Supersafra de soja e vacinação são tidas como essenciais para recuperação da economia gaúcha
Após o sinal positivo de continuidade na recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado no primeiro trimestre de 2021, com alta de 4% em relação ao período anterior, a expectativa para o segundo trimestre recai sobre o impacto da supersafra de soja na economia. A contribuição da agropecuária no período, o de maior relevância das atividades do campo, puxa as projeções positivas para o próximo período que constam no Boletim de Conjuntura do Rio Grande do Sul, divulgado nesta terça-feira (29). Por outro lado, a evolução da pandemia e da vacinação, essencial especialmente para o desempenho de atividades ligadas ao comércio de bens e serviços, segue no radar de preocupações.
Elaborado pelos pesquisadores Fernando Cruz, Martinho Lazzari, Tomás Torezani e Vanessa Sulzbach, do Departamento de Economia e Estatística (Dee), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), o documento indica também um cenário dúbio para a indústria de transformação, a mais representativa indústria do Estado. Com os dados do Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI-RS) em recuperação em abril e maio após as quedas registradas no primeiro trimestre, o setor enfrenta agora a parada na produção de um importante fabricante de automóveis em função de problemas na oferta de semicondutores, o que deve limitar o desempenho da atividade nos próximos meses.
“As perspectivas para o desempenho da economia do Rio Grande do Sul continuam mistas. Enquanto a agropecuária promete uma injeção significativa de recursos, os setores do comércio e de serviços ainda transitam num cenário frágil, caracterizado positivamente pela retomada nos pagamentos do auxílio emergencial, mas com a intenção de consumo das famílias ainda em nível negativo", afirma Vanessa, coordenadora do estudo.
Cenário internacional
Apesar dos avanços desiguais na atividade econômica no mundo, com maior destaque para as economias dos países desenvolvidos e a China, o avanço dos investimentos e a recuperação do comércio, em especial na Ásia, têm contribuído para a manutenção dos preços das commodities em patamares elevados. Beneficiado historicamente pela alta das commodities agrícolas, o Rio Grande do Sul pode tirar vantagem do cenário, porém a recuperação levanta desafios relacionados a gargalos de fornecimento e logística, destaca o boletim do DEE/SPGG.
No patamar externo, os riscos de mais ondas da pandemia do coronavírus, decorrentes das novas cepas identificadas, podem colocar em xeque o ritmo de recuperação visto até agora. Para 2021, a expectativa de órgãos como Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de que a economia global cresça entre 5,6 e 6%, o maior ritmo de recuperação de um período pós-recessão em 80 anos.
Cenários brasileiro e local
Assim como no Rio Grande do Sul, no Brasil a taxa de crescimento do PIB no primeiro trimestre também mostrou recuperação, puxada pelas atividades da agropecuária e da indústria extrativa, as mais demandadas pelo comércio exterior, e o indicador retomou o patamar pré-pandemia. No entanto, o boletim do DEE/SPGG registra um próximo período de perspectivas mistas: enquanto nos serviços e no comércio os indicadores mensais seguem apontando para uma recuperação, ainda que lenta, a produção industrial apresentou em abril o terceiro mês de queda consecutiva.
Somado a isso, a alta da inflação oficial (IPCA), que em maio, no acumulado de 12 meses, chegou a 8,1%, não deve sair do radar nos próximos meses. "O problema de oferta em alguns setores, com elevação dos preços industriais, o alto preço das commodities e a própria recuperação da atividade econômica, levaram a inflação a um patamar acima da banda superior da meta do Banco Central, que é de 5,25% ao ano", explica Vanessa.
Quanto ao cenário local, além do desempenho positivo na agropecuária, o Boletim mostra indicativos de desaceleração da indústria, que sofreu com novas restrições sanitárias em função da pandemia no primeiro trimestre, e estabilidade no setor de serviços, impactado pela redução do auxílio emergencial. Apesar do retorno em abril do apoio financeiro às famílias, o setor segue sem retornar aos níveis pré-pandemia.
Fonte: Governo do Rio Grande do Sul
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