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Ajudar aos pobres ajuda a economia

Miguel Debiasi

 

A palavra economia está relacionada à ordem ou regularidade de algo, como de uma casa, uma cidade, um Estado, o mundo. Nos textos bíblicos e na teologia a palavra economia é usada para falar do plano de Deus que age em favor do ser humano. Quando empregada no sentido de ordenar um país é preciso perguntar-se: qual é a função primordial da economia? As respostas podem ser muitas, devido às visões diferentes.

A “economia” é um assunto amplo. Orígenes de Alexandria (185-254), um dos maiores teólogos e escritores do começo do cristianismo empregou o termo “Economia da Salvação” para falar da encarnação do Verbo, ou do Cristo Filho de Deus. São Paulo na epístola aos Efésios desenvolve a ideia que Cristo encarnado, morto e ressuscitado reúne sob a sua autoridade o mundo criado, que o pecado tinha corrompido e dissociado. Em Cristo o mundo dos homens, dos gentios e judeus, e até o mundo dos anjos é regenerado. Por Cristo chega-se ao Homem Novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade (Efésios 4,10-24). Para Orígenes e São Paulo a “Economia da Salvação” diz respeito à ordem das coisas e da vida humana à luz de Cristo, nada tem a ver com o dinheiro.

Para a teologia, a história será sempre o advento de Cristo, redentor universal e do reino messiânico. A “Economia da Salvação” é a ação de Deus em nosso mundo. É Deus atuando para fora de Si, na obra que Ele criou. É Deus que age em favor do ser humano, executa por obras e palavras a salvação humana. Para o nosso mundo onde tudo gira ao redor do motor chamado economia de mercado, a expressão “Economia da Salvação” soa como estranha. A expressão “Economia da Salvação” foi usada em toda a história da Igreja e da Teologia, primeiro com o teólogo Orígenes e, sobretudo a partir do século III, pelo teólogo Irineu de Lion, para falar da história da salvação que Deus em seu projeto de amor sonha e espera construir com a Humanidade que é a sua casa.

Na filosofia a economia diz respeito às totalidades finitas, a melhor ordem e regularidade é a que produz o resultado máximo com o esforço mínimo. A lei do menor esforço foi entendida, na história da filosofia, como o princípio da economia. Esse princípio, como regra metodológica, não deve ser confundido com o princípio da ação mínima. Pode-se dizer que o princípio da economia foi formulado pela primeira vez na filosofia por Guilherme Ockham, frade franciscano inglês do século XIV. Mais tarde Immanuel Kant (1724-1904), filósofo prussiano, refere-se ao princípio do resultado máximo com o esforço mínimo, como exigência de buscar na natureza a máxima unidade e simplicidade. A existência dessa unidade na natureza é pressuposta pelos filósofos como orientativa, segundo o qual o princípio não deve ser multiplicado sem necessidade. A economia precisa ser pensada dentro de uma racionalidade sem gerar desequilíbrio à natureza na sua totalidade.

A palavra economia vem da junção de duas palavras gregas: oikos, que significa casa e nomia que se refere à lei. Literalmente, economia, quer dizer a Lei da Casa, propriamente, como se gere, se cuida e se leva avante uma casa, um patrimônio e outro. A Economia Política, como ciência, está relacionada em geral à técnica de enfrentar as situações de escassez. Por situações de escassez são entendidas as situações que para realizar um objetivo como gerir uma casa, uma cidade, um Estado, uma nação, é preciso de condições de tempo, meios limitados e passíveis de bom uso. O meio para enfrentar as situações de escassez tem sempre em vista a maior satisfação possível da casa, da cidade, do Estado e do mundo e que permitam o comportamento racional do homem, dos gestores e outros.

Foi com base nessas teorias que a economia surgiu e se constituiu no mundo moderno. Adam Smith (1723-1790), economista e filósofo social do iluminismo escocês é considerado o pai da Economia Moderna. Segundo este pensador, existe uma ordem harmoniosa e benéfica das coisas, que se manifesta sempre na natureza e fica entregue a si mesma. As instituições humanas muitas vezes alteraram e perturbaram a ordem natural, mas esta pode ser encontrada sob as superestruturas históricas que a ocultam. Na gestão da economia, é preciso descobrir as leis determinantes dessa ordem e prescrever os meios pelos quais ela pode ser integralmente realizada nas sociedades humanas.

O megainvestidor alemão-americano Mark Mobius diz que será preciso o mercado investir nos mais pobres, isto fará bem à economia. A boa notícia que se pode esperar de um governo é a ênfase dada aos pobres, que será muito bom para a economia. O governo que coloca dinheiro nas mãos dos pobres, portanto, de muitas pessoas, promove o crescimento econômico.

Respondendo à pergunta inicial, a função primordial da economia para o país é gerir bem ou administrar em benefício da nação brasileira e do crescimento do patrimônio nacional. Como pensa a filosofia, o princípio da economia está em enfrentar as situações de escassez, que hoje são muitas no país. Ao gerenciar de forma correta as economias de um país, pode haver crescimento econômico, evolução social, desenvolvimento humano, acesso à educação e outros benefícios.

Quando isto acontecer em nosso país e no mundo, os teólogos, os santos Padres da Igreja e a Teologia terão justificado corretamente o termo “Economia da Salvação”. Pois Deus deseja que toda gestão humana da história construa sua Humanidade, aquela que vive o amor redentor, a exemplo de seu Filho Jesus Cristo. A correta condução da economia de um país é administrar, zelar pela ordem do estado brasileiro, regularizando a vida social dos cidadãos, primeiramente ajudando aos pobres a saírem da situação de indigência, trazendo benefícios a todos, a nação e a humanidade inteira. A economia foi criada para essa função. 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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