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A mãe do Dia das Mães

Vanildo Luiz Zugno

Anna Jarvis. Assim se chamava ela. É a mãe do Dia das Mães. Ela nasceu no dia 1º de Maio de 1864, na pequena cidade de Webster, na Virgínia Ocidental, Estados Unidos. Era filha de Ann Reeves, uma piedosa senhora que teve treze filhos, dos quais somente quatro chegaram à idade adulta. Durante a guerra civil americana (1861-1865), Ann dedicou-se a cuidar dos soldados feridos, tanto os do Exército Confederado como os do Exército da União. Além de cuidar de suas feridas e reconectá-los com suas famílias, ela criava situações para que os feridos de ambos os lados se encontrassem, se conhecessem e se reconciliassem.

Não foi esse o primeiro trabalho humanitário da Senhora Jarvis. Antes da guerra, ela organizava as mulheres de sua comunidade para melhorar as condições sanitárias do local em que viviam. Findo o conflito, ela continuou seu trabalho para que as mães tivessem melhores condições de vida e a família se tornasse um espaço de proteção e cuidado.

Em 1870, outra mulher propôs a criação de um “Dia das Mães pela Paz”. Assim como outras tantas mães traumatizadas pela experiência da guerra, a poetisa, abolicionista e feminista Julia Ward Howe (1819-1910), queria que fosse reconhecido o direito sagrado de as mães protegerem a vida de seus filhos e que jamais voltassem a ser trucidados em guerras para defender interesses que lhes eram alheios.

As décadas passaram e, no segundo domingo do mês de maio de 1905, Ann Reeves faleceu. Para sua filha Anna, o choque foi terrível. Entrou em depressão. Para tentar aliviá-la, suas amigas passaram a encontrar-se regularmente com ela para lembrar a mãe falecida. Em 1907, no segundo domingo de maio, na Igreja Metodista de Grafton, Anna organizou um serviço religioso para lembrar os dois anos da morte da mãe. No ano seguinte, no mesmo segundo domingo de maio, o culto foi realizado na importante cidade de Filadélfia, no Estado da Pensilvânia. Na ocasião, Anna distribuiu entre as mães e filhos presentes um cravo branco. Em 1910, a data foi oficializada como dia feriado no Estado da Virgínia Ocidental e os cravos brancos se tornaram o símbolo do evento. A partir de então, Anna dedicou todo seu tempo, energia e dinheiro para que o “Dia das Mães” tivesse reconhecimento nacional. Tal aconteceu em 1814. Rapidamente, a data ganhou adesão em vários países. No Brasil foi celebrada pela primeira vez em 1918, em Porto Alegre, na Associação Cristã de Moços Católicos. Em 1932, Getúlio Vargas incluiu a data no calendário oficial brasileiro.

Assim como os filhos que uma mãe gera, Anna Jarvis não sabia o que seria de seu rebento. E o rumo que a festa do Dia das Mães tomou foi bem diferente do pensado por sua genitora. A popularidade da data despertou a cobiça dos industriais e comerciantes que logo fizeram do comércio de flores, cartões e presentes um negócio lucrativo que substituiu o ideal de humanização e respeito pela maternidade.

“Não criei o dia das mães para ter lucro”, foi a resposta que Anna deu a um repórter quando este lhe perguntou se estava feliz ao ver a data tão festejada. Sua indignação foi ao extremo quando o Dia das Mães passou a ser utilizada pela campanha belicista que tomou conta dos Estados Unidos na década de 1930. As “Mães para a Paz” sonhado por Júlia Ward Howe, foi transformado em “Mães Americanas pela Guerra”.

Juntamente com sua irmã Ellsinore, Anna lutou de todas as formas e com todos os recursos para que a data retomasse sua intenção original. Sua batalha foi inútil. O mercado é implacável e tudo transforma em mercadoria, até a mais belas intenções e, se permitirmos, até as próprias mães. Anna terminou seus dias em 24 de novembro de 1948, pobre, endividada, internada como louca num asilo para idosos.

Hoje, o Dia das Mães é a segunda data que “mais vende”. Diante do fato, convém lembrar uma frase da sua criadora em sua luta contra a comercialização do sentimento materno e filial: Um cartão impresso não significa nada mais que você é muito preguiçoso para escrever para a mulher que fez mais por você que qualquer outra pessoa no mundo. E tortas! Você leva uma caixa para a Mãe - e então come tudo você mesmo. Um belo sentimento!

Neste Dia das Mães, pensemos na mãe do Dia das Mães. Siga o conselho dela. Seja um bom filho. Não dê um presente. Dê um abraço, diga seu obrigado, permaneça ao lado de sua mãe o tempo que ela desejar. E, se ela já partiu para sempre, tenha-a no silêncio do seu coração e abrace a mãe mais próxima. Há muitas que, como Anna Jarvis, não teve filhos ou não os tem por perto. Neste Dia das Mães, seja para ela um filho. O filho que ela desejou.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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