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Carta de uma mãe que perdeu a filha para a Covid-19

por Eduardo Cover Godinho

Júlia Carolina Ortiz, 21 anos, foi vítima de Covid-19

Juliana (E) foi a mais jovem guaporense a perder a vida em decorrência da doença
Foto: Divulgação

“Quando acordei me veio a triste lembrança que hoje seria o começo de uma batalha contra a saudade, depois de uma noite longa e um dia triste... comecei a escrever sobre a tragédia que nos abateu.

Falaram que o dia de sua partida foi triste e cinzento. E realmente foi assim para muitas pessoas. Porém, para mim, foi apenas o primeiro dia triste e cinzento dos tantos que virão sem a luz de tua presença física.

De repente a vida roubou de mim o bem mais precioso: minha filha. Não é possível descrever a dor de poder gerar uma vida, mas não poder fazer nada para mantê-la conosco diante do que aconteceu. Me senti completamente impotente, perdendo você para uma doença que muitos ainda negam ou minimizam.

Se há algum conforto em meus pensamentos hoje, é saber que seus 21 anos foram vividos intensamente! Amou muito, muito, e muitas vezes foi decepcionada. Talvez esse tenha sido um dos motivos, emocionalmente, dessa doença chegar e te carregar com ela.

Éramos mais que mãe e filha, éramos amigas e confidentes e sua dor também doía em mim, mesmo que nem uma palavra fosse dita, eu sabia quando você não estava bem.

Mas no dia da sua despedida desse plano, minha princesa, tudo que senti foi amor! O amor de seus amigos, que são tantos e tão sinceros, seus colegas, seus familiares, toda a cidade chorou por você. Foram tantas as homenagens que não terei condições de agradecer a cada um. Por isso tomei coragem e estou aqui.

Sei que você sabia que sempre nos orgulhou! Uma filha dedicada, apaixonada pelo seu trabalho, responsável, afetuosa e que muitas vezes invertia o papel, e cuidava de mim. Insistia para eu parar de trabalhar, e eu afirmava que trabalhava para te dar tudo o que nunca tive. Me privei de muitas coisas, de ter outros filhos, para me dar a você sempre por inteira. Dona de todo meu amor!

E agora como entrar no seu apartamento? Tocar em suas coisas, abraçar seus bichinhos que tanto amava: o Téo, Jobson, Piti e o Lucky. De onde tirarei forças? Há uma dor que queima meu peito e talvez olhar para o céu em busca da mais brilhante estrela, conforte meu coração. Eu acredito que aqui você brilhava tanto que muitas vezes ofuscava! Talvez por isso Deus tenha te chamado para com sua luz, iluminar o infinito. Quem te conheceu afirma ter tido o privilégio de conviver com um ser de luz!

Não sei como atravessar as manhãs sem sua ligação, sem ouvir sua voz dizer: mãe, te amo!

Não sei como encontrar forças para seguir. Deus sabe de sua vontade de lutar pela vida. Foram duas paradas cardíacas e você lutando. Mas o coração também tem seus limites e infelizmente, a última batida aconteceu. Você nos deixou.

Rezei para que Deus me levasse em seu lugar, que sua dor doesse em mim, mas não fui atendida. Por isso quero muito acreditar que Ele reserva o melhor lugar para os mais puros anjos que envia para a Terra em missões curtas, mas que deixam marcas eternas.

E os mais corajosos têm as cruzes mais pesadas para carregar. Carregarei a minha até nosso reencontro, meu anjo lindo. Serei a mãe que você merece: forte e com esperança. Para te orgulhar, até que possamos nos abraçar novamente. Te amo além da vida. E estou aqui, pra você!

Da sua mãe Juliane".

Júlia Carolina Ortiz, 21 anos, foi vítima de Covid-19.

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