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A corrupção começa em casa

Miguel Debiasi

 

Os brasileiros iniciam 2021 sabendo que será um ano difícil. Desemprego, pandemia, recessão econômica, privatizações, precarização dos serviços públicos, reformas trabalhistas e sociais são alguns dos indicativos. O fortalecimento da ala conservadora do congresso nacional e de políticos financiados pelos grandes grupos econômicos e seitas religiosas tende a piorar a situação dos brasileiros. Na esfera pública e privada a corrupção tem-se fortalecido nos últimos quatro anos. O ano inicia com uma realidade desfavorável ao povo e a favor das elites brasileiras.  

Neste cenário nacional nem o maior otimista poderia afirmar que 2021 será um ano bom para brasileiros. Obviamente, não podemos ser ingênuos, desconsiderar a história, para os bilionários, latifundiários, banqueiros e grandes grupos econômicos o ano será de grande vantagem. Para estes nem a recessão econômica traz prejuízos e seus ganhos continuam a crescer de forma exorbitante. Em qualquer situação, o governo intervém sempre em favor destes, da economia de poucos. A prática de submissão da política a economia, perpetua a exploração da classe operária.

O filósofo e professor estadunidense John Rawls diz que do ponto de vista da teoria da justiça é um dever promover as instituições justas por duas razões. A primeira razão, subpõe-se que toda instituição justa existe e obedece as normas da justiça. A segunda razão, todo cidadão deve cooperar com as organizações justas, pois, estas oferecem um benefício pessoal e comunitário. As instituições e pessoas justas se autopromovem e beneficiam a sociedade como um todo. Desta compreensão, a justiça é um princípio ético a zelar pelo bem-estar coletivo. Em contrapartida, a injustiça é incompatível com as instituições públicas, com o papel das lideranças governamentais e dos cidadãos.

O presidente da república tem dito seguidamente que seu governo acabou com a corrupção, enquanto o Ministério Público investiga o clã Bolsonaro por supostas irregularidades como: a instalação de um sistema de rachadinhas pelos seus filhos na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro; compra de propriedade sem declaração de patrimônio a Receita Federal; depósito de consideráveis valores por terceiros na conta bancária da primeira dama Michelle Bolsonaro; contratação de familiares e funcionários e assessores fantasmas na Assembleia Legislativa do Rio, como do senhor Fabrício Queiroz; prática ilícita do advogado do presidente da república senhor Frederick Wassef pagando contas a família Bolsonaro; envolvimento da família Bolsonaro com os milicianos e outras acusações. Seria uma lapso esquecer do vice-líder do governo Bolsonaro senador Chico Rodrigues (DEM-RR) flagrado pela Polícia Federal com elevada quantia de dinheiro nas nádegas e outra escondida em seu apartamento. Segundo a Policia Federal, desvio de dinheiro público que foi destinado ao enfrentamento e ao combate da pandemia.

Tudo começa em casa, os bons costumes, inclusive a corrupção. O presidente dizer que em seu governo acabou a corrupção é pregar seu autoextermínio. Parece-nos que o degrau que separa a honestidade da mentira e a justiça da injustiça não é muito elevado para o clã Bolsonaro. A cada dia que passa vê-se um governo envolvido em corrupção por círculos mais íntimos de seu transitório, onde oferece todo tipo de barganha e privilégio as elites da sociedade capitalista. No dizer do filósofo alemão Hegel a “esperança é sempre do escravo um dia virar senhor”, diga-se de algo pouco provável de acontecer no Brasil. Por um lado, os senhores são sempre mais senhores, ainda que em menores números. Por outro, os escravos são sempre mais escravos, por sua vez, mais numerosos. Por muitas situações, o ano de 2021 inicia mal para os brasileiros. Infelizmente, como diz a sabedoria popular o que “começa torto ...”, já sabemos do seu final.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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