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Subsídios Exegéticos para a Liturgia Dominical 06 de setembro

por João Carlos Romanini

23º Domingo do Tempo Comum

Foto: Divulgação

Dia: 06/09/2020

 

23º Domingo do Tempo Comum

Evangelho: Mt 18,15-20

Primeira Leitura: Ez 33,7-9

Segunda Leitura: Rm 13,8-10

Salmo: Sl 93,1-2.6-7.8-9

                       

Evangelho

No evangelho de Mateus, Jesus faz cinco grandes discursos. Neles, o evangelista apresenta um plano de ação pastoral. São as “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora” da Igreja de Mateus. O trecho do evangelho de hoje faz parte do quarto discurso, que tem como grande tema “A comunidade fraterna”. O evangelista mostra que a vivência em comunidade só será bem-sucedida se houver correção fraterna e o perdão.

Os versículos lidos nesta liturgia apresentam uma questão bem concreta: O que fazer quando acontecerem ofensas pessoais entre os irmãos?

O caminho que Jesus propõe não é apenas de correção, mas também de reconciliação. Por isso, são vários os passos e as estratégias pastorais.

A primeira atitude a ser tomada, descrita no v. 15, é uma conversa privada, cuja iniciativa é da pessoa ofendida: se teu irmão pecar contra ti. Neste caso, a ação de quem sofreu a ofensa é a mesma do pastor, descrita imediatamente antes, nos vv. 10-14: procurar a ovelha que se havia perdido.

A segunda atitude é apresentada no v. 16: se o encontro a sós não surtiu efeito, a parte interessada na reconciliação e na recuperação deve envolver outros irmãos no processo: se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas. O princípio legal de chamar testemunhas está formulado em Dt 19,15: Uma só testemunha não basta ... A acusação só é válida quando for feita por duas ou três testemunhas.

Se também esta atitude não surtir o efeito desejado, o passo seguinte é apresentado no v.17a: Se não quiser escutá-las, dize-o à Igreja. O sentido primeiro do termo grego ekklesía é “assembleia reunida para fins políticos”. Ao apropriar-se deste termo originalmente laico, os cristãos reconhecem que a sua comunidade não é apenas uma reunião de culto e de devoção; é também um encontro em que se assumem opções com consequências na vida política, social e cultural. Em outras palavras, a Igreja não é um mundo à parte e isolado do que acontece ao seu redor.

Mas, pode acontecer de o irmão corrigido preferir continuar no erro. O último passo, apresentado no v. 17b, tem um aspecto radical: Mas, se também não quiser escutar a Igreja, será para ti como o pagão e o coletor de impostos.

Normalmente, esta palavra de Jesus é interpretada como excomunhão: Jesus estaria dizendo que é para expulsar da comunidade o irmão pecador teimoso. Mesmo que fosse isso, não se deve confundir a expulsão da comunidade com o conceito atual de excomunhão, uma punição extrema na Igreja Católica. Ocorre, porém, que o texto de Mateus não tem nada a ver com excomunhão.

“Tratar como pagão e coletor de impostos” não significa banir alguém da comunidade, mas sim considerar aquela pessoa como alguém que necessita de uma atenção redobrada, como alguém que ainda não pertence a comunidade e que exigirá dos irmãos maior atenção e paciência. Não se trata, portanto, de excomunhão, mas sim missão: os membros da Igreja são chamados a se empenhar para restaurar e formar aquele irmão.

A experiência da paternidade comum de Deus revela-se na missão de Jesus que acolhe os pecadores, eliminando as barreiras hipócritas criadas no ambiente religioso. Ele fundou, na nova comunidade, uma experiência de fraternidade que ocorre em relações de misericórdia e aceitação mútuas. O perdão inicial de Deus deve continuar e expandir-se na experiência humana e eclesial. Quando nos falta a capacidade de reproduzir essa lógica da misericórdia no relacionamento intereclesial, fechamo-nos à experiência do perdão definitivo e escatológico de Deus. A misericórdia entre irmãos torna-se, assim, um momento de verificação da experiência de fé dos discípulos que experimentaram autenticamente a paternidade de Deus.

Relacionando com os outros textos Ezequiel 33,7-9

Ezequiel foi um profeta que atuou na Babilônia, durante o tempo do exílio dos judeus naquela terra. Ezequiel era um sacerdote do templo de Jerusalém, mas foi deportado para a Babilônia em 597 a.C., quando os exércitos de Nabucodonosor invadiram Jerusalém.

Chamado para ser profeta no exílio, Ezequiel torna-se agora também a “sentinela da palavra de Deus”. O profeta quer evitar o pior, isto é, que o povo esqueça a palavra de Deus. Por isso, assume a função da sentinela: prevenir, dar o alarme, explicar o que está acontecendo. O profeta, portanto, não é um adivinho; na verdade, ele lê e interpreta os acontecimentos, a fim de anunciar a palavra do Senhor. E a tragédia nacional faz Ezequiel compreender que a palavra do Senhor para o povo exilado é uma palavra de salvação.

A imagem da “sentinela” evoca a urgência e o perigo do momento. O profeta aparece nos momentos mais difíceis mais dramáticos. Ele não faz previsões no “achismo”: ele interpreta os acontecimentos à luz da Palavra que recebeu de Deus e nesse confronto enxerga os caminhos que o povo deve seguir para ter vida e esperança. 

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

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