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A bolsa ou a vida

Vanildo Luiz Zugno

 

Segundo a Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, “economia é o conjunto de atividades desenvolvidas pelos homens visando a produção, distribuição e o consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e à qualidade de vida”.

Uma bela definição a ser lembrada nestes tempos em que, segundo alguns, o distanciamento social, que ajuda a salvar vidas no contexto da Covid19, levaria à ruína da economia. Mas, nos perguntamos nós: que economia é essa que se opõe à sobrevivência e à qualidade de vida das pessoas?

Afinal, vale a pena produzir, distribuir e consumir bens e serviços se toda esta atividade não tem como objetivo maior salvar pessoas? Pode existir uma economia desvinculada da vida humana? Que economia é essa que não se importa com a vida dos homens e mulheres que produzem, distribuem e consomem bens e serviços?

Na Encíclica Laudato Sì, publicada lá se vão já cinco anos, o Papa Francisco chamava a atenção para o grande perigo de uma economia desvinculada das reais necessidades humanas. Segundo o Papa, quando a economia já não é pensada como a arte de suprir as demandas da sobrevivência e da qualidade de vida, cai-se num “vale tudo” em que a exploração dos trabalhadores e trabalhadoras, o trabalho escravo, o tráfico de órgãos e de pessoas, o comércio sexual de mulheres e crianças, o abandono dos idosos e a depredação do meio ambiente, são justificados como necessários para que a economia continue funcionando e dando lucros. Dá lucro? Então pode... parece ser o mote de alguns economistas.

Segundo o Papa Francisco, a hegemonia do sistema financeiro sobre a economia real é o sintoma mais claro da desvirtuação da economia. Segundo ele, “a finança sufoca a economia real”. Não é apenas uma frase bonita. Ela expressa o mundo concreto em que vivemos. Na medida em que as medidas de isolamento social são levantadas e, em consequência, o número de mortos pela Covid19 explode, a Bolsa de Valores retoma seu viés de alta.

Para dar vida à Bolsa de Valores, é necessário dar morte a milhares de brasileiros e brasileiras. Tal qual Baal, o sistema financeiro exige o sacrifício de vidas humanas. É um sistema idolátrico que se nutre do sangue das pessoas. E, no caso da pandemia que estamos vivendo, exige o sacrifício das pessoas mais frágeis da sociedade, os idosos e doentes.

Já dizia Jesus em sua crítica aos fariseus: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro!” Quando o lucro é colocado acima da vida, já não há lugar para o verdadeiro Deus. A religião se torna ideologia e a economia se transforma em uma máquina de morte que devora, primeiro os mais fracos, e depois aqueles e aquelas que pensavam dominá-la.

Palavras que precisam ser lembradas antes que nos tornemos todos vítimas. Alguns da Covid19. Outros, da ganância cega, surda e muda diante da vida que clama.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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