas reflexões para melhor compreensão do que implica sermos a Igreja sinodal. A reflexão que segue aborda o que implica na teoria e na prática os termos da comunhão, participação e da missão. 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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