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Bispos e padres perseguidos pelo governo

Miguel Debiasi

O Concílio Vaticano II, realizado de outubro de 1962 a dezembro de 1965, apontou o tríplice empenho da Igreja Católica: a melhor consciência de ser Igreja; o de ser uma comunidade cristã renovada; e de ser uma instituição aberta ao diálogo com o mundo moderno. É verdade que o caminho indicado pelo Concílio tem incomodado muitas pessoas, bispos e padres que precisaram repensar suas atividades pastorais. Porém, membros do clero coerentes ao proposto pelo Concílio estão sendo alvo de espionagem do governo Jair Bolsonaro.

Bispos, padres, religiosos, religiosas e lideranças leigas consideram altíssimo múnus o de reger a eclesiologia do Concílio Vaticano II. A tríplice atividade apontada pelo Concílio tem-se constituído a preocupação e a tarefa permanente da Igreja. A coerência ao indicado pelo Concílio está em comunhão com a origem, natureza, missão e rumo da Igreja. Na prática, dessa consciência esclarecida e ativa do ser Igreja nasce a fidelidade à palavra e a missão de Cristo. A Igreja fiel a Cristo pauta sua ação pastoral com profetismo e compromisso com o ser humano e com o mundo que o circunda.

O espírito do Concílio na Igreja Católica do Brasil não ficou apenas na teoria, mas manifestou-se na prática, no compromisso com o povo. A Igreja, mais perfeita no conceito e no desígnio de Deus conforme apontou o Vaticano II, fortaleceu relação e trabalho pelo povo. Dessa forma, toda reflexão teológica e toda ação pastoral da Igreja está inerente à realidade humana e ao seu contexto. Porque o anúncio do evangelho ajuíza à existência humana uma consciência do sentido da vida, valores morais, sociais, etc. Na prática, viver a fé em Cristo leva à libertação do ser humano da situação de morte. Nesta tarefa pastoral a Igreja Católica tem proposto debates e ações comunitárias em prol da vida das pessoas, sobretudo em favor dos abandonados pelo sistema capitalista.

Pode-se dizer que, na missão de viver o evangelho de Cristo, a Igreja Católica jamais ignorou a situação das pessoas, do povo brasileiro. Desse modo, bispos e padres jamais fecharam os olhos ou ficaram imóveis e indiferentes ao sofrimento do povo. Porém, a pobreza do povo levou a Igreja a assumir muitas atividades beneficentes, de promoção humana e social, bem como construir hospitais, escolas, centros de atendimento e profissionalizantes, postos de atendimento médico, psicológico, casas de recuperação das vítimas de doenças, epidemias sociais, etc. Sem dúvida a Igreja Católica do Brasil é a instituição que mais mantém hospitais, escolas, projetos populares e sociais em prol da melhoria do povo.

Contudo, agora todo trabalho da Igreja Católica está colocado sob a suspeita do Palácio do Planalto. Na visão do governo Jair Bolsonaro é preciso conter o trabalho e o avanço da Igreja Católica. Para tanto, o governo deliberou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), chefiada pelo general Augusto Heleno, espionasse bispos, padres. Na prática, a espionagem é perseguição ao trabalho da Igreja, dos bispos e padres. Ao perseguir bispos e padres o governo quer silenciar a Igreja para que não levante a voz e denuncie os problemas que afetam o povo brasileiro.

O presidente que não é católico e um político incapaz de dialogar e debater de forma pública os temas relevantes do povo, vale-se de órgão público da Abin para perseguir a Igreja e seu trabalho. Por sua vez, a atitude do governo Bolsonaro levou autoridades políticas, sociais e religiosas a repudiarem tal ato ditatorial. Diante da gravidade da ação o governador do Maranhão, Flávio Dino, criticou a postura do governo brasileiro, “estamos diante de um dos maiores escândalos deste começo de ano. Inaceitável a volta da doutrina da segurança nacional da ditadura". De resto, vale recordar o jargão usado por Jair Bolsonaro “Deus acima de tudo”, é pouco provável que ele saiba o que isto significa.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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