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A seguridade da vida temporal

Miguel Debiasi

 

Para um cristão a observância dos mandamentos de Deus são um caminho para ganhar a vida temporal e a eterna. De certa forma, quem respeita os mandamentos se entrega a providência de Deus. A providência de Deus é um caminho que o crente precisa percorrer com sabedoria da fé. Isto significa que acreditar em Deus é colaborar com sua obra pela sabedoria humana e da fé.

No caminho ao território da Judeia muitas pessoas se aproximavam de Jesus para receber sua ajuda e ensinamentos. Um moço que era possuidor de muitos bens materiais se aproximou de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna? Jesus responde: Se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos. O moço tendo observado os mandamentos desde sua infância lhe dirige uma nova pergunta: que me falta ainda? Nisto Jesus indica-lhe o caminho para a perfeição, vai vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Com esta radical ação o moço ganharia a Vida eterna. Mas o diálogo entre Jesus e o moço possuidor de bens materiais tem um desfecho inesperado: o moço, saiu pesaroso, isto é, muito triste (Mateus 19,16-22). Apesar de Jesus apenas ter acrescentado algo a mais na vida do moço fiel observante da lei religiosa, dar os bens aos pobres para segui-lo.

Algumas interpretações deste fato são claras para um cristão. Primeiro, os mandamentos são uma orientação e um caminho para que todo o cristão realize as boas obras. A observância dos mandamentos são um caminho, pelo qual o cristão conquista a vida temporal e a eterna. Segundo, Jesus diz ao moço que a Vida inicia neste mundo e atinge sua perfeição nos céus, pela ressurreição dos mortos. A Vida dos céus implica em desapego de tudo o quanto prende o ser humano na vida temporal. Terceiro, a perfeição da Vida que Jesus propõe ao moço fiel a Lei do Senhor se trata de uma nova economia, de uma reserva para o futuro que sobrepuja a observância dos mandamentos. Os cristãos são chamados a observância dos mandamentos, mas a nova economia se faz pela atitude de livre colaboração com a missão de Jesus, libertando o ser humano. A nova economia se conquista pelo seguimento diário e pelo compromisso com o Reino de Deus, instaurado e anunciado por Jesus. Quarto, esta escolha precisa ser livre e isto só acontece com renúncia radical às preocupações da família, riqueza e obras humanas.

O moço que se aproximou de Jesus tinha como preocupação ganhar a Vida e na orientação do bom Mestre percebeu aquilo que ainda lhe impossibilitava realizar sua conquista. Ele percebeu o tamanho de sua impossibilidade pelo demasiado apego a riqueza, as coisas da terra. Seu retorno pesaroso foi porque sua vida temporal não lhe favorecia a busca da Vida eterna, as coisas dos céus lhe exigiam a opção pela nova economia, do seguimento ao Mestre. E, crer em Jesus não é desprezar a vida temporal, mas esta precisa de condições dignas para ser realizada como sinal e vida do Reino de Deus (João 10,10). Obviamente, todo ser humano precisa ter uma vida temporal digna e sabedoria para conduzi-la, os mandamentos são um caminho para esta conquista.

O ex-ministro do Trabalho e Emprego e da Previdência Social, Luiz Marinho, disse que o governo Bolsonaro trabalha para criar o caos, para justificar a venda da Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social). A Dataprev é uma empresa pública estatal que realiza todo o desenvolvimento de soluções de Tecnologia da Informação e Comunicação para todos os programas sociais do país, que atendem os 211 milhões de cidadãos. Com Tecnologia, Informação e Comunicação a Dataprev levou o serviço da Previdência Social ao estado de excelência. O desmonte da Dataprev pelo governo federal chega a ser um ato de crueldade contra os trabalhadores brasileiros. Hoje, há um grande número de contribuintes que aguardam a liberação de suas aposentadorias e as agências do INSS estão sendo sucateadas na sua estrutura e na redução de servidores públicos. O governo Bolsonaro tem como objetivo provocar um caos social, para privatizar o INSS. Sabe-se, em contrapartida, que a seguridade social é vida para todo brasileiro, um direito inalienável.

A maldade contra o serviço público é perceptível e proposital. Outro desmonte é do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), reconhecido mundialmente como excelente órgão público. Veja-se que o próprio censo realizado a cada dez anos que deveria ocorrer em 2020 acontece em 2021, e contra a vontade do governo federal por decisão do Supremo Tribunal Federal. Ademais, o censo será realizado em 2021 por uma ação na Justiça movida pelo Governo do Maranhão em que o ministro Marco Aurélio Mello em foi relator da ação dando seu aval favorável ao reclamante. Dataprev e IBGE são empresas estatais de suma relevância, órgão públicos que desenvolvem serviços excelentes e oferecem as mais precisas informações sobre a vida e a realidade dos 211 milhões de brasileiros. São órgãos públicos que trabalham para a seguridade da vida temporal, condição que o moço pesaroso tinha conquistado e desejava uma outra conquista maior ainda, da Vida eterna. Saiba, o cristão que a eternidade começa com a vida digna neste mundo.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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